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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Portela apresenta seu grupo show em noite de gala

Por Helio Ricardo Rainho

Foi uma noite de sonho, emoção e lirismo. Um reencontro da Portela com seu porte de gala e sua inigualável classe de escola de samba. Para os antigos, a sensação era de que alguma coisa havia acontecido e resgatado, de um túnel do tempo, a glória e a imponência de seu legado histórico. Para as novas gerações ali presentes, um misto de encanto e surpresa: que Portela grandiosa e magnífica era aquela?

Na noite de sábado, dia 21, o lendário Jeronymo - uma dessas lendas vivas que as grandes escolas de samba possuem em seu panteão - foi o anfitrião azul e branco da Majestade do Samba. A Águia abriu as portas de seu ninho para que fosse apresentado o Grupo Portela Show, rememorando o pioneirismo da escola, primeira a fazer shows desse gênero no exterior e na zona sul da cidade - região a princípio não destinada ao conhecimento das escolas de samba.



O que se viu, dentre acertos e pequenos detalhes a corrigir, comuns a uma estreia, foi um surpreendente e impactante espetáculo de luzes, sons, e cores, além de uma aula de ritmos e manifestações culturais do país.

A abertura teve efeito impactante: uma comissão de águias estilizadas entrou no palco da escola sob a potência da bateria Tabajara do Samba, enquanto o intérprete Richahs entoava o célebre "Hino da Portela", de Chico Santana. Em dado momento da performance, os mantos que encobriam o garboso figurino abriam-se e revelavam letras luminosos no peito dos componentes com a inscrição "GRES PORTELA", sendo aclamados pela audiência.

Seguiu-se um belo espetáculo reunindo manifestações culturais como frevo, dança afro, maracatu e os tradicionais segmentos da escola.



É de se fazer menção o trabalho feito por Jeronymo em sua coreografia específica para o quadro da dança africana. O que mais se tem visto nos espetáculos de escolas de samba é a recorrência religiosa, privilegiando mais a representação dos personagens do panteão yorubá do que propriamente a dança típica dos povos africanos. Praticamente uma "carona", e não um processo criativo. Numa proposta bem mais adequada e menos recorrente, Jeronymo diferenciou-se ao apostar em uma coreografia toda trabalhada para caracterizar o primitivismo tribal na dança africana. Eram lindos também os figurinos estilizados de palha, sisal e material rústico. A percussão utilizada para o número musical foi não menos exuberante, sem o lugar comum dos sons de terreiros, mais adequados para outro tipo de manifestação.

Baianas da escola, lideradas pela sempre carismática Jane Carla, e o show dos destaques tendo Carlinhos Reis e Madalena muito aplaudidos, animaram a audiência. Sambas dos dois últims desfiles e alguns outros antológicos da escola foram revisitados com emoção. O casal de mestre-sala e porta-bandeira Diogo Jesus e Danielle Nascimento apresentaram-se com muita graça, em figurino bastante elogiado pelos presentes.

Figuras imprescindíveis para se contar a história da Portela, os coordenadores de passistas Nilce Fran e Valci Pelé também deram suas contribuições ao espetáculo elaborado por Jeronymo. Nilce apresentou um belíssimo número com mulatas-show e Valci conduziu um número que arrepiou os presentes. Malandros coreografados em performance operística apresentaram-se de forma magistral, num elenco composto pela linha de frente dos passistas da Portela: Flávio Ferreira, Diego Nascimento, Felipe Nascimento, Anderson Costa e Vinicius Nascimento. Além de apresentarem seus passistas, Nilce e Valci também se renderam aos tambores portelenses e deram um show à parte na apresentação, exibindo seu repertório premiadíssimo para abrilhantar a festa.

A noite terminou com muitos aplausos e depoimentos emocionados dos presentes. A equipe responsável pelo show foi condecorada com troféus, sendo o maior deles dado ao anfitrião da noite, Jeronymo. "Em todos esses anos de escola, com tudo o que já fez e representa na história da escola, Jeronymo ficou praticamente esquecido. Hoje está aqui, apresentrando um show que eu tenho certeza que tem o tamanho de seu talento, e cabe numa Broadway ou em qualquer grande casa de espetáculos do mundo" - afirmou o vice-presidente Marcos Falcon, lembrando ainda que os imponentes figurinos do musical foram feitos a partir de fantasias recicladas de desfiles da escola. "A equipe de nosso atelier foi procurar essas coisas no lixo. Tudo foi reaproveitado da forma brilhante que todos pudemos ver" - concluiu.

Com homenagens a várias pessoas de setores técnicos e da estrutura da escola, os novos mandatários mostraram que o intuito do grupo Portela Verdade é reiterar as raízes da escola e reconhecer o talento de quem efetivamente sua a camisa pela agremiação.

O presidente Serginho Procópio também compareceu ao palco na entrega dos troféus e encerrou a apresentação cantando "Ilu Ayê - Terra da Vida", com a bateria regida por mestre Nilo Sérgio. E Jeronymo, emocionado e dono da festa, deu uma mostra de sua cadência e samba no pé para mostrar por que a Portela é assim: cheia de encantos!




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