Clarisse e Cecília, herdeiras
de João Nogueira e Paulinho da Viola, serão destaques na Sapucaí
Angélica Fernandes
Rio
- Elas são muito mais do que mulheres bonitas. O samba no pé e o carisma
viram meros detalhes diante da dedicação e amor pela Portela. Também pudera, já
nasceram com o sangue azul e branco nas veias. Filhas de dois dos maiores
sambistas da história e portelenses doentes, Clarisse Nogueira, do saudoso João
Nogueira, e Cecília Rabello, de Paulinho da Viola, serão as musas da escola
pelo segundo ano seguido.
Fugindo
do rótulo de gostosonas, elas são reconhecidas na Portela pelo trabalho que
desempenham ao longo do ano. Com a função voluntária de promotora de eventos,
Cecília e Clarisse topam tudo para ajudar a agremiação. “Até se me chamarem
para limpar banheiro eu vou”, conta Clarisse. Em todas as feijoadas, festas e
ensaios lá estão elas. Aliás, o pré-carnaval é a fase em que Madureira se torna
a casa da dupla. “Estamos lá a qualquer hora do dia”, declara Cecília, vizinha
do pai no Itanhangá. “Levo horas do Recreio (onde mora) a Madureira, mas vou
com muita satisfação”, completa Clarisse.
No barracão, elas são gente da gente. “Não tem essa de
glamour por ser musa”, conta Clarisse. A simplicidade e carisma que
ambas adquiriram vem de berço, assim como o amor pela Portela. “Fomos
criadas em rodas de samba. Nossos pais vieram do subúrbio e nos
ensinaram a viver com muita humildade”, comenta Cecília.
“Não é nada apelativo. É claro que tem uma sensualidade mas o objetivo da escola não é expor nosso corpo”, explica Clarisse. Mas até que poderia, afinal as musas estão com tudo em cima. Aos 33 anos e com um filho de 8, Cecília desbanca muita mulher por aí. “Faço musculação, corro na praia, pego onda e ando de bicicleta”, detalha a filha de Paulinho. Sobre o assédio dos homens, a dupla garante estar preparada. “Tem piadinhas sim, mas quando falamos de quem somos filhas, a coisa muda”, entrega Clarisse.
Monarco fez o convite pessoalmente
Quando vê Monarco, Clarisse pede bênção. Mesmo não sendo seu padrinho, ela se sente afilhada do presidente de honra da Portela. “Meu pai o chamava de cumpadre. Por isso passei a chamá-lo de padrinho”, diz. O convite para repetir a dose de musas foi feito por Monarco.
“Elas (Cecília e Clarisse) são a cara da Portela”, revela o sambista, entusiasmado com a nova direção da escola. “A Portela está com outra cara. Não será aquela águia tuberculosa do ano passado. Vejo todo mundo entrosado e trabalhando com alegria”, declara.
Na última terça, Monarco recebeu uma sala exclusiva no barracão. Nela sala, uma bandeira feita por Dodô da Portela, escrito ‘presidente de honra’, foi emoldurada. Monarco lança seu CD de inéditas em março. Das 13 canções, uma é da década de 40, quando tinha 8 anos.
A advogada e a percussionista
Mesmo com toda a dedicação à Portela que aprenderam a amar desde pequenas, Clarisse e Cecília têm as suas profissões fora do carnaval — e não abrem mão delas. A filha de João Nogueira é advogada há oito anos e atualmente dá expediente em uma agência de comunicação, no Centro do Rio.
Mas quando consegue uma folguinha, ela corre para quadra da azul e branco de seu coração. “Quando tem festa lá, sou eu quem fiscalizo tudo. De banheiro até o camarim dos artistas”, revela. Já Cecília, que é formada em administração, trabalha como percussionista na banda do seu pai e, há 15 anos, ajuda na produção dos shows dele.
No momento, além do carnaval da Portela, a musa está envolvida com a nova turnê de Paulinho da Viola, que começa em agosto. “Nós vamos viajar o país inteiro para levar o show de 50 anos do meu pai”, revela a orgulhosa Cecília, que toca tamborim, pandeiro, reco-reco, ganzá, e bongô nos shows. “Meu pai não levava fé em mim como percussionista, mas aprendi tudo com a banda dele”, encerra.
Fonte: O Dia na Folia
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