Depois da bem-sucedida estreia em maio, com a presença dos carnavalescos campeões Renato Lage e Rosa Magalhães como palestrantes, o seminário “Carnaval, que festa é essa?” segue com sua programação e, na próxima terça-feira, 21 de junho, terá mais dois grandes nomes do samba na mesa de debates.
Compositores consagrados, Monarco (líder da Velha Guarda da Portela) e André Diniz (vencedor de 12 disputas de samba na Vila Isabel) se encontrarão no Centro Cultural Banco do Brasil e, a partir das 18h30, conversarão, entre outros temas, sobre os hinos escolhidos para embalar os componentes das escolas de samba cariocas. As letras dos sambas-enredo atuais, cada vez mais cheios de expressões como “maravilha” e “beleza”, a riqueza das melodias, o processo de criação das composições e a acirrada disputa dos sambas nas quadras das escolas estão entre os tópicos a serem abordados pelos sambistas.
Aos 38 anos, André Diniz venceu a primeira disputa de samba no Grupo Especial em 1994, na Vila Isabel, e desde então não parou mais de produzir. Ciente de que muitos críticos afirmam que os sambas de hoje são menos ricos no quesito poesia e menos melódicos do que os criados para os desfiles de antigamente, Diniz defende os compositores de sua geração e diz que boa parte das críticas é reflexo de puro saudosismo.
Autor consagrado da Vila Isabel diz que sambas atuais ainda são românticos
- Nós, da nova geração, acabamos sendo o símbolo da decadência para esses que falam mal. Quando dizem que os sambas ficaram ruins, acho que é puro saudosismo. Há quem defenda que o Pelé jogava mais que o Zico, por exemplo, porque existe uma coisa de sempre valorizar o antigo, cada um defendendo o que vivenciou na sua geração. Hoje, já me considero um veterano, mas não acho os sambas de agora menos românticos que os de antigamente. Os compositores são a maior vítima do processo. Todo mundo julga, diz que o samba é corrido, que é isso, é aquilo… – lamenta Diniz, que atribui aos enredos propostos pelas escolas o aumento do grau de dificuldade na elaboração das letras dos sambas:
- Hoje, você tem que falar de 15 assuntos num mesmo samba, que só tem 28 versos. No carnaval da Vila Isabel desse ano, por exemplo, o enredo era cabelo. Eu tinha que falar de Shiva, Sansão e Dalila, Cleópatra, Meduza, beleza, o cuidar dos cabelos, etc. É muita coisa pra falar em poucas linhas. Não é apenas uma história que você pega e disseca. São vários assuntos que você precisa transformar num só – argumenta o compositor, que além de escrever sambas é professor de História.
Monarco acha que hoje os sambas são descartáveis
Setenta e sete anos de história e autor de clássicos como “Passado de Glória” e “Coração em Desalinho” (esta composta em parceria com Ratinho de Pilares), Monarco diz que entende e respeita a opinião de cada um. Mas, conservador, admite que prefere, sim, os sambas de outrora e classifica os que hoje fazem sucesso como descartáveis.
- Cada um tem seu ponto de vista, mas é só reparar que quando uma escola de samba desfila no sábado das campeãs, por exemplo, o componente já não sabe mais o samba. Passa o carnaval, ninguém lembra a letra nem a melodia. O samba ficou muito descartável. Tem muita coisa que não faz bem aos meus ouvidos, muita coisa repetitiva – afirma o ilustre portelense.
E, se André Diniz considera saudosista quem defende os sambas antigos, Monarco concorda e reitera o saudosismo. Bons tempos, para ele, eram aqueles em que um compositor, ao ver ser cantado na quadra da escola um samba melhor que o de sua autoria, retirava a composição da disputa em benefício da agremiação.
- Eu mesmo fiz isso quando vi um samba de Candeia melhor do que o meu. Antigamente, essa era uma prática comum. Hoje, o cara tá com um samba ruim à beça, mas leva 10 ônibus com torcida para a quadra, é amigo da mulher do presidente e ganha o samba. Nos bons tempos, o camarada que ouvia um samba melhor que o dele pulava fora e enfiava a viola no saco – conclui Monarco.
Quem quiser acompanhar o desenrolar do debate, que será mediado pelo escritor Luiz Antonio Simas (coautor do livro “Samba de enredo – história e arte”), deve chegar cedo ao CCBB, pelo menos até uma hora antes do início do seminário, e retirar a senha, gratuitamente, na portaria principal.
Fonte: www.tudodesamba.com.br
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