Por Carlos Nobre
Na história da comunidade negra, a mulher tem um papel importante, justamente por dominar a culinária e, com ela, sustentar a prole. Esse espírito ainda continua vivo com três mulheres de Oswaldo Cruz: Neide Sant'anna, filha do compositor Chico Sant'anna, da Portela, autor do clássico "Saco de Feijão"; Selma Candeia, filha do Mestre Candeia, e Romana Antônio Silva Correa, presença marcante como sambista e cozinheira.
Todas as três têm barracas na Feira das Yabás, em Oswaldo Cruz, que acontece a cada segundo domingo do mês. No entanto, enquanto a Feira das Yabás não retorna (está renovando o alvará de licença), elas criaram o evento "Roda de Samba do Terreiro das Tias", a cada terceiro domingo do mês.
Para não perderem o freguês, resolveram manter aceso o espírito da Feira das Yabás em outro local, na Rua Adelaide Badajoz, 68, também em Oswaldo Cruz, chamada de rua da feira, que historicamente é frequentada por grandes portelenses e imperianos.
A estreia do Terreirão das Yabás, na Adelaide Badajoz, em 29 de setembro passado, reuniu quase duas mil pessoas ansiosas por cantar e se deliciar com a cozinha popular das três mulheres. Tinha gente saindo pelo ladrão na fuzarca. Na segunda edição, 18 de outubro passado, também teve casa cheia.
Assim, elas agora têm a Feira das Yabás e Roda de Samba do Terreiro das Tias. Muita tradição, muita raiz, muita africanidade.
"A ideia do terreirão surgiu porque a gente dependia do dinheiro que arrecadava na Feira das Yabás. A feira estava sem data para retorno. Então, nos juntamos e resolvemos criar o Terreirão das Tias. Alugamos um salão e botamos para frente, com bebida, comida e samba de raiz", conta Neide.
"O boca a boca funcionou", garantiu Romana. "Isto porque vieram os amigos que também frequentavam a Feira das Yabás. Também nossa página sobre o terreirão no Facebook foi um sucesso. Tivemos mais de 2 mil curtidas antes do evento."
Segundo Neide, o local também onde rola o terreirão (Rua Adelaide Badajós) era importante, pois o terreirão fica em frente a um botequim historicamente frequentado por grandes nomes da Portela.
"Meu avô, meu pai (Antônio Candeia pai e filho), Monarco, Cascaquinha, Manacea e outros, frequentavam essa rua que é a rua da feira como a gente chamava. Eles também frequentavam o botequim daqui, cantavam sambas. Então, estamos fazendo um resgate histórico do samba de raiz, mais uma vez", observa Selma.
Na próxima roda de samba (15 de novembro) haverá homenagem ao compositor Silas de Oliveira que, em 2016, estaria completando 100 anos se estivesse vivo.
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