Se
Alcides fosse vivo, completaria amanhã 109 anos.
Alcides Dias Lopes, também chamado de Malandro Histórico da
Portela, foi um dos mais lendários nomes da Portela, responsável pela resposta
de improviso na segunda parte das composições (era um mestre de canto) durante
osdesfiles e as rodas de samba.
Excelente partideiro, sua prodigiosa memória fez fama. Alcides
era capaz de impressionar até mesmo os mais experientes versadores. Foi ainda o
grande responsável pelo registro oral das obras de Paulo da Portela e de seus
companheiros mais antigos, fundadores da Escola. Era capaz de contar com
detalhes toda a história da Portela.
Nasceu em 17 de dezembro de 1909 e morreu no dia 09 de novembro
de 1987, no Rio de Janeiro, cidade que amava. Na juventude, levou vida de
malandro, vagando sem destino e sem ocupação fixa pelas ruas do Rio. Seu
primeiro emprego só veio depois do casamento com Guiomar, com quem teve quatro
filhos.
Foi manobrista e sinalizador de trens da Rede Ferroviária
Federal, trabalhando perto do subúrbio de Benfica. Tornou-se então um “chefe de
família”, aposentando-se em 1947. Porém, mesmo trabalhando, Alcides nunca
faltava aos ensaios da Escola. Estava sempre presente, com sua fisionomia
fechada, seu tronco avantajado e seu modo simples de se vestir.
Em 1947, compôs seu samba mais conhecido, a autobiográfica “Vivo
isolado do mundo” (‘Eu vivia/ isolado do mundo/ quando eu era vagabundo/ sem
ter um amor/ hoje em dia/ eu me regenerei/ sou um chefe de família/ da mulher
que amei’).
A primeira gravação desta música foi feita por Candeia e
Manaceia, que incorporaram alguns versos, cantados até hoje nas rodas de samba.
Monarco parece ter feito a gravação definitiva e Zeca Pagodinho regravou o
samba, dando-lhe nova roupagem. Seu primeiro samba gravado foi “Olinda” –
também chamado de “Vem, ó linda’”, parceria com Jair do Cavaquinho. A gravação
se deu em 1965, com o próprio Jair e o conjunto A Voz do Morro.
Participou do primeiro disco da Velha Guarda da Portela, em
1970, com o belíssimo samba “Ando Penando”. Um de seus parceiros mais
constantes foi Monarco. Da dupla, se destacam: “Amor de Malandro”, “Enganadora”
(gravadas por João Nogueira), “Você pensa que eu me Apaixonei” (gravada por
Beth Carvalho), “Se eu soubesse vem depois” (gravada por Roberto Ribeiro),
“Abra as vistas, rapaz” (gravada por Zeca Pagodinho) e “Deixa meu nome em Paz”
(gravada por Monarco e Velha Guarda da Portela).
Outro parceiro importante foi Chico Santana, com quem compôs “Eu
vou embora”, “Minha orelha” e “Quanto mais eu rezo” (todas gravadas por Jorge
Aragão). Um dos maiores divulgadores póstumos da obra de Alcides foi Zeca
Pagodinho, que gravou “Dona do meu coração” (com participação de Argemiro), “Já
sei de tudo, mulher”, “Meu tamborim” e “Vivo muito bem”, dentre outros.
Alcides compôs ainda com sambistas, como Nelson Cavaquinho,
parceria que permanece inédita até hoje. Apesar de ter sido excelente
intérprete e compositor, Alcides Lopes jamais gravou um disco individual. Os
únicos registros disponíveis são duas participações ao lado de Dona Ivone Lara,
nas canções “Quando a maré” (de Antônio Caetano) e “Já chegou quem faltava” (de
Nilson Gonçalves), presentes no disco Samba: Minha verdade, minha raiz (Odeon,
1978). Como reconhecimento por sua contribuição à Portela, seu retrato foi
incluído na galeria do Pavilhão de Canto do Portelão.
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