Morreu na noite da última terça-feira (2), aos 95 anos, o compositor
Casquinha. O baluarte da Velha Guarda da Portela estava internado desde o dia
22 de setembro no CTI do Hospital São Matheus, em Bangu, na Zona Oeste da
capital fluminense.
Nos últimos dias, Casquinha teve o quadro de insuficiência renal
agravado. A causa da morte foi infecção generalizada. Ele deixa três filhos
(outros dois já são falecidos).
Em nota, o presidente Luis Carlos Magalhães e toda a diretoria da
Portela lamentam a morte do compositor e se solidarizam com seus familiares e
amigos neste momento de luto.
“Casquinha viveu a vida que quis viver, sempre cercado de sambistas
formidáveis e se fazendo parceiro de mitos como Paulinho da Viola, Candeia,
Monarco e outros mais. Vida longa, bonita e intensa! Compôs “Brasil, Pantheon
de Glórias”, para o nosso desfile de 1959, e se tornou personagem importante na
Portela. Por isso, terá sempre um lugar especial nesse pantheon que ele próprio
ajudou a construir”, exaltou Luis Carlos Magalhães.
Casquinha da Portela
Otto Enrique Trepte (seu nome de batismo) nasceu em 1º de dezembro de
1922 em Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte. Mudou-se ainda criança, após a
morte do pai, para Oswaldo Cruz. Ganhou o apelido inusitado na escola depois de
ter comido um pedaço de carne que caíra do prato de um colega, como relata o
biógrafo João Baptista Vargens, no livro “Casquinha da Portela – Andanças e
Festanças”, lançado em 2016.
Meio-campo (“center-half”, como gostava de dizer) talentoso, disputou
por diversas vezes a Segunda Divisão do Campeonato Carioca, defendendo, entre
outras, as cores do Esporte Clube Oposição e do Brasil Novo. Jogou também no
time de futebol da Portela.
Foi bancário durante anos. A convite de Candeia, passou a frequentar os
ensaios da Portela, onde despontou como compositor reconhecido e atuante,
chegando a ocupar, anos depois, o cargo de presidente da renomada ala de
compositores da agremiação.
Em 1959, em parceria com Candeia, Waldir 59, Altair Prego e Bubu,
escreveu o samba-enredo “Brasil, Pantheon de Glórias”, com o qual a Portela foi
campeã. Na década de 1960, fez parte do grupo Mensageiros do Samba, com Bubu,
Arlindão, Jorge do Violão, Candeia, David do Pandeiro e Picolino. Em 1964,
Casquinha tornou-se o primeiro parceiro de Paulinho da Viola na Portela, no
samba “Recado”, que virou um clássico da MPB, tendo sido gravado por Elza
Soares, Nara Leão, MPB-4, Jair Rodrigues e outras estrelas.
Integrante da Velha Guarda da Portela desde o lançamento do primeiro
disco do grupo, em 1970, o sambista também é autor de outros clássicos, como “A
Chuva Cai”, hit de Beth Carvalho; “Falsas Juras”, feito com Candeia, seu maior
parceiro musical; “Maria Sambamba”, eternizada por João Nogueira; e “Coroa
Avançada”, gravada por Zeca Pagodinho.
“Preta Aloirada”, “Sonho do Escurinho” e “Gorgear da Passarada”
(composta com o saudoso Argemiro Patrocínio) também se destacam na extensa
produção musical de Casquinha, que consagrou-se, ainda, como representante do
samba sincopado e do partido-alto.
Em 2000, teve intensa atividade profissional com Monarco, Tia Surica,
Tia Doca, Serginho Procópio e os demais membros da Velha Guarda por ocasião dos
shows de lançamento do histórico disco “Tudo Azul”, produzido pela cantora
Marisa Monte.
Fora da Velha Guarda, gravou um disco em 2001, “Casquinha da Portela”,
seu único solo, pela Lua Discos. Em 2014, teve sua obra eternizada no DVD
“Casquinha da Portela – O Samba Não Tem Cor”.
Em outubro de 2016, na ocasião do lançamento de sua biografia, foi
homenageado pelo presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, durante a
Feijoada da Família Portelense.
No Carnaval, Casquinha brilhou durante anos na tradicional comissão de
frente da Portela. Também tinha cadeira cativa no carro que trazia a Velha
Guarda e outros portelenses ilustres. Desfilou em sua escola do coração pela
última vez em 2017, sendo campeão.
Esteve pela última vez na quadra da Azul e
Branco em julho de 2017, quando recebeu uma homenagem do Departamento Cultural,
na roda de samba Portela de Asas Abertas.
Corpo será velado na quadra da Portelinha
O corpo do compositor Casquinha será velado nesta quarta-feira (3), a
partir das 20h, na quadra da Portelinha, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte.
A cerimônia de despedida ao bamba, aberta ao público, acontecerá até as
9h desta quinta-feira (4), quando o corpo seguirá para o Cemitério de Irajá,
também na Zona Norte, onde será sepultado às 10h30. A quadra da Portelinha
(antiga sede da Portela) fica na Estrada do Portela 446, em Oswaldo Cruz,
altura da Praça Paulo da Portela.
Fonte: www.srzd.com
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