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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Se o samba é bom, que vá para a Sapucaí!

Redação SRZD

O assunto do momento é ela: Denise Reis. Com um samba-enredo que surpreendentemente é um samba-enredo no mais completo sentido do termo, Denise provocou comichões no mundo do samba. Nas rodas de conversa e nas redes sociais, o "samba da Denise" é tema constante: desde pessoas que não "viram isso tudo" até um certo movimento de clamor pela escolha do samba.

- Denise Reis: 'É emoção demais ver a repercussão de uma coisa que começou sem pretensão'

O fato é que o assunto Denise Reis não é ignorado por ninguém. Dentre os inúmeros comentários, o que mais me chama atenção são aqueles que elogiam o samba e que o acham maravilhoso, porém afirmam que a obra não irá longe na disputa. Quando pergunto o porquê disso, a justificativa quase sempre é a mesma: "um samba como este não cabe no Carnaval atual, hoje as coisas estão diferentes, é preciso estrutura para participar da disputa de samba".

Mas como assim, amigo sambista? Se o samba é bom, é atemporal. Não existe isso de "é um samba-enredo com cara de samba de antigamente". E quanto à estrutura, a qual estrutura as pessoas se referem? Recursos para imprimir a letra em papel especial, bandeirolas e balões coloridos para o momento em que o samba for cantado, um estúdio equipado para que a gravação saia perfeita? Mas se o samba é bom, todas essas coisas não deveriam ser supérfluas? Não deveria estar em segundo plano? Afinal, amigo sambista, o samba é bom. O samba é muito bom.

Outra questão me inquieta: há quanto tempo não temos, aqui no Rio, uma mulher tendo seu samba cantado na Sapucaí? Temos grandes compositoras de samba em nosso país, mas quando pensamos em composição de samba de enredo, as mulheres não estão representadas com a força que deveriam. Onde estão estas mulheres? Por que não conseguem mostrar seu talento na disputa de sambas?

Isso me faz refletir sobre os caminhos que o samba de enredo e suas disputas têm seguido. O profissionalismo de certas parcerias, a dificuldade dos compositores que não dispõem de recursos financeiros para colocar seu samba na rua, enfim. Quando o samba não dá espaço para as chamadas parcerias menores (não gosto do termo, mas é necessário utilizá-lo para que possamos refletir com clareza) não é só o compositor que é prejudicado. Músicos e intérpretes que não estão em nenhuma agremiação, e que muitas vezes estão iniciando a carreira, perdem a oportunidade de mostrarem seu talento.

É preciso abrir o círculo, caro sambista. As disputas de samba necessitam ser inclusivas, para que todos aqueles que compõem samba de enredo tenham oportunidades iguais para apresentar suas obras, independente do tamanho da parceria. Nesta questão, creio que as alas de compositores de cada agremiação devem estar atentas aos talentos que surgem dentro de suas quadras. É preciso olhar para dentro das escolas e assim contribuir para formar novos cantores, músicos, compositores.

Quanto à Denise, me junto à massa de pessoas que clamam pelo seu samba. Que anseiam por ver uma obra como a dela na Marquês de Sapucaí. Me junto àqueles que são amantes do samba de qualidade, do samba de enredo que emociona, que vicia os ouvidos e nos faz cantar incessantemente. Sei que escolher um samba de enredo que é querido pelos sambistas, mas que não segue a tendência atual, talvez seja um ato de coragem. Quem sabe não é disto que estamos precisando? De coragem na hora das escolhas.

*Cristiane Lourenço - Colaboradora do SRZD


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