Valendo exatos 40 pontos, o trabalho de uma porta-bandeira em conjunto com o seu mestre-sala é uma das marcas do carnaval. O bailar coreografado, o girar em defesa do pavilhão e o valor simbólico da bandeira de uma escola de samba sendo defendida e referenciada pelo casal são elementos componentes da mística dos desfiles e da história dessa manifestação cultural. Nesse contexto, insere-se a porta-bandeira não só como guardiã do pavilhão, mas também como representante da força da mulher na maior festa popular do país.
Foi pensando na valorização dessa força, que o Centro Cultural Cartola promoveu uma mesa redonda mediada pela pesquisadora e vice-presidente do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Rachel Valença com as portas-bandeiras Camyla Nascimento (Portela), Dandara Ventapane (Vila Isabel), Denadir (São Clemente), Giovanna Justo (Unidos do Viradouro), Lucinha Nobre (Mocidade), Roberta Freitas (Estácio), Rute Alves (Unidos da Tijuca), Shayene Santos (União da Ilha) e Squel Jorgea (Mangueira). Entre os assuntos, foram abordadas as fantasias do casal, a relação da porta-bandeira com o presidente da escola, o carnavalesco e o mestre-sala, bem como a dedicação integral dessas profissionais ao mundo do samba.
"Ser porta-bandeira era um sonho", afirma Giovanna
Atual porta-bandeira da Viradouro, Giovanna afastou a ideia de que o sonho das meninas da comunidade é ser apenas rainha de bateria. Segundo ela, o seu sonho sempre foi ser porta-bandeira: - Sou nascida e criada em Mangueira, meu pai já foi vice-presidente da escola e eu não quis assumir como porta-bandeira na época. Em 95, o presidente era o Roberto Firmino e ele me viu fazendo um teste com o Marquinhos e com o Ubiraci. Ele escolheu o Marquinhos e disse que íamos assumir como primeiro casal. Fui pra casa e chorei de medo e de alegria. Quando adentrei a Sapucaí pela primeira vez com a bandeira da Mangueira, eu chorei muito. Ganhamos naquele ano todos os dez. Quando saí da Mangueira e vi a escola passar, chorei a cada componente que via e acenava pra mim.
"Quando via uma porta-bandeira dançando bem com a bandeira da Mocidade, ficava feliz", conta Lucinha
Questionadas sobre a questão dos ciúmes quando outra porta-bandeira assume o pavilhão da escola do coração, as porta-bandeiras foram praticamente unânimes ao afirmar positivamente. Lucinha Nobre, porta-bandeira da Mocidade, disse que apesar do ciúmes, se sentia contente com o bom trabalho das sucessoras: - Fiquei 12 anos longe da Mocidade, mas quando via uma porta-bandeira dançando bem pela escola, eu ficava feliz. Sou Mocidade, mas também fiquei um pouco Tijuca e um pouco Portela, mesmo com os problemas que tive com o presidente Nilo Figueiredo na época em que desfilei. É gostoso desfilar pela escola do coração, mas também é bom ir para outra comunidade e ser respeitada lá.
"Tirei o esplendor na hora do desfile da São Clemente", revela Denadir
Ao falar sobre sua relação com os carnavalescos com quem já trabalhou, a porta-bandeira da São Clemente, Denadir, contou que pediu à carnavalesca Rosa Magalhães que retirasse o esplendor de sua fantasia para o carnaval desse ano. A carnavalesca, porém, aceitou apenas diminuir o volume da peça. Denadir conta que, na hora do desfile, optou por retirar o esplendor: - 'Fiz a maluca' e tirei o esplendor minutos antes do desfile, a fantasia ficava mais bonita assim e mais leve pra dançar. Tenho boa relação com a Rosa, mas já tive problema com dois carnavalescos . Quando isso acontece, vou direto ao presidente, porque ele quer nota do casal como quesito. Os carnavalescos com quem melhor me entrosei foram o Max Lopes e o Lane Santana, viraram meus amigos pessoais.
Squel: "Já passei por muitos perrengues na Avenida"
Defensora do pavilhão da Mangueira, Squel contou que a relação entre as ideias do carnavalesco e a execução do costureiro já a colocou em alguns apuros em desfiles: - Já passei por muitos perrengues com fantasia e depois diziam que tínhamos dançado mal. O costureiro pode nos ajudar ou nos derrubar: se ele não colocar os pés do carnavalesco na realidade, ele nos derruba. Dançar em 2004 com o enredo da camisinha do Joãosinho 30 na Grande Rio foi difícil, assim como em 2009 também tive problemas de evolução por causa da fantasia.
"Nenhuma de nós chega na Sapucaí pra fazer o que não sabe", dispara Rute
Na concepção de Rute, porta-bandeira da Unidos da Tijuca, o grande culpado pelos problemas enfrentados pelos casais com as fantasias são os presidentes das escolas: - Nenhuma de nós chega na Sapucaí pra fazer o que não sabe. O grande culpado pelo problema é o presidente, afinal, o carnavalesco é tão contratado da escola como nós. Nenhum presidente é novo no carnaval e começou ontem pra não saber o que prejudica um casal. O ideal seria o casal participar de todo o processo de confecção da sua fantasia.
Fonte: www.carnavalesco.com.br
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