Por Erick Bernardes
Ela se chama Ana Carolina Mota Machado, ou Ana Machado, conforme é mais conhecida no panorama artístico e cultural fluminense e carioca. Nascida em Niterói, especificamente no Fonseca, e com 26 anos, já não é de agora que Ana se destaca nos municípios: São Gonçalo, Niterói e adjacências, pelo trabalho de promoção da arte e da cultura, onde quer que haja espaço para isso.
Apaixonada pela cidade de São Gonçalo, lugar onde frequenta e mantém inúmeras amizades, ela faz questão de demonstrar esse carinho para com os gonçalenses. Ao segredar sobre suas perspectivas futuras, a jovem ecoa a frase de William Shakespeare, para quem “o futuro tem o costume de cair em meio ao vão”. Planos? Claro que tem, confidencia, contudo, são projetos mais próximos do presente, pois considera mais palpáveis e em vias de realizar. Falou ainda de algumas perspectivas voltadas majoritariamente para a cultura e a educação, como sempre tem feito, e não se arrepende. Mais adiante, Ana (que é professora de História) pretende lecionar academicamente.
Uma das perguntas acerca do trabalho que vem realizando revela, já no começo da entrevista, o grau de altruísmo com que a ativista encara a vida. Pergunto: Ana, além do trabalho de promoção de feiras, saraus, palestras culturais, dentre outras atividades, gostaríamos de saber mais sobre o seu trabalho na Biblioteca Parque de Niterói?
O meu trabalho na Biblioteca Parque de Niterói se deu em meados de 2016, através da Fundação de Artes de Niterói, quando percebi algumas faltas na biblioteca, pois é a única da cidade que não é da Rede de Educação. Tudo bem que já foi estadual, mas com a crise as bibliotecas estaduais foram fechando, e o prefeito de Niterói Rodrigo Neves resolveu municipalizar a biblioteca. Embora mesmo sem municipalizar decidiu ajudar o espaço com as contas. Hoje, não há só biblioteca lá, mas um centro cultural bem legal. Por isso tem atividades. Aliás, o conceito “parque” vem dessa integração das atividades: projeções de filmes, rodas de debate, oficinas, e muito mais. Soma-se a isso, os acervos quando estes são levados para discussões. O acesso à internet para pesquisa e redes sociais vem se consolidando. Enfim, um conceito diferente, em diferentes esferas. Apesar desses diferenciais, percebi que faltava algo voltado para Literatura, Poesia, Artes de periferia, etc. Percebi também que as pessoas de modo geral se sentiam constrangidas em adentrar o ambiente de uma biblioteca de grande porte. Mas trabalhamos para mudar isso. Conseguimos que a parte dos fundos da biblioteca fosse aberta para eventos mais populares.... Ih, desculpa se falei muito (risos), mas é que a biblioteca é meu bebê, meu coração, e olha que eu nem falei de tudo, hein!
O que faz com que você abra mão do seu precioso tempo em favor da cultura?
Acho que cultura é tudo. Cultura é nosso eixo principal. Nós costumamos compreender cultura somente como políticas públicas, setor público... observo que, pra mim, a cultura é um atuante natural nosso, presente e dirigente das nossas ações. Falar de cultura nesse contexto; a única coisa que me faz abrir mão do trabalho com a cultura e a educação é a minha filha. Pois o meu tempo com ela é precioso: eu e ela.
Das atividades que você exerce no meio cultural, o que lhe dá mais satisfação, e quais frutos você tem colhido?
Bem, estou às voltas com o projeto da Portela, e isso me dá satisfação. Compor parcerias com outros grupos é avançar na cultura. Eu ligo muito o papel cultural à formação cidadã, me satisfaz ver isso acontecer. Deve haver educação através da arte, não o entretenimento só por entretenimento. A política do pão e circo não tem mais cabimento, né? Dar chances às pessoas, alavancar por meio da cultura os diversos sonhos dos outros, de comunidades e grupos; isso é o que vale. Mesmo com tantas burocracias engessadas que há por aí, através da união nós conseguimos fazer. Não há milagre, nada vem fácil. Mas é trabalho e parceria. Eu também coordeno a Galeria Urbana em Niterói, espaço de grafite a céu aberto. Desde julho, a arte urbana vem com tudo que compreende o seu universo, oficinas e tudo mais. Fica na Rua José Figueiredo, lá mesmo em Niterói. À frente dessa proposta de valorizar a arte urbana da cidade eu me sinto bem. Além disso, e não menos importante, tem o projeto Portela: berço das nossas fantasias, e aí tem a ver com São Gonçalo, pois é um projeto de resgate da memória da cultura portelense em São Gonçalo. Eu sempre fui portelense, tipo criança acordada para ver a escola passar, e aí conheci uma galera portelense roxa que nunca pisou em Madureira. Isso me chamou atenção. O carinho do povo de cá, a Portela atravessou a ponte e foi para o Clube Mauá, nos bailes. Isso estou pesquisando com o grupo. Pesquisa séria, sobre a influência histórica e cultural da portela em São Gonçalo. Bem, quanto aos frutos colhidos com o meu trabalho de ativista cultural, digo que só é a gratidão, isso eu colhi. Não posso dizer que tive lucro monetário, não, não tive mesmo. O que colhi disso tudo foi gratidão, interação e participação junto aos universos culturais e de aprendizagem.
Há algo que lhe desagrade no âmbito cultural atualmente em São Gonçalo, Niterói e adjacências?
Na minha opinião a cultura de Niterói é um referencial, embora tenha muita coisa por melhorar. No conjunto de fatores, as diversas esferas combinam para essa realização, mas, por vezes, há questões políticas que atrapalham, principalmente quando querem aparecer sob o pretexto da arte. Mas, de modo geral, Niterói é referência. Quanto à São Gonçalo, sinto falta de investimentos e envolvimentos de várias esferas. A eleição é um ato de mudança, de melhora, e é aí que os gonçalenses têm que agir; São Gonçalo merece isso. Com relação às localidades adjacentes não conheço o suficiente para falar.
Recentemente a professora da FFP-UERJ, Márcia Lisboa, revelou que, em rápida conversa, você disse ter imenso carinho pela Faculdade de Formação de Professores, falaria um pouco dessa sua afinidade para o Jornal Daki?
Ah! A FFP-Uerj é o amor da minha vida, pois é um tipo de universidade super atuante. Em Niterói temos a UFF que é bem participativa. E, em São Gonçalo, vocês têm a Faculdade de Formação de Professores, que é excelente. Se você convidar a galera da FFP para algum evento ela vai, se você não convidar ela vai também, então... se eu disser que quero fazer algo em prol da cultura, a UERJ se faz presente; se faz corpo e discussão. Ela (FFP-UERJ) tem esse perfil e está de parabéns, pois é dali que saem muitas mentes pensantes e atuantes.
Como é sua relação com as mídias?
De modo geral é muito boa, mas lembro que tive uma problema com as mídias quando saiu a divulgação do evento do Abdias Nascimento. Por outro lado, teve a parte boa, recordo que mandei um recado para oJornal Daki, pedindo divulgação, e aí responderam e fizeram uma matéria tão maneira e uma apresentação tão bonita que chamou a atenção de forma efetiva. Funcionou como um diferencial para o evento. Criei esse carinho pelo Daki pela forma como o jornal trata as pessoas, sem interesse que não seja para promover a cultura e a arte e levar informação de qualidade. Gosto muito do estilo do jornal que valoriza e respeita as pessoas, sem ceticismo quanto às opiniões e necessidades dos outros. Gosto muito do Daki.
Obrigado, Ana. Parabéns pelo que vem fazendo em prol da cultura, sucesso pra você!