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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Série A: A difícil missão de se fazer carnaval

Por Rafael Arantes

Os desfiles da Série A já se tornaram um dos momentos mais esperados do carnaval carioca. As escolas que buscam um lugar no Grupo Especial geram uma imensa expectativa no público e também nas autoridades responsáveis pela folia. De outro lado, pouca gente sabe do grande desafio que é colocar o carnaval do Grupo de Acesso na rua. Se as escolas da elite possuem uma verba de cerca de R$ 6 milhões como base para o trabalho, a Série A está longe de seguir o mesmo padrão. A quantia disponibilizada não chega sequer a 30% do que envolve os principais desfiles do carnaval e é apenas um dos diversos problemas encontrados pelas agremiações em questão.

Além do fator financeiro, as condições de trabalho são totalmente negativas e também prejudicam o desenvolvimento do trabalho das escolas de samba. Com barracões em péssima localização e sem nenhum tipo de suporte técnico, as agremiações passam sufoco por tudo quanto é lado e ficam bem longe de ter a estrutura que a Cidade do Samba disponibiliza para as escolas do Grupo Especial e a última rebaixada para a Série A.

Verba não cobre orçamento

Para exemplificar a questão financeira temos o carnaval de 2015 do Império Serrano. Em conversa com o CARNAVALESCO, a presidente Vera Lucia deixou clara a dor de cabeça que existe para colocar o projeto em prática. A Verde e Branca iniciou os trabalhos e projetou seu carnaval em R$ 1,5 milhões, mas não conseguiu sequer cobrir o valor estimado com a subvenção liberada.

- É realmente uma verba muito curta. Recebemos de R$ 600 mil a R$ 800 mil quando toda a quantia é liberada. Nosso carnaval deste ano é uma prova de peregrinação. Contamos muito com a ajuda de amigos, isso é fundamental. As escolas da Série A não conseguem alcançar parceiros com facilidade e muitas vezes ainda sofrem com as questões das dívidas. O Império, por exemplo, teve grande parte da subvenção penhorada em razão das dívidas existentes e tivemos que nos agarrar nos amigos.

Para suprir parte dos gastos básicos, o Império contou com a ajuda da co-irmã Imperatriz Leopoldinense e fez de sua própria quadra uma base de trabalho: - Nosso amigo Luizinho Drummond abriu as portas do barracão dele para que pudéssemos pegar todo o material necessário para fazer nosso carnaval. É com a ajuda de amigos como ele que conseguimos superar esses problemas, mas ainda temos toda a questão de funcionários e estrutura. Para evitar alguns gastos, fizemos nossa quadra de ateliê. Fazer carnaval na Série A é uma peregrinação.

Falta de estrutura: o maior tormento

Um dos maiores desejos das escolas da Série A é a construção da Cidade do Samba II. Fazer carnaval nas péssimas condições em que se encontram os barracões é uma das maiores dores de cabeça para os artistas do Grupo de Acesso. Leandro Vieira, carnavalesco da Caprichosos de Pilares, lamenta intensamente a baixa estrutura que as agremiações possuem para trabalhar. Falta de luz, má localização, falta de suporte e muitos outros fatores prejudicam o desenvolvimento de todo o trabalho plástico das escolas. A solução é uma só: um maior investimento nas condições de trabalhos das agremiações.

- Muita gente fala só da falta de grana, mas o que mais dificulta mesmo é a estrutura de trabalho. A questão financeira a gente supera com criatividade, mas os ambientes que temos para trabalhar são muito ruins. Quase todas as escolas possuem problemas em seus barracões. Falta de banheiro, instalações elétricas que não são adequadas, falta de um piso bacana, sujeira. Na verdade, ou você investe em estrutura ou em carnaval e a maioria prefere apostar no carnaval. Esse lance da Cidade do Samba para a Série A é fundamental, é preciso olhar com muita atenção para essa parte.

Diante dos diversos problemas, Leandro lembra a localização dos barracões como um dos maiores alertas. A sujeira que acaba afetando a região é muito prejudicial para a parte artística: - Estamos no meio da obra do Porto: é sujeira e poeira para tudo quanto é lado. A saída é você realmente deixar muita coisa envelopada e usar somente em cima da hora. Temos que ficar limpando e colocando plástico a todo momento. A Cidade do Samba II tem que ser feita, não temos a menor condições de trabalho. Se muitas escolas não nivelam o espetáculo por cima é por causa dessas condições.

Espírito guerreiro para superar os desafios

Conseguir suprir os problemas que as escolas da Série A passam não é fácil. Colocar o carnaval na rua é verdadeiramente uma missão dura e complicada, mas que é realizada com sucesso quando existe a união de três fatores: tranquilidade, criatividade e reciclagem. O carnavalesco Jorge Caribé, agora na Renascer de Jacarepaguá, não esconde a tristeza com a falta de recursos que as agremiações do Grupo de Acesso encaram ano a ano. Mesmo assim, o artista garante que o empenho e a dedicação de cada equipe faz a diferença para levar um belo espetáculo para a Avenida e a confiança acaba sendo por uma era de melhorias a cada dia que passa.

- A melhor lição é manter a calma e não acreditar em milagres, sou um guerreiro sofredor. Todo povo que milita no mundo do samba sabe que a Série A não tem barracão decente, grana e etc. Temos que fazer um grande trabalho até mesmo para que nossos nomes não fiquem desmoralizados e é graças ao empenho e ajuda dos nossos amigos que muitas vezes tornamos os projetos em realidade. É necessário que a gente tenha bom gosto e criatividade para conseguir reciclar os materiais que muitas vezes só conseguimos com os amigos que buscam ajudar.

Se for para citar o maior problema encontrado pelas escolas, Caribé prefere dividir a responsabilidade. Tanto a questão financeira, como a estrutural, são precários nos Grupos de Acesso: - A falta de recurso financeiro prejudica muito, assim como essa questão da estrutura. Se não chove passamos um calor e fica ruim para trabalhar, quando cai a água estraga tudo que temos feito. Sem dinheiro, temos que estar sempre na dependência de amigos. A cada ano que passa a bomba é maior. Mas eu não desisto e acredito que em algum momento a Série A terá um reconhecimento maior. Não vamos ficar chorando não.


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