A Sebastiana promoveu no Planetário da Gávea nesta terça-feira a sétima edição do "Desenrolando a Serpentina", um ciclo de debates que discutiu o carnaval de rua da cidade. Foram três mesas de discussão que abordaram a história do carnaval de rua, a chegada de novos ritmos desde o boom dos blocos e o que esperar do futuro.
A presidente da Sebastiana, Rita Fernandes, comentou a importância do evento e da discussão que envolve o carnaval com a sociedade. - Nossa intenção é mostrar que o carnaval não é apenas um evento, mas uma celebração cultural. Nada é tão nosso neste país quanto o carnaval. As pessoas só falam disso em fevereiro, mas a importância para a sociedade é tamanha que eu defendo que se discuta o ano todo, afirmou.
O secretário de Turismo do município do Rio de Janeiro, Antônio Pedro Figueira de Mello, se fez presente e comemorou mais uma edição do "Desenrolando a Serpentina". - Quanto mais poder público, blocos e sociedade carioca conversarem sobre carnaval, menos transtornos nós teremos durante os dias de folia. O carnaval de rua é uma realidade, precisamos conviver com ela e buscar melhorar a cada ano e este evento é um facilitador deste processo, comentou.
Ocupação da rua é marca da folia carioca
A primeira mesa de debates promovida pelo "Desenrolando a Serpentina" tratou da história do carnaval de rua, que tem praticamente a mesma idade da Cidade Maravilhosa, quase 450 anos. A conversa contou com a presença do carnavalesco Milton Cunha, do historiador Haroldo costa, do poeta Bernardo Vilhena, da presidente do Museu da Imagem e do Som Rosa Araújo e do coordenador do Bloco Virtual, Lula Jardim.
O debate trouxe à tona a histórica relação do carioca com a ocupação da rua, uma marca do carnaval. O historiador Haroldo Costa lembrou dos primórdios do carnaval no Rio e contou que a folia começou com a elite. - A tomada da rua se dá desde o século XVII. No início o carnaval era dominado pela elite branca, uma vez que foi trazido da Europa pelos colonizadores. O negro acaba tomando espaço no período final do Império, explicou Haroldo.
Milton Cunha lembrou que durante o período de folia, a cidade é reinventada pelo povo. - A criatividade está na essência do povo carioca. Tivemos no passado as decorações das ruas, pelos grandes artistas do carnaval. Mas a realidade é que as maiores ocupações de espaço se dão com o folião, que se enfeita, se pinta, muda até de personalidade. Só o carnaval para promover tamanha transformação, defendeu Milton.
Os novos ritmos e a relação com o samba
No segundo debate do evento uma mesa polêmica: como lidar com os novos ritmos que surgem desde a retomada do carnaval de rua e sua relação com aquele que sempre foi a essência da folia no Rio de Janeiro, o samba. Pedro Luís, do Monobloco, Mateus Xavier, do Sargento Pimenta, João Pimentel, jornalista e compositor, Fernando Carvalho, do Ansiedade e Jards Macalé, músico e compositor, integraram a mesa mais quente do "Desenrolando a Serpentina".
Pedro Luís defendeu que o surgimento de novos ritmos não significam perda de espaço para o samba e falou em preconceito com o novo. - Respeito à tradição é uma coisa. Preconceito com o que surge agora é outra. O Monobloco contempla a diversidade musical brasileira, que foi o que transformou o carnaval no fenômeno que conhecemos hoje. Nossa oficina de percussão aproxima o jovem das escolas de samba. Precisamos enxergar com naturalidade a chegada dos novos ritmos, defendeu Pedro Luís.
O Bloco Sargento Pimenta completa em 2015 apenas seu 5º desfile, mas já carrega uma enorme polêmica sobre si, pois seu repertório é baseado nas canções dos Beatles. Mateus Xavier, diretor musical do bloco, rechaça a ideia de afastamento da essência da tradição. - Em cima da letra e melodia dos Beatles nós imprimimos o instrumental do maracatu, do samba, do afoxé, das escolas de samba. Isso é uma valorização enorme da tradição, que pouca gente nota, disse Mateus.
Espontaneidade aliada à organização para diminuir o impacto dos blocos na vida das pessoas
A derradeira mesa de debates do "Desenrolando a Serpentina" tratou do impacto do crescimento dos blocos e a difícil missão de conciliar folia com organização. Conversaram sobre o tema o professor e vice-reitor da Universidade Federal da Bahia, Paulo Miguez, o músico e coordenador do Bloco Céu na Terra, Jean Philippe, a professora da ECO/UFRJ e membro da diretoria d’O Instituto, Ilana Strozenberg, a presidente da Sebastiana, Rita Fernandes e o secretário municipal de turismo, Antônio Pedro Figueira de Mello.
Rita defendeu no debate que a liberdade e a trangressão inerentes ao carnaval de rua não podem ser confundidos com arruaça e desordem. - Um bloco como o Bola Preta, com as proporções que adquiriu não pode se dar ao direito de desfilar sem um mínimo de organização. Em 2015 a Riotur espera 6 milhões de foliões. O carnaval deixou de ser brincadeira há muito tempo, ponderou Rita.
O secretário Antômio Pedro pediu compreensão com as pessoas que não curtem o carnaval mas que vivem nas áreas de maior concentração dos blocos. - Quem não gosta precisa respeitar quem gosta, mas o contrário também precisa acontecer. O cara que mora onde sai um bloco precisa ter seu direito de ir e vir preservado. Para isso o poder público, os blocos e a sociedade precisam dialogar. Muita gente aproveita o mínimo deslize para atacar o carnaval. Essa festa está no DNA da nossa cidade. Organizá-la é o dever de todos nós, avaliou.
O sétimo encontro "Desenrolando a Serpentina" foi finalizado com uma animada roda de samba em homenagem aos blocos Cacique de Ramos, Boêmios do Irajá, Bafo da Onça, Bola Preta e Clube do Samba, com o Quinteto do Cacique e convidados.
Fonte: www.carnavalesco.com.br
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