Por Rodrigo Coutinho
Dez! O som desta palavra soa como glória e reconhecimento do trabalho para as escolas de samba, mas no caso das agremiações da Série A do carnaval carioca, o tão sonhado dez vai dando lugar a uma espera que já chega ao décimo mês, e pelo visto ainda vai demorar para acabar. Desde que a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou oficialmente a construção da Cidade do Samba 2 às margens da Avenida Brasil, em Benfica, no local onde funcionou a fábrica do Sabão Português, em agosto do ano passado, nada ou muito pouco foi feito para a concretização de um antigo sonho das escolas de samba que não compõem a elite do carnaval carioca.
- Estamos negociando a compra da antiga fábriga de sabão português (UFE), na Avenida Brasil. Em breve fecharemos. Vamos resolver o problema das escolas de samba que ficavam ali na Zona Portuária e tiveram que sair por conta das obras. Além disso é uma área muito privilegiada, na entrada do Rio - disse o prefeito Eduardo Paes em agosto de 2012, em entrevista ao jornal Extra.
Confira a galeria de fotos do local
Enquanto a questão é levada em ‘’banho maria’’ pelo órgão municipal, várias escolas da Série A, agremiações mirins e escolas dos grupos que desfilam na Intendente Magalhães, continuam convivendo com péssimas condições e estrutura para guardarem suas alegorias e iniciarem a produção do Carnaval de 2014.
O caso mais gritante é o vivído por União de Jacarepaguá, Unidos de Padre Miguel e Unidos do Viradouro. As duas primeiras confeccionaram suas alegorias em um terreno próximo ao Cemitério do Caju antes do último carnaval, mas tiveram que deixar o local a pedido da Prefeitura. O mesmo aconteceu com a Vermelho e Branco de Niterói, que nem pôde retornar ao galpão que ocupava, próximo à Rodoviária Novo Rio. O detalhe é que as escolas foram realocadas pela própria Prefeitura no terreno que receberá a Cidade do Funk, também na Avenida Brasil, ao lado da futura Cidade do Samba 2. O problema é que o local não tem cobertura e muito menos ponto de luz.
- Nós não tivemos condições nem de retornar para o antigo barracão. Que eu saiba, nada está sendo feito lá. Acho que dava para continuarmos pelo menos para esse carnaval. Ficamos três dias na rua, gastando dinheiro com empurrador e seguranças para vigiar as alegorias. É uma situação muito difícil. Já estamos há três meses no terreno que nos mandaram e até agora nada foi feito. Apesar disso, tenho fé e acredito que as coisas se resolverão – disse Gusttavo Clarão, presidente da Unidos do Viradouro.
Para Simões Gama, comandante da Unidos de Padre Miguel, a questão poderia ser facilmente resolvida com um pouco mais de boa vontade.
- Faço um pedido ao prefeito. Que essa questão se resolva logo. O tempo está passando e estamos tendo prejuízo. Tenho toda a estrutura do meu barracão antigo esperando para construir aqui, mas nem isso eu posso fazer. Esse terreno (futura Cidade do Funk 2) precisa de uma série de ajustes técnicos e não temos a permissão para construir nada aqui. Enquanto isso, as alegorias ficam expostas ao sol, à maresia, às chuvas. Tudo isso vai corroendo as ferragens das alegorias e as tornando inutilizáveis. Precisamos de uma resolução urgente, mas não sei se estão preocupados com isso agora. É muito simples. O Sabão Português está fechado. Porque não abrir um portão daqueles e autorizar a nossa entrada. Dava pra fazer uma adequação lá dentro, pelo menos até o próximo carnaval. O que não pode é esperar chegar dezembro para resolver isso. Aí não dá mais tempo – disse Simões, que além de presidente da escola, tem formação técnica na área e é ferreiro-chefe da agremiação.
A reportagem do site CARNAVALESCO esteve presente no local e constatou o cenário descrito por Simões Gama. Constatou também a facilidade de acesso ao local por parte de qualquer pessoa. Há chapas de ferro cercando o terreno, mas entre as chapas há falhas de colocação, isso sem contar a altura da cerca. Até por isso, a escola da Vila Vintém contratou um segurança para impedir os furtos que já aconteceram no local, de acordo com Reinaldo Bandeira, presidente da União de Jacarepaguá.
- Fomos furtados lá. Roubaram coisas nossas. É uma situação muito chata para quem tem a responsabilidade de fazer um belo espetáculo na Avenida. É um local sem a menor condição. Fomos remanejados para lá com a informação de que seria algo provisório, até nos colocarem algum lugar, mas até agora nada foi feito. Não sei se estão tão preocupados com isso. Estão prestando a atenção só em Copa do Mundo e Copa das Confederações. Semana passada mostraram uma maquete digital de como vai ficar a Cidade do Samba 2 lá na Lierj, mas maquete igual a essa eu vejo desde os anos 90, na Associação das Escolas de Samba. Disseram que fariam um projeto desses no antigo Carandiru, mas nos expulsaram de lá, igualzinho estão fazendo agora. Continua faltando olharem mais a situação dos grupos de acesso – opinou Bandeira.
A maquete apresentada na sede da Lierj, na última semana, projeta como ficará o local. De acordo com as imagens, será necessário a demolição de parte da grande estrutura que hoje está erguida na antiga fábrica Sabão Português, o que demanda ainda mais tempo. O site CARNAVALESCO entrou em contato com a RioTur, pasta responsável pelo carnaval na Prefeitura do Rio. Foi pedido então que o contato fosse feito com a RioUrbe, braço da Prefeitura responsável pelo gerenciamento de algumas obras na cidade do Rio de Janeiro, entre elas a Cidade do Samba 2, mas até o fechamento da matéria não obtivemos resposta. A assessoria de imprensa do órgão informou que ainda aguardava uma resposta oficial. O primeiro contato foi feito na última sexta-feira.
Mais companhia?
A situação que hoje atinge as três agremiações já citadas, pode atrapalhar também outra agremiação da Série A, a Acadêmicos de Santa Cruz. A Verde e Branco, que ocupa um espaço na esquina das Avenidas Professor Pereira Reis e Rodrigues Alves, na altura do Armazém 14 do Cais do Porto, já recebeu notificação da Companhia Docas e terá que deixar o local antes do Carnaval 2014. Vale lembrar que foi a própria Prefeitura que alojou a Santa Cruz no local.
- Sei que o terreno para a Cidade do Samba 2 já está comprado e a maquete já foi mostrada, mas peço um pouco de paciência para a Docas e atenção da Prefeitura para resolver essa questão. Não é que não vamos sair. Não é isso! É deles e eles têm o direito de pegar o terreno, mas também não podemos ficar na rua. Esse local que estamos aqui, foi valorizado com a nossa presença. Limpamos o terreno e a Prefeitura nos ajudou a construir essa estrutura aqui. Antes era um esquina perigosa, havia assaltos e ninguém gostava de passar. Agora nós não deixamos mais isso acontecer. Peço que o Poder Público se una. O carnaval é bom para todos. Vamos sentar na mesa e resolver. Se o Poder Público não pode, como eu, um simples professor, posso? – pergunta Antônio Moisés Coutinho, o Zezo, presidente da Santa Cruz.
Ao lado do barracão da Santa Cruz, há um espaço que atualmente é ocupado pela Renascer de Jacarepaguá, mas que será ocupado pela Inocentes de Belford Roxo, assim que a agremiação da Baixada deixar a Cidade do Samba. O site CARNAVALESCO recebeu a informação de que o lugar também teria de ser entregue à Companhia Docas do Rio de Janeiro, órgão federal que administra os portos da cidade do Rio de Janeiro, Niterói, Angra dos Reis e Itaguaí. A informação, porém, não foi confirmada oficialmente até o fechamento da matéria.
Fonte: www.carnavalesco.com.br
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