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domingo, 1 de junho de 2014







Dorina lançou em novembro de 2013 seu novo CD, Sambas de Luiz. Como já era esperado, o CD está repleto de canções e interpretações magistrais, e presta as devidas homenagens a esse grande músico e poeta do samba que foi Luiz Carlos da Vila. No encarte do CD Tem mais samba, de Dorina, Hugo Sukman disse que, se formos a um samba bom no Rio de Janeiro e Dorina não estiver lá é porque ela está em outro samba, ou aquele samba que falaram que era bom não é tão bom assim. Na tarde de 24 de maio de 2014, lá estava Dorina, no Cordão da Bola Preta, onde se apresentaram o grupo de jongo Razões Africanas, a Velha Guarda da Portela e ela própria. Então, só podia ser samba bom, da melhor qualidade. A entrevista que ela concedeu a nossa torcida Portelamor reflete esse alto astral. Vamos a ela.

Portelamor: Dorina, obrigado pela entrevista, pela atenção. Em primeiro lugar, gostaríamos de saber um pouco mais do seu trabalho novo. Fale um pouco para a Portelamor sobre o CD Sambas de Luiz.
Dorina: Sambas de Luiz é assim... É um romance. Por isso é que saiu o CD. Porque a gente tinha uma amizade bacana, eu sempre estava junto com o Luiz Carlos (Luiz Carlos da Vila). Nós tínhamos um grupo, “Suburbanistas”, que era eu, Luiz Carlos e o Mauro Diniz, filho de Monarco. A gente fez muito show por aí, ficou mais próximo, acabamos tendo um escritório, juntos. Mas, enfim, eu já era fã das coisas que o Luiz fazia e eu quis prestar essa homenagem ao Luiz, fazendo um CD só com música dele, sem parceiros. Então, esse Cd é só com músicas de Luiz. Sendo assim, é o Luiz com música e com poesia só dele, que está no CD Sambas de Luiz.
Portelamor: E como foi para chegar a esse repertório do Luiz Carlos?
Dorina: Não foi muito difícil não, porque eu já tinha contato com as coisas dele, já tinha gravado o Luiz em outras ocasiões. E também eu tinha feito várias coisas com o Luiz, nós gravamos DVD juntos, ele dava uns pitacos no que eu fazia, enfim, não foi difícil, não. Foi difícil tirar as outras músicas, porque tivemos que tirar algumas coisas, e aí foi difícil. Mas, foi bem prazeroso. Foi sofrido, no começo, por causa da saudade, mas depois foi prazeroso. Eu chamei o Cláudio Jorge para fazer o disco. Ele também era um grande amigo do Luiz Carlos da Vila e meu parceiro, fizemos discos juntos e tudo. Chamei também o Alessandro Cardoso,  que acompanhava ele, e fez a direção musical. Aí foi tudo tranquilo, foi bacana.
Portelamor: Dorina, você já lançou oito CDs. E como anda, depois disso tudo, seu trabalho no mundo do samba?
Dorina: É legal, porque a gente já tem uma história no samba. Eu tive a honra de participar do Sambabook do Martinho da Vila, no ano passado; participei de DVDs do Zeca (Pagodinho), ele me convidando, do Cidade do Samba, do Casa de Samba, enfim, a gente acaba aparecendo, de uma forma ou de outra, pela mídia que não é aquela mídia grande, mas por uma mídia que o samba mesmo faz. Como vocês, que tem um site falando da Portela. E os portelenses ajudam muito a gente, para a gente poder levar esse trabalho adiante e é assim que eu cheguei ao meu oitavo CD independente. E eu só tenho um DVD, que é o Samba de fé, que inclusive tem a participação do Luiz.

Portelamor
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Você tem uma carreira já consolidada no mundo samba, mas segue sendo uma resistente, com oito CDs e todos independentes. Como é isso?

Dorina
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É assim... (risos). Não desiste, faz, e não fica com aquela história de ser “a famosa”, porque não existe isso. Isso é um trabalho, um trabalho do dia a dia, é um trabalho que a gente faz com prazer. Eu agradeço todo dia por eu poder cantar, por fazer o que eu quero e sobreviver disso. Sobreviver para mim já está bacana. Eu conseguir botar outro trabalho na rua já está legal. Sendo assim, eu procuro não fazer muitas concessões. Eu prefiro estar no meu caminho de independente. Estou sempre no samba, gravando as pessoas que eu amo no samba, gravo os novos, gravo os antigos, gravo, como fiz, Sambas de Almir, em homenagem a Almir Guinéto. Agora tem a homenagem ao Luiz Carlos e quero fazer outras homenagens, quero trazer os jovens que estão compondo, para outro CD. E é assim, não tem mistério. Não tem essa coisa de querer estar todo dia na mídia, de que todo mundo te conhece... Meu filho pequeno, o Caíque é que é engraçado. Quando alguém me reconhece, ele diz: “Mãe, tu tá famosa mesmo!” E eu digo pra ele: “Meu filho, não é assim!”. Criança tem essa visão, da televisão, e a gente não está sempre na televisão, mas eu sou muito grata, sou muito feliz com o trabalho que faço.

Portelamor
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A gente vê isso nos seus trabalhos, todos de grande qualidade, e nas vezes em que a gente pode te assistir, vemos essa felicidade, essa disponibilidade essa e alegria de cumprir o seu ofício. Conta pra gente, nesse sentido, o samba vai continuar?


Dorina
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Estou aqui para isso. Não sei quando vou fazer um próximo CD. Antes eu vendia os CDs muito rapidamente. Os Sambas de Luiz até vendi as 2 mil primeiras cópias rapidamente, lancei em novembro e já acabou, agora, mas antigamente a gente vendia com mais rapidez. A gente tinha mais velocidade para juntar o dinheiro para fazer outro CD. Hoje as pessoas compram mais na Internet, não estão mais comprando o físico, diminuiu bastante. Eu sei disso porque eu faço muitas rodas de samba pelo Brasil todo e levo meus CDs debaixo do braço, para vender, e é assim que eu consigo vender o CD, que não vai para as lojas. Então, em toda a roda de samba eu mando as partituras antes, mando a música e quando chego nos lugares a rapaziada já conhece, vai de Maceió a Recife, que vou agora em junho.  Estive em Porto Alegre, enfim... Mas não se vende mais como antigamente. E olha que a gente faz um preço bacana, R$20,00. É um preço honesto. Eu digo, “se vocês não querem comprar, tudo bem, mas a gente precisa...”.
Portelamor: Dorina, hoje é um dia especial, aqui no Bola Preta. Tivemos o jongo, agora a Velha Guarda, com nosso presidente, Serginho Procópio, tocando, depois vem você, outra portelense ilustríssima. Fale para nossa torcida Portelamor como você está vendo nossa querida Portela.

Dorina
:
Gente, é tudo de bom. Eu sempre me emociono e é sempre uma honra participar de um show da Velha Guarda. Eu participo há 17 anos. Seu Monarco me descobriu em um bar, alguém disse para ele que eu cantava e eu fui cantar com ele... A gente cantava na “Casa da Mãe Joana”, em São Cristóvão, aqui no “La Paz”, eu tenho uma história com a Velha Guarda, mas sempre me emociono quando canto com ela. E ver que o Presidente de Honra dessa nova gestão é Seu Monarco já diz tudo. Eu confio muito, confio no Serginho (Procópio), que é filho de seu Osmar (Seu Osmar do Cavaco), tem uma história na Portela, sabe do que a Portela precisa, o que os componentes da Portela querem, desejam. E eles querem uma Portela como essa que desfilou este ano, que emocionou todo mundo. É isso que a gente quer para a Portela, uma Portela de que a gente possa ter orgulho, olhar para trás e dizer: “Ela está contando a nossa história, ela respeita a nossa história”. Só isso.

Portelamor
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Dorina, muito obrigado, em meu nome e em nome da Portelamor. E muito sucesso para você.

Dorina
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Eu que agradeço. Obrigado.


Entrevista concedida na tarde do  dia 24 de maio de 2015, no Cordão da Bola Preta, aos portelamorenses Paulo Oliveira e Edmilson Herculano.
Agradecemos a Maria da Conceição, que gentilmente pediu a Dorina que nos concedesse essa entrevista
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