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domingo, 17 de agosto de 2014

Portela de Asas Abertas: o dia em que a juventude prestou homenagem para Monarco

Por Antonio Junior
Quando uma escola de samba, com 90 anos de história, abre as portas de sua quadra em um sábado à tarde para uma roda de samba de raiz, o que você pensa? Grandes baluartes reunidos rendendo homenagens ao pavilhão e a história da escola. Porém, quando essa escola de samba tem história que se confunde com a de seus fundadores, é impossível render homenagens a uma coisa sem associar a outra. Na Portela é assim, fundadores e escola tem histórias que se entrelaçam. E com o projeto Portela de Asas Abertas, promovido pelo departamento cultural, esse laço foi mais uma vez evidenciado, unindo as histórias da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira, e de Monarco, um dos grandes nomes da escola e do samba brasileiro.

No evento deste sábado, não era a Velha Guarda sentada à mesa e fazendo um bom samba. Jovens sambistas "tomaram" a quadra da Águia de Madureira e renderam homenagens a Monarco, cantando sambas de sua autoria, e sambas antigos da escola que tinham como autor, o baluarte que completa 81 anos neste domingo.

O evento contou com membros do grupo "Ora Chove, Molha Flor", uma reunião de sambistas de São Paulo e Minas Gerais, e que tem na Portela a sua escola do coração. O mineiro Fernando Paiva, um dos integrantes do grupo de amigos, contou sobre como surgiu e o intuito da formação de uma roda de samba que costumeiramente se reúne para homenagear grandes nomes do samba.

- Todos nós temos a paixão e o interesse pelo samba de raiz e pelos sambas das tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro, das décadas de 20, 30, 40. O nosso objetivo é justamente não deixar morrer essa origem das escolas de samba. A gente já se reúne há uns cinco, seis anos, informalmente e em determinadas vezes homenageando os grandes nomes do samba, que de alguma forma, tem ligação com as escolas de sambas tradicionais do Rio. Paulo da Portela, Cartola, os compositores do Salgueiro.

Para o cavaquinista paulistano Rafael Lorrel, a homenagem aos baluartes e fundadores de escolas de samba tradicionais é de extrema importância para a manutenção da história de grandes agremiações como a Portela.

- É muito importante resgatar as origens. Toda aquela simplicidade que a Portela tinha em sua origem, a maneira como se fazia samba naquela época. Os grandes mestres precisam ser sempre lembrados. Esse evento é um momento histórico, porque dá oportunidade para sambistas humildes resgatarem a história da Majestade do Samba.

Vindo do interior de São Paulo, Tuco contou como se deu a união dos sambistas na formação do Ora Chove, Molha Flor e como a Portela os uniu.

- Pela paixão e identificação com esse estilo musical que nossa junção aconteceu. Mas sem dúvida alguma, foi acompanhando em vídeos, em documentos e procurando saber a história da escola, que a Portela nos conquistou. E é a Águia de Madureira que é a nossa referência musical, seja pela postura de roda, de oratória, de quem puxa o samba, o andamento, tudo baseando-se na Portela.

O diretor do Departamento Cultural da Portela e colunista do site CARNAVALESCO, Luis Carlos Magalhães, foi responsável pela recepção dos sambistas no Rio e falou sobre o sentimento do portelense nesse momento de resgate não só no desfile, como também na história da escola.

- É claro que pro portelense, o mais importante é o que está acontecendo com a escola, fazendo bonito no carnaval, saindo do desfile orgulhoso. Eu acho que o mais bonito na Portela é esse movimento, porque isso te dá uma esperança tão grande, serve de alimento pra alma, não só portelense, mas do samba como um todo. O que esses meninos fizeram e estão fazendo agora na Portela, faz acender a chama do bom samba em cada canto desse Brasil.

Luís ainda completou, confidenciando um momento vivido pelos sambistas vindos de fora do Rio. Antes do evento realizado na quadras da Rua Clara Nunes, Luís levou o grupo para visitar o cemitério onde está o túmulo de Paulo da Portela, um dos fundadores da escola. O clima de emoção tomou conta do lugar.

- Visitei o túmulo do Paulo da Portela, no cemitério de Irajá, e fiquei muito emocionado. Me segurei muito pra não chorar. Porque ele foi o cara que institucionalizou isso tudo que a gente conhece como Portela. A escola é gigantesca, é mundial. Mas o que realmente nos move são esses velhinhos que começaram a criar essa gigante.

Os sambas de Monarco ecoaram forte pelo Portelão na voz das centenas de jovens presentes na roda de samba de raiz. Para Tuco, a ideia criada pelo departamento cultural da Águia de Madureira poderia ser seguida por outras escolas, para o bem do samba.

- Se outras escolas seguirem essa ideia da Portela, cada vez mais, isso vai se proliferar. Quem ganha com isso é a música e acaba sendo um constante resgate da história. Seria maravilhoso ver outras gigantes do carnaval seguindo o mesmo caminho.

As comemorações pelos 81 anos de Monarco continuam neste domingo na quadra da Portela. Unindo sambistas de todas as idades e todas as regiões, prestando homenagens a esse grande nome da história da Portela e do mundo do samba.

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