Ligia Vasconcellos de Oliveira
Getúlio Vargas foi uma figura marcante na história brasileira, exercendo o poder entre 1930 até 1945, e anos mais tarde, de 1951 a 1954. Em meio às diversas mudanças políticas provocadas pelo seu governo, o carnaval foi inserido em uma nova lógica de propaganda e reafirmação da identidade nacional, ganhando uma configuração inédita e um espaço jamais visto anteriormente.
Conforme iriam conquistando aos poucos as classes sociais mais privilegiadas e a imprensa, o samba e o carnaval carioca (antes vistos como cultura marginalizada) ganhavam mais destaque e se consolidavam pouco a pouco. Vargas, que disseminava as ideias do regime na mídia, um dos pilares do seu regime, viu nas escolas de samba uma oportunidade de incorporação de suas políticas governamentais. Isso era incentivado pelos Ministérios da Educação e da saúde, bem como pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
Contudo, não era uma relação sem benefícios para ambos os lados, uma vez que as agremiações também se alinhavam com o discurso nacionalista em troca de verbas públicas e prestígio social. Por décadas, as escolas se dividiram entre exaltar as belezas naturais do Brasil, os personagens históricos, a diversidade social, enfim, a “cultura brasileira” oficial, nos mais variados aspectos. Entretanto, apesar de as escolas seguirem pelo mesmo caminho, a Portela foi a que mais soube aproveitar, ganhando sete títulos de primeiro lugar entre 1930 e 1945.
Décadas mais tarde, no ano de 2000, a Liga Independente das Escolas de Samba, em parceria com a prefeitura do estado do Rio de Janeiro, decidiu que o carnaval seria temático em homenagem aos quinhentos anos de “descobrimento” do Brasil. A campeã daquele ano, Imperatriz Leopoldinense, contou a história da viagem de Pedro Álvares Cabral até aqui. A Portela, por sua vez, ficou em décimo lugar, com o enredo “Trabalhadores do Brasil, a época de Vargas”.
No abre-alas, ao invés de uma águia tradicional, a Portela levou cinco, que representavam as aves do Palácio do Catete. A águia tinha, portanto, um significado dentro do tema, já que foi neste lugar que Getúlio governou e tirou a própria vida. O carro vinha depois de Paulinho da Viola e da Comissão de Frente, que também representavam o pássaro. O segundo carro alegórico mostrava o episódio conhecido como “política do café com leite”, com Vargas mais jovem, fardado e montado em um cavalo branco, pronto para guiar o país. O terceiro, “Trabalhadores do Brasil”, mostrava as origens dos proletariados brasileiros, como o negro, o índio e o branco. Em seguida, o carro da tortura e da censura mostrava a face mais cruel e repressiva do varguismo, que foi o Estado Novo. O desfile aproveitava, assim, as contradições em volta da figura do ex-presidente.
Após, vinham os carros da redemocratização e carro da época de ouro do governo, “Nos tempos da brilhantina”. A Portela fazia referência à chamada Era do Rádio, às Escolas de Samba e aos cassinos. A atriz Taís Araújo representou Carmen Miranda e o carro contava ainda com a presença da eterna vedete Virgínia Lane, que teve um caso com Vargas.
Dentre as fantasias e as mais de 30 alas que a escola apresentou, era possível observar alusões à Intentona comunista, às crianças que tiveram acesso ao ensino primário gratuito, às damas do Estado Novo, aos gaúchos, ao fim da República Velha, como referências à censura e à anistia na ala VIPS. A própria bateria estava vestida de tenente, alusão ao movimento chamado de “Tenentismo”.
A história seguia a forma cronológica, tanto no desfile quanto no samba enredo. E, apesar de falar diretamente sobre a política de Vargas, a Portela apresentou ao público um panorama geral da sociedade daquela época, tanto em suas partes gloriosas, as conquistas do povo, quanto em seus momentos difíceis e ditatoriais. Citando a própria escola, Getúlio foi “amado e odiado na memória”, se tornando uma das maiores figuras conhecidas pela nação brasileira, saindo da vida para entrar na história.
Avante, Portela!!!
Portelamor - Porque amar é fundamental
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