Por Caio Barbosa
Sem vencer o Carnaval desde 1984, a Águia se recolheu em seu canto para voltar a voar mais alto que as demais escolas
Rio - A lenda da águia conta que a ave, para viver até 70 anos, precisa em dado momento arrancar as próprias asas, garras e o bico a fim de se renovar. É o que a Portela tem feito. Sem vencer o Carnaval desde 1984, a Águia de Madureira recolheu-se em seu canto para voltar a voar mais alto que as demais escolas.
Só que em vez de arrancar partes suas, a Azul-e-Branco trouxe de volta ao ninho seu maior baluarte: Paulinho da Viola. Aos 70 anos, ele recebeu o DIA na quadra da escola e, firme, desabafou que a maior campeã do Carnaval, com toda sua importância histórica, não pode ficar abandonada como esteve nas últimas três décadas.
Foto João Laet/Agência O Dia
O DIA: Após décadas de encontros e desencontros com a direção da Portela, você, enfim, ganha o título de benemérito da escola. O reconhecimento, mesmo tardio, te emociona?
PAULINHO: Demais. Voltar à quadra, à minha escola, como benemérito, é uma honra muito grande. Me emociona, e a gente esquece de tudo o que passou. A Portela é maior do que todos nós.
Você sempre foi tão bom em traduzir sentimentos em palavras e canções. Seria pedir muito para contar o que é a Portela para Paulinho da Viola?
Ahhh (suspiro), a Portela é muito maior do que qualquer coisa que eu venha a falar. Não é apenas uma escola de samba, mas uma escola de vida. E ela precisa ser preservada pela importância histórica que tem para a cultura carioca, para a cultura brasileira. A Portela é uma instituição, não uma coisa qualquer.
Neste seu retorno à quadra, lembrar de velhos amigos que se foram sem jamais terem recebido o devido reconhecimento da escola foi inevitável. Em quem você pensou ou a quem você se referia?
Fiquei emocionado quando entrei na quadra. Reencontrei a Vilma, que é simplesmente a maior porta-bandeira da história do Carnaval e eu não via há muitos anos. Aí, me lembrei de amigos como Candeia, Bubu, Picolino, Alberto Lonato, Manacéia. Lembrei do Seu Ventura, do João da Gente. São as pessoas com quem eu convivi ao longo da vida e deram muito à Portela. Fiquei com saudade, claro.
Nos conte um pouco de como era a convivência com todos esses bambas. Alguma história te marcou em especial?
São várias histórias. O conjunto da obra é que fica, que marca. Eu morava no Valqueire e vinha sempre à Madureira pela vida que havia aqui, as histórias. Quando se é jovem, o que você quer? Histórias, informações, quer aprender. E todas essas pessoas tinham uma vida incrível, uma memória fantástica. Eu ficava ali, ouvindo tudo, aprendendo tudo.
Um aprendizado que, imagino, não tenha sido apenas musical.
Claro que não. Era um aprendizado de mundo, de como se comportar, de compreensão do nosso lugar. E, musicalmente, nem preciso falar. Tudo o que sou aprendi com esse pessoal.
Você é avesso a badalações, tem uma vida recatada, mas gosta muito de um bate-papo, de ouvir histórias do cotidiano. Cecília, sua filha, me contou que outro dia você foi a Jacarepaguá comprar uma porta para sua casa. ‘Taí’ um lado do Paulinho que muita gente não conhece.
Nem fui. Mas porque ela não deixou (risos). Disse que não daria tempo de vir à Portela e ela adora a quadra. Mas qual é o problema de eu ir compra uma porta, gente? Antigamente, eu fazia as portas. Agora eu compro (risos). Mas adoro interagir. Cansei de sair de casa para ir ao Centro, na Saara, apenas para conversar com as pessoas. Fiz isso várias vezes.
É deste contato com o povo, com o pessoal que está sempre na rua, que saem os sambas inesquecíveis, as histórias...?
Claro. Não é dentro de casa que a gente aprende essas coisas. É primordial andar na rua. Ainda mais para um sambista, né? (risos).
Você, hoje, é muito mais próximo do samba do que do Carnaval, se é que podemos separar as duas coisas. Ainda assim, é possível dar alguma sugestão à nova diretoria da Portela?
A Portela tem que se voltar para ela, fazer uma autorreflexão. A dica que serve para cada um de nós também serve para a escola. Quando estamos na pior, precisamos nos reencontrar. Assim tem que ser para a Portela. Temos uma história linda, de ligação com a Zona Norte da cidade, com o bairro de Madureira, com algumas manifestações religiosas, o jongo, a cultura negra. Isso não pode ser esquecido e precisa ser valorizado sempre.
A Portela foi campeã pela última vez em 1984, quando dividiu o título com a Mangueira, e ainda é a maior campeã do Carnaval, com 21 títulos. Será que agora, com Serginho Procópio na presidência e Paulinho da Viola mais próximo, dá para vencer novamente?
Ganhar o Carnaval seria fantástico para todo portelense, para quem vive essa escola, para o Carnaval, mas, se a Portela voltar a ser a Portela, já será uma grande conquista. Feito isso, ganhar o Carnaval será consequência. Se não for em 2014, será em 2015 ou em 2016. O que a gente precisa ter em mente é acima de tudo o resgate da cultura, da história da nossa escola de samba. Isso é o mais importante. As pessoas precisam conhecer melhor a Portela e valorizar tudo o que ela representa para o país.
PAULINHO: Demais. Voltar à quadra, à minha escola, como benemérito, é uma honra muito grande. Me emociona, e a gente esquece de tudo o que passou. A Portela é maior do que todos nós.
Você sempre foi tão bom em traduzir sentimentos em palavras e canções. Seria pedir muito para contar o que é a Portela para Paulinho da Viola?
Ahhh (suspiro), a Portela é muito maior do que qualquer coisa que eu venha a falar. Não é apenas uma escola de samba, mas uma escola de vida. E ela precisa ser preservada pela importância histórica que tem para a cultura carioca, para a cultura brasileira. A Portela é uma instituição, não uma coisa qualquer.
Neste seu retorno à quadra, lembrar de velhos amigos que se foram sem jamais terem recebido o devido reconhecimento da escola foi inevitável. Em quem você pensou ou a quem você se referia?
Fiquei emocionado quando entrei na quadra. Reencontrei a Vilma, que é simplesmente a maior porta-bandeira da história do Carnaval e eu não via há muitos anos. Aí, me lembrei de amigos como Candeia, Bubu, Picolino, Alberto Lonato, Manacéia. Lembrei do Seu Ventura, do João da Gente. São as pessoas com quem eu convivi ao longo da vida e deram muito à Portela. Fiquei com saudade, claro.
Nos conte um pouco de como era a convivência com todos esses bambas. Alguma história te marcou em especial?
São várias histórias. O conjunto da obra é que fica, que marca. Eu morava no Valqueire e vinha sempre à Madureira pela vida que havia aqui, as histórias. Quando se é jovem, o que você quer? Histórias, informações, quer aprender. E todas essas pessoas tinham uma vida incrível, uma memória fantástica. Eu ficava ali, ouvindo tudo, aprendendo tudo.
Um aprendizado que, imagino, não tenha sido apenas musical.
Claro que não. Era um aprendizado de mundo, de como se comportar, de compreensão do nosso lugar. E, musicalmente, nem preciso falar. Tudo o que sou aprendi com esse pessoal.
Você é avesso a badalações, tem uma vida recatada, mas gosta muito de um bate-papo, de ouvir histórias do cotidiano. Cecília, sua filha, me contou que outro dia você foi a Jacarepaguá comprar uma porta para sua casa. ‘Taí’ um lado do Paulinho que muita gente não conhece.
Nem fui. Mas porque ela não deixou (risos). Disse que não daria tempo de vir à Portela e ela adora a quadra. Mas qual é o problema de eu ir compra uma porta, gente? Antigamente, eu fazia as portas. Agora eu compro (risos). Mas adoro interagir. Cansei de sair de casa para ir ao Centro, na Saara, apenas para conversar com as pessoas. Fiz isso várias vezes.
É deste contato com o povo, com o pessoal que está sempre na rua, que saem os sambas inesquecíveis, as histórias...?
Claro. Não é dentro de casa que a gente aprende essas coisas. É primordial andar na rua. Ainda mais para um sambista, né? (risos).
Você, hoje, é muito mais próximo do samba do que do Carnaval, se é que podemos separar as duas coisas. Ainda assim, é possível dar alguma sugestão à nova diretoria da Portela?
A Portela tem que se voltar para ela, fazer uma autorreflexão. A dica que serve para cada um de nós também serve para a escola. Quando estamos na pior, precisamos nos reencontrar. Assim tem que ser para a Portela. Temos uma história linda, de ligação com a Zona Norte da cidade, com o bairro de Madureira, com algumas manifestações religiosas, o jongo, a cultura negra. Isso não pode ser esquecido e precisa ser valorizado sempre.
A Portela foi campeã pela última vez em 1984, quando dividiu o título com a Mangueira, e ainda é a maior campeã do Carnaval, com 21 títulos. Será que agora, com Serginho Procópio na presidência e Paulinho da Viola mais próximo, dá para vencer novamente?
Ganhar o Carnaval seria fantástico para todo portelense, para quem vive essa escola, para o Carnaval, mas, se a Portela voltar a ser a Portela, já será uma grande conquista. Feito isso, ganhar o Carnaval será consequência. Se não for em 2014, será em 2015 ou em 2016. O que a gente precisa ter em mente é acima de tudo o resgate da cultura, da história da nossa escola de samba. Isso é o mais importante. As pessoas precisam conhecer melhor a Portela e valorizar tudo o que ela representa para o país.
Fonte: O Dia na Folia
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