No coração de Ipanema, ponto central do carnaval de rua do Rio, e bairro-mãe de diversas vertentes culturais e sociais que lançaram moda e tendências, aconteceu mais uma edição do "Vozerio", encontro tradicional que reúne importantes cabeças pensantes da cidade. Participaram da conversa, mediada pela editora do "Vozerio" Anabela Paiva, a jornalista de "O Globo", Flávia Oliveira, a também jornalista presidente da Sebastiana, Rita Fernandes, e o pesquisador do Centro de Referência do Carnaval, Felipe Ferreira.
Os debatedores trataram da forma como a cidade encara o carnaval hoje. Se o carioca toma as ruas e colore a cidade nos desfiles dos blocos, o mesmo não acontece no Sambódromo, onde há uma séria dificuldade gestora e de financiamento, segundo a jornalista Flávia Oliveira.
'Que carnaval queremos?', questiona Flávia Oliveira
A jornalista Flávia Oliveira é uma frequentadora das quadras das escolas de samba e marca presença todo ano no Sambódromo no desfile das escolas de samba. Segundo ela, a grande dificuldade do carnaval da Sapucaí mora no modelo de gestão. - Que festa é essa e o que queremos dela? Há um problema gravíssimo de gestão. O século XXI tem outros valores éticos e nota-se um esgarçamento de um modelo que ainda é controlado pela contravenção. Os bicheiros ganharam muito espaço. Hoje sente-se claramente uma aversão a este modelo. Por isso, a capacidade de captação de investidores está comprometida - opinou.
Ainda de acordo com a jornalista em sua fala, o mal momento do carnaval das escolas de samba está apoiado em três pontos nevrálgicos. - Administração, financiamento e essência. São os pontos de desequilíbrio. O modelo permite aberrações como o enredo. As escolas vendem seus enredos desesperadas para conseguir colocar o carnaval na rua. Some-se a isso uma crise criativa e a falta de interesse do público e temos um futuro preocupante - apontou Flávia.
'Os blocos arrastam um Rio por ano nas ruas', avalia Rita Fernandes
Fundadora do bloco Imprensa que eu gamo, presidente da Sebastiana e foliã inveterada, Rita Fernandes trouxe luz ao debate com os impressionantes números do carnaval de rua atualmente na cidade. - Em 1 mês, são 6 milhões de pessoas nas ruas. O Rock in Rio em 15 edições teve 8 milhões. É o grande encontro do folião - esclareceu.
Rita considera que o atual momento vivido pelos blocos precisa da conversa com o poder público, sem perder a essência anárquica das ruas. - Só conseguimos um olhar do poder público a partir de 2009, pois éramos ignorados. A Sebastiana nasce no afã de dialogar. É importante organizar para não prejudicar a vida das pessoas - afirmou Rita.
'O carnaval de rua e o da Sapucaí são um só', opina Felipe Ferreira
Antes que se crie na cidade um clima de rivalidade entre dois modelos de carnaval, o pesquisador Felipe Ferreira explica que ambos são um só. - Não é o carnaval de rua x carnaval da Sapucaí. As escolas de samba nasceram no início dos anos 20, mas também desfilavam nas ruas, na região do Centro. O Sambódromo surgiu em meados dos anos 80 - contou.
Segundo o pesquisador, a valorização cultural do carnaval é uma vertente importante para o Rio de Janeiro. - Na cidade do Rio a carioquice vem de diversas maneiras de visão de mundo e o carnaval é uma delas. A malandragem e o gingado das escolas de samba aliada à contestação e forma anárquica com que os blocos sempre existiram, temperada agora com a multiculturalidade cultural e de ritmos da explosão de novos blocos. Tudo isso é o tempero da vida cotidiana da cidade, e o carnaval está inserido neste contexto - finalizou Felipe Ferreira.
Fonte: www.carnavalesco.com.br
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