'Estamos apenas propondo um maior cuidado com o dinheiro público', afirma Freixo
Por Patrícia Raposo
O mundo do Carnaval viveu momentos de controvérsias nesta semana,
quando o deputado estadual e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro,
Marcelo Freixo (PSOL) declarou, em entrevista a um telejornal, algumas
de suas propostas com relação aos enredos desenvolvidos pelas
agremiações, para o Maior Espetáculo da Terra.
Em conversa com o SRZD-Carnaval, Freixo salientou que não tem
nada contra nenhuma escola de samba, e que uma de suas maiores
preocupações é o cuidado com o dinheiro público, além do compromisso de
preservação com o interesse cultural da festa. O deputado disse,
inclusive, que suas ideias são comuns às opiniões de diversas pessoas
que vivem o mundo do samba. Pessoas estas, que o ajudaram na composição
de seu manifesto à respeito do Carnaval carioca intitulado "Nossa
Avenida vai além do Carnaval", lançado por ele no dia 29 de junho, na
Câmara Municipal.
"Existe um manifesto que não foi feito apenas por mim. Fiz com a
colaboração de pessoas do samba que vivem o dia-dia, vivem o mundo do
samba. O que a gente quer é fazer um debate profundo do Carnaval
enquanto instrumento da cultura", explicou.
"Existe um processo de capitalização das escolas que tem feito com
que elas percam completamente o compromisso com a questão cultural",
completou.
Marcelo destacou ainda que não tem nada contra o Acadêmicos do
Salgueiro, escola da qual se referiu na recente entrevista, ao citar seu
enredo para 2013 como exemplo.
"Essas questões não têm nada a ver com escolas A, B ou C. Eu não
tenho absolutamente nada contra o Salgueiro, tenho um carinho enorme
pela escola, tenho muitos amigos Salgueirenses. O que eu fiz foi apenas
dar um exemplo de enredo, mas poderia ter citado outros exemplos",
lembrou.
"O que eu quis dizer é que qualquer atividade cultural, eu disse
qualquer atividade, de qualquer área, seja ela na dança, no teatro ou na
música, se entrar dinheiro público, o edital prevê contrapartida
cultural", explicou.
'Isso não tem nada a ver com controle ou censura', destacou.
O candidato frisou que não tem como objetivo interferir nas escolhas dos enredos das agremiações.
"Isso não tem nada a ver com dirigir, controlar ou censurar enredos.
Qualquer edital prevê isso para qualquer setor. Por que na escola de
samba isso não pode? Por que na escola de samba é visto como censura?
Por que na escola de samba não pode ter prestação de conta?, indagou.
"Se eu dissesse que o estado teria que determinar os enredos, é
evidente que seria inaceitável, mas não é isso, cada escola escolhe seu
tema. O que a gente quer dizer é o seguinte: se for usar dinheiro
público para preparar um desfile, tem de ter contrapartida para a
cultura do Rio de Janeiro", completou.
Freixo também comentou que entende que algumas pessoas possam vir a
não concordar com suas propostas, porém, não podem rotular como
intervenção ou censura.
"As pessoas podem não concordar com a proposta, eu acho que é
legítimo, tudo bem. Podem falar que preferem que tudo ocorra sem
exigências, tudo bem também. Agora, não podem acusar de intervenção, não
é isso", argumentou.
Marcelo concorda com a modernização do Carnaval e defende o resgate cultural
"Estamos apenas propondo um maior cuidado com o dinheiro público, e
utilizando os mesmos critérios que já valem para qualquer outro setor da
arte, para o Carnaval", detalhou.
"Senão o Carnaval virou só uma questão de mercado sem qualquer
compromisso, e eu não acho que essa festa possa ser só uma questão de
mercado. Acho que ela tem de ter sua modernização, sua importância para o
turismo, que inclusive deve ser preservado, porém, precisamos resgatar o
interesse cultural. E isso, só o poder público pode fazer", completou.
Para finalizar, Marcelo Freixo afirmou que continuará lutando por um debate com propostas dignas para o Rio de Janeiro.
"Esse estardalhaço todo que aconteceu pode ter vindo de pessoas que
querem continuar com o modelo atual e que, de certa forma, se prevalecem
e prevalecem muitos setores", opinou.
"Tem muita gente distorcendo minha proposta e também sei que farão
uso político disso. Eu não retiro nada do que eu disse. Minha
preocupação é debater boas questões e fazer um bom debate em defesa do
Rio de Janeiro", concluiu.
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