Dodô, da Portela, de todos nós
Paulo Oliveira
No dia 03 de janeiro de 2014, Dona Dodô completou 94 anos. Essa data é sempre carregada de simbolismos para os amantes da Portela. E o maior deles é o fato dessa mulher extraordinária ter construído uma história que, por si só, já daria um belo romance, ou mais ainda, um daqueles belos filmes, e com final muito feliz, para ela e para todos nós, que não cansamos de nos orgulhar dessa deusa da passarela. A maior dificuldade da data é achar formas de homenagear nossa eterna dama. E como agradecer suficientemente a essa figura ímpar, cuja existência por si só já é uma bênção para todos nós, portelenses? Como prestar as devidas honras a esse presente a nós generosamente legado pelo tempo e que se inscreve nas mais belas páginas da história do carnaval carioca? O fato é que palavras jamais traduzirão esse presente que é ter Dona Dodô entre nós, jovial, altiva, ainda hoje bailando pela quadra de nossa azul e branco.
1935 e 2014. Dois momentos emblemáticos da história portelense. O que pode e deve aprender a Portela que hoje ressurge, bafejada pelos ventos da renovação, com aquela Portela de outrora, que iniciava seu caminho de glória, tendo como Porta-Bandeira a nossa inesquecível Dodô? A resposta vem fácil, desliza: ontem, como hoje, Dona Maria das Dores Alves Rodrigues tem sido, não somente, uma presença constante, ela continua sendo um farol a nos iluminar o futuro. Basta ver o que disse nossa dama em uma entrevista de suas muitas entrevistas: “Eu dei 18 campeonatos. Portela tem 21. E te digo, se pego a bandeira, a Portela é campeã”.
Quanta vitalidade carrega essa jovem nonagenária! No corpo frágil, habita uma águia altaneira. E que emoção ver esse amor pela escola, daquele tipo de amor que imortalizamos no nome de nossa torcida, Portelamor, que nos leva às lágrimas como a esse cronista bobo, aprendendo, e se emocionando, com as lições dessa senhorinha de corpo miúdo, mas que colocou seu nome nas passarelas do samba: águia, de olhar certeiro, bailando como se voasse.
Na verdade, Dona Dodô, é a senhora que nos presenteia, sempre, a cada 03 de janeiro. É a senhora que nos homenageia, quando fala com essa força da querida azul e branco (e que belas misturas de cores, azul, branco, negro). Quando nos pegarmos lamentando das vicissitudes da vida, lembremos daquela menina que, criança, aportou no Morro da Providência para lá ficar por toda a vida e aos treze anos foi apresentada ao samba e logo dele se enamorou, paixão de toda uma vida. Aos quinze anos, Dona Dodô se imortalizou na história do carnaval, mais ainda, na história do Rio de Janeiro, do Brasil e quiçá do mundo – pois, no mundo, quantas mulheres pobres, negras, em um país que em fins do século XIX ostentava a ignomínia da escravidão, podem contar uma história como a dessa nossa senhorinha?
Não deve ter sido fácil ser a empacotadeira Maria das Dores. Tampouco deve ter sido fácil se transformar em Dodô, mas quando leio suas entrevistas as coisas parecem ter acontecido em sua vida de forma tão simples e doce, como se estivessem envoltas em brumas de encanto e magia, como se para essa diva os santos só pudessem reservar a luz mais brilhante, o asfalto mais cálido, o aplauso mais intenso e emocionado. No rodopio de Dodô, gira toda uma época, toda uma história de beleza se conta, e essa história nos transporta a uma época em que o amor pela Portela só pudesse ser incondicional, assim como é o amor de Dodô pelos símbolos que fizeram de nossa escola “o templo do samba” dos versos de Paulo César Pinheiro. Por isso, Dodô é da Portela e a Portela é o templo de Dodô, onde ela habita desde que naqueles distantes anos da década de 1930 ela deixou seu coração ser levado pelo rio azul e branco que passou em sua vida.
Então, a pergunta retorna: que lições tirar de 1935? Pioneira, a Portela inventou o carnaval moderno, criou muito do que hoje o desfile é; escola de invenção, promoveu alegorias, dignificou as velhas guardas, inovou, recriou, construí; escola de seguidores amorosos, tem uma torcida apaixonada a seu lado, “no sucesso ou no fracasso, pela glória do samba no Brasil”. Essas lições, podemos aprendê-las com nossa querida Dona Dodô. Basta beijar respeitosamente a sua mão, pedir sua benção e mirar em seu rosto forte para sentir o que é o carregar com leveza o peso dessa bandeira com suas 21 estrelas. Ética, dignidade, amor sincero, sem espera de algo em troca, como na passagem em que respondeu a Natal, que pedira a primeira bandeira para outra postulante ao cargo: “O pavilhão está às ordens”. E foi ser segunda porta-bandeira, até 1966. De lá para cá, esteve em todos os desfiles da Portela, mas já como mito. São essas as lições de Dona Dodô. Leiamos sua cartilha, para aprender com ela.
Por tudo isso, essa senhora veio mesmo foi para nos encantar. E se palavras desse dublê de cronista não serão jamais suficientes para dar conta de sua gratidão (e de todos os portelamorenses) por Dodô, ele então se arrisca na poesia, pedindo perdão às musas, pelos pobres versos que, se pecam em engenho e arte, transbordam de emoção. E em nome de nossa torcida, peço aos santos que Dodô tenha muitos e muitos anos de vida e saúde para brilhar em nossa Portela. Vai a singela homenagem, um poema para quem nos deu tanta poesia em sua trajetória de vida, única, majestosa:
1935 e 2014. Dois momentos emblemáticos da história portelense. O que pode e deve aprender a Portela que hoje ressurge, bafejada pelos ventos da renovação, com aquela Portela de outrora, que iniciava seu caminho de glória, tendo como Porta-Bandeira a nossa inesquecível Dodô? A resposta vem fácil, desliza: ontem, como hoje, Dona Maria das Dores Alves Rodrigues tem sido, não somente, uma presença constante, ela continua sendo um farol a nos iluminar o futuro. Basta ver o que disse nossa dama em uma entrevista de suas muitas entrevistas: “Eu dei 18 campeonatos. Portela tem 21. E te digo, se pego a bandeira, a Portela é campeã”.
Na verdade, Dona Dodô, é a senhora que nos presenteia, sempre, a cada 03 de janeiro. É a senhora que nos homenageia, quando fala com essa força da querida azul e branco (e que belas misturas de cores, azul, branco, negro). Quando nos pegarmos lamentando das vicissitudes da vida, lembremos daquela menina que, criança, aportou no Morro da Providência para lá ficar por toda a vida e aos treze anos foi apresentada ao samba e logo dele se enamorou, paixão de toda uma vida. Aos quinze anos, Dona Dodô se imortalizou na história do carnaval, mais ainda, na história do Rio de Janeiro, do Brasil e quiçá do mundo – pois, no mundo, quantas mulheres pobres, negras, em um país que em fins do século XIX ostentava a ignomínia da escravidão, podem contar uma história como a dessa nossa senhorinha?
Não deve ter sido fácil ser a empacotadeira Maria das Dores. Tampouco deve ter sido fácil se transformar em Dodô, mas quando leio suas entrevistas as coisas parecem ter acontecido em sua vida de forma tão simples e doce, como se estivessem envoltas em brumas de encanto e magia, como se para essa diva os santos só pudessem reservar a luz mais brilhante, o asfalto mais cálido, o aplauso mais intenso e emocionado. No rodopio de Dodô, gira toda uma época, toda uma história de beleza se conta, e essa história nos transporta a uma época em que o amor pela Portela só pudesse ser incondicional, assim como é o amor de Dodô pelos símbolos que fizeram de nossa escola “o templo do samba” dos versos de Paulo César Pinheiro. Por isso, Dodô é da Portela e a Portela é o templo de Dodô, onde ela habita desde que naqueles distantes anos da década de 1930 ela deixou seu coração ser levado pelo rio azul e branco que passou em sua vida.
Então, a pergunta retorna: que lições tirar de 1935? Pioneira, a Portela inventou o carnaval moderno, criou muito do que hoje o desfile é; escola de invenção, promoveu alegorias, dignificou as velhas guardas, inovou, recriou, construí; escola de seguidores amorosos, tem uma torcida apaixonada a seu lado, “no sucesso ou no fracasso, pela glória do samba no Brasil”. Essas lições, podemos aprendê-las com nossa querida Dona Dodô. Basta beijar respeitosamente a sua mão, pedir sua benção e mirar em seu rosto forte para sentir o que é o carregar com leveza o peso dessa bandeira com suas 21 estrelas. Ética, dignidade, amor sincero, sem espera de algo em troca, como na passagem em que respondeu a Natal, que pedira a primeira bandeira para outra postulante ao cargo: “O pavilhão está às ordens”. E foi ser segunda porta-bandeira, até 1966. De lá para cá, esteve em todos os desfiles da Portela, mas já como mito. São essas as lições de Dona Dodô. Leiamos sua cartilha, para aprender com ela.
Por tudo isso, essa senhora veio mesmo foi para nos encantar. E se palavras desse dublê de cronista não serão jamais suficientes para dar conta de sua gratidão (e de todos os portelamorenses) por Dodô, ele então se arrisca na poesia, pedindo perdão às musas, pelos pobres versos que, se pecam em engenho e arte, transbordam de emoção. E em nome de nossa torcida, peço aos santos que Dodô tenha muitos e muitos anos de vida e saúde para brilhar em nossa Portela. Vai a singela homenagem, um poema para quem nos deu tanta poesia em sua trajetória de vida, única, majestosa:
Águia negra
Ave rara
Sangue Azul
Branca saia
Ave rara
Sangue Azul
Branca saia
Poema que anda
Saudade que dança
Memória que baila
Tristeza que cala
Saudade que dança
Memória que baila
Tristeza que cala
Das dores de um carnaval
Magia lúcida e imortal
Envolta em manto divino
Guerreira de sangue real
Magia lúcida e imortal
Envolta em manto divino
Guerreira de sangue real
Rogai por nós, Mãe Maria
Rezai pelo Pavilhão
Que ergueste com tua mão
Na glória de um belo dia
Rezai pelo Pavilhão
Que ergueste com tua mão
Na glória de um belo dia
Pois tudo é teu, Mãe Senhora
De todos nós a primeira
A eterna e a derradeira
Rainha de nossa história
De todos nós a primeira
A eterna e a derradeira
Rainha de nossa história
(Com os mais amorosos votos de nossa torcida, muita saúde e felicidade)
Texto de Paulo Oliveira.
Publicado no site do Grupo Portelamor em 25/01/2014
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