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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Evento cultural agitou a quadra da Portela

Por GRES Portela

A quadra da Portela foi palco do 1º Encontro dos Departamentos Culturais das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, na tarde deste sábado. Promovido pela área cultural da azul e branca de Madureira, o evento contou com a participação de integrantes de diversas agremiações.

O diretor do Departamento Cultural da azul e branca de Madureira, Luís Carlos Magalhães, destacou para o SRZD-Carnaval a importância da realização do encontro, incentivado a partir da nova administração da agremiação. "A ideia é agrupar os departamentos das outras escolas para juntos trocarmos experiências, sejam os êxitos ou dificuldades. Há um sentimento único de que há muita coisa a se fazer em comum, porque o Carnaval tem uma evolução inevitável, mas temos uma necessidade de preservar os fundamentos das agremiações. E precisamos nos organizar para juntos levarmos a bandeira maior, que é a do samba."

Já por volta das 16h, teve inicio a primeira mesa de debate, com o tema "Escolas de Samba, memórias e sociedade", com a participação dos pesquisadores Marília Barbosa, Helena Theodoro e Luis Antônio Simas. Momentos antes da abertura, o presidente da escola, Serginho Procópio, enalteceu a reunião promovida pelo Departamento Cultural da agremiação: "Falar da cultura da escola e dos bambas que fizeram parte da nossa história é muito importante e eu me sinto muito a vontade aqui."

Durante o debate, a pesquisadora Marília Barbosa criticou o atual formato dos desfiles das escolas de samba e afirmou que é preciso respeitar a tradição das escolas. "Há uma distanciamento do público porque o produto ficou muito caro. O foco deixou de ser o samba e passou a ser outros aspectos. As escolas estão fazendo desfiles iguais, é sempre a mesma coisa. É importante vincular a modernidade, mas sem perder o lado tradicional, cultivando o samba."

Já para a pesquisadora Helena Theodoro, e também blogueira do SRZD-Carnaval, é muito grave a falta do entendimento dos simbolismos das escolas. "Entender que baianas são importantes e que passistas levam as danças dos orixás nos movimentos faz parte da simbologia da escola de samba, e esse conhecimento está se perdendo hoje."

Ainda de acordo com Helena, é preciso reconhecer a importância da ancestralidade no mundo do samba. "A oralidade é muito destacada na escola de samba, provoca um poder de pertencimento aos componentes. Valorizar os homens e os sambistas com condição de cidadão é fundamental. Quem não olha pra trás, não consegue olhar para frente."

Encerrando a primeira rodada do debate, o também pesquisador e autor de diversos livros sobre Carnaval, Luis Antônio Simas, alertou as diferenças daquilo que considera como o que deva ser a função principal do departamento cultural dentro das escolas de samba. "O desfile é o evento, mas a escola é a prática da cultura, construção e reconstrução entre pessoas. As escolas precisam pensar muito além do Carnaval."

Logo em seguida, foram abertas as inscrições de perguntas, que contou com a participação do bom público que prestigiou o evento na quadra da azul e branca de Madureira. Momentos depois, o diretor Rogério Rodrigues abriu a segunda mesa de debates. Foi a vez dos representantes de diversas escolas de samba, dentre elas, Sagueiro, União da Ilha, Viradouro, Unidos de Vila Isabel, Mocidade, Caprichosos e da diretora do Centro Cultural Cartola, Nilcemar Nogueira. Eles falaram sobre os projetos culturais que estão desenvolvendo em suas respectivas agremiações, como exposições, publicações, recuperação de acervos, dentre outros assuntos.

E ainda durante a reunião na quadra da Portela, o SRZD-Carnaval ouviu a opinião de alguns participantes sobre a realização do primeiro encontro de Departamentos Culturais. Confira:

Helio Ricardo Rainho, blogueiro do SRZD-Carnaval:

"Acho uma iniciativa bastante interessante, porque são as áreas que trabalham pela preservação das tradições e do grande legado da escola de samba. A partir desse encontro, se cria uma consonância desses universos, que muitas vezes atuam distantes. E mais uma vez as escolas primam pela unidade, deixando claro que a disputa fica só na Avenida."
Tiãozinho da Mocidade, compositor:

"Acho que este tipo de encontro deveria acontecer em todas as escolas para discutirmos nossas raízes. Muita gente está modificando o samba, e se esse resgate não existir, vamos perder a essência da nossa história. É aquela velha máxima de não deixar o samba morrer."

Artur Bernardes, diretor cultural da Caprichosos de Pilares:

"Esse espaço é de suma importância para demonstrar o quanto é importante a cultura para a escola de samba. E aqui podemos mostrar os trabalhos que estamos desenvolvendo e o que ainda podemos fazer pelo Carnaval e pelo público em geral."

Documentário faz pré-estreia durante o evento

Última atividade do evento, a exibição da pré-estreia do documentário "O que move o samba-Portela" brindou o público presente. O filme mostra uma visão interna dos acontecimentos que fazem parte da vida dos portelenses nos preparativos para a festa na Sapucaí, e começou a ser produzido um mês antes do desfile do último Carnaval. Os diretores George Salguetto e Vander Lan Correia conversaram com o SRZD- Carnaval sobre o processo de criação do documentário. "A proposta foi exaltar a nova fase da Portela e mostrar para quem conhece o Carnaval o ponto de vista da comunidade, os bastidores e o que acontece antes do dia do desfile. Estamos recebendo muitos elogios pelo filme e esperamos que todos gostem do trabalho."


Clicar aqui para ver as fotos do evento



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