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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Waldir 59


Waldir de Souza, conhecido no mundo do samba como Waldir 59, nasceu em Oswaldo Cruz, reduto do samba, no dia 03 de março de 1927, vindo a falecer aos 88 anos, na madrugada do dia 25 de novembro de 2015, na UPA do Engenho de Dentro, deixando 4 filhos, 8 netos e 1 bisneto, além da família Portelense. A criação do nome artístico se deu pela necessidade de diferenciar os três integrantes da ala dos compositores da Portela com o mesmo nome “Waldir”. Reza uma das lendas que o número 59 surge pela coincidência do número de sua residência, de seu telefone, da placa do carro e pelo número da matricula na Portela que era 59, logo ficou conhecido como Waldir 59, além de ele ter sido vencedor do samba-enredo de 1959.

Sua paixão pelo samba começou ainda criança, quando aos cerca de oitos anos de idade pisou pela primeira vez na Avenida pela Escola de Samba “Vai Como Pode”, que mais tarde passou a ser chamada G.R.E.S. Portela, que tinha a quadra como vizinha. Ele só não imaginava que seria parte da história da Azul e Branco e que isso lhe renderia inúmeros prêmios e reconhecimento.

O majestoso portelense foi um dos primeiros a frequentar as quadras do G.R.E.S. Portela. Compositor, Diretor de Harmonia, de 1973 até a década de 90, sendo reconhecido e premiado em 1990 com o “Troféu O Dia”, integrante da Velha-Guarda desde sua fundação no ano de 1970, passando pela Ala dos Passistas e eleito o homem mais elegante no concurso da Escola de Samba Portela.

Foi no período do serviço militar obrigatório que Waldir compôs um de seus primeiros sambas, porém o primeiro registro de suas obras só aconteceu aos 84 anos de idade. Ao sair do exército trabalhou como marceneiro na Ferrovia Central do Brasil e nas horas vagas se dedicava aos sons dos cavaquinhos, chocalhos, tantã, repique e pandeiro.

A década de 50 consagrou o compositor. Teve várias vitórias nas disputas de samba-enredo, com o parceiro Candeia, ganhou campeonatos, elevando o número de estrelas da Agremiação Azul e Branco de Oswaldo Cruz e Madureira, além de fundar, junto com Candeia, Humberto, Casquinha, Wanderlei, entre outros, a Ala dos Impossíveis, marco da primeira ala coreografada em Escola de Samba e trazendo mudanças significativas para a Agremiação. “Nós inventamos e modificamos muitas coisas na Portela, criamos o Samba-Enredo, fizemos Enredo. Minha História na Portela é muita linda” comenta o compositor. Em 1954, concorre na Portela com o samba-enredo "São Paulo Quatrocentão", mas não consegue êxito.  No ano seguinte, não só ganhou a disputa na quadra, com o samba-enredo “Festas juninas em fevereiro”, como também conseguiu o terceiro lugar do Grupo 1 na Avenida. A continuidade da parceria com Candeia em 1956, para o samba-enredo “Tesouros do Brasil, Riquezas do Brasil ou Gigante pela própria natureza”, alcançou o segundo lugar do Grupo 1. Apesar do nome, um pouco grande, o samba-enredo, logo após o desfile, transformou-se em um clássico do gênero, e ficou mais conhecido apenas como "Riquezas do meu Brasil", depois "Riquezas do Brasil" ou ainda "Riquezas do nosso Brasil". No mesmo ano compôs com seu parceiro o samba de terreiro "Vem amenizar". No ano de 1957, com os amigos Candeia e Picolino da Portela, compôs o samba-enredo "Legados de D. João VI", com o qual a Portela foi campeã. Neste mesmo ano a gravadora Sínter lançou o disco "A Vitoriosa Escola de Samba da Portela", trazendo três composições de Waldir 59, os sambas "Legados de D. João VI"; "Despertar de um gigante", do trio de amigos e compositores campeões do carnaval carioca,  e "Riquezas do Brasil", que foi editado no disco como "Brasil poderoso", aparecendo nesta última, estranhamente, o nome de Picolino da Portela como parceiro de Candeia e Waldir 59, tendo como intérprete As Pastoras da Portela.

Talvez o número da sorte de Waldir fosse mesmo o de 59, ano que conquistou o tetracampeonato na Portela com o samba-enredo "Brasil, panteão de glórias", junto de Casquinha, Candeia, Bubu e Picolino da Portela, com o qual a Agremiação bordou mais uma estrela no Pavilhão. O majestoso se consagra em 1965, após a quinta vitória como compositor, o que mais ganhou títulos consecutivos na Portela. O samba-enredo “História e tradições do Rio Quatrocentão” com Candeia em homenagem aos 400 anos da Cidade Maravilhosa alcançou 122 pontos, ficando a Escola apenas com a terceira colocação.

No ano de 1971, Waldir 59, em parceria com Ari Guarda, tiveram a canção “Lapa” interpretada pelo cantor Nadinho da Ilha , no LP “Quem samba fica” pela gravadora Odeon. Em 1974, no LP “História das Escolas de Samba – Portela", lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira, foi incluído o samba-enredo "Brasil, panteão de glórias", de Waldir 59, Candeia, Casquinha e Bubu da Portela (não aparecendo nesta gravação o nome de Picolino da Portela), interpretada por Altair e Bubu da Portela. No ano de 1977, a composição “Riquezas do nosso Brasil”, de 1956, foi interpretada por Candeia, em seu LP “Luz da Inspiração”, pela gravadora WEA. No ano seguinte, o amigo e parceiro Candeia, no disco "Axé! Gente amiga do samba" incluiu "Vem amenizar a minha dor", outra parceria de ambos, desta vez com participações especiais de Dona Ivone Lara e Chico Santana.

No ano de 1980, o Samba-enredo de 1957 do G.R.E.S. Portela, “Legados de D. João VI”, foi regravado por Martinho da Vila, no LP "Samba Enredo", lançado pela gravadora RCA. Na década de 1980, Waldir 59 se afasta da Portela, por conta de problemas internos, e logo foi convidado a integrar a Ala de compositores da GRES Unidos da Tijuca, deixando lá sua marca, já que, no pouco tempo em que lá ficou, ganhou mais um troféu, o de Personalidade do Carnaval. Na Unidos da Tijuca, não aceitou escrever samba para disputar com a Portela. Logo voltou para a antiga escola, sendo convidado por Monarco a integrar a Velha Guarda Show, em 2013, para, segundo ele, reparar uma injustiça histórica da escola.

No ano de 1991, ganhou o prêmio "Estandarte de Ouro", do jornal O Globo, na categoria "Personalidade do Carnaval". No ano de 2002, Zeca Pagodinho, regravou “Riqueza do nosso Brasil”, no CD "Deixa a vida me levar", lançado pela Universal Music, com a participação especial da Velha-Guarda da Portela. Em 2008, foi lançado o filme "Eu sou Povo", com direção de Bruno Barcellar, Regina Rocha e Luís Fernando Couto, documentário sobre a vida e obra de Candeia, no qual Waldir 59, ao lado de Carlos Monte, João Batista M. Vargens, Teresa Cristina, Tantinho da Mangueira e Sergio Cabral, prestou homenagem ao amigo e parceiro. No ano seguinte, 2009, Waldir 59 foi entrevistado no documentário “O passo de Madureira” (CUFA), que fala do bairro do subúrbio carioca e conta a origem do nome artístico. Aos 82 anos, Waldir 59 convida Marquinhos PQD e Fernando Cabelo para comporem o Samba-Enredo “Rio, azul da cor do mar”, para a disputa do Carnaval de 2010, mas infelizmente não tiveram êxito.

Cristina Buarque e o Grupo Terreiro Grande, no CD "Terreiro Grande e Cristina Buarque cantam Candeia" de 2010, regravaram "Brasil, panteão de glórias", não aparecendo o nome de Picolino da Portela nesta gravação; e "Riquezas do Brasil". Neste mesmo ano, participou do show "Samba do Ouvidor visita as Escolas de Samba", no Teatro Rival Petrobras, Rio de Janeiro, ao lado do também convidado especial Ledi Goulart (puxador oficial da Escola de samba Aprendizes de Lucas e da Unidos de Lucas, ambas na década de 1960). Dois anos depois, em 2012 os cineastas Anita Ekman e Alberto Bellezia deram início às filmagens do documentário "Waldir 59", contando sua vida e obra. No ano seguinte, fez o show-palestra "Lapa em três tempos", acompanhado pela cantora Nina Wirtti, o bandolinista Luis Barcellos, o violonista Rafael Mallmith e o percussionista Sandro Carioca. Em2013, fez show solo no Cordão da Bola Preta, também na Lapa.

Pouco antes de seu falecimento, foi considerado o integrante mais antigo da Ala de Compositores da Portela. Concorreu pela última vez à escolha do samba-enredo da escola para desfile em 2016, cujo enredo era: "No voo da águia, uma viagem sem fim...", do carnavalesco Paulo Barros. Alguns versos deste samba sintetizam sua paixão pela escola:
Eu não sou daqui, eu não sou de lá
O meu destino... É Portela
Voando linda, leva meu coração
Águia guerreira... eterna paixão.
OBRAS
  • Brasil, panteão de glórias (com Candeia, Casquinha, Bubu da Portela e Picolino).
  • Data maravilhosa (com Casquinha e Candeia), inédita.
  • Despertar de um gigante (com Candeia e Picolino da Portela).
  • Festas juninas em fevereiro (com Candeia).
  • Histórias e tradições do Rio Quatrocentão (com Candeia).
  • Lamento de uma raça (com Candeia), inédita.
  • Lapa (com Ari Guarda).
  • Legados de D. João VI (com Candeia e Picolino da Portela).
  • Magna beleza (com Candeia).
  • Meu ser (com Candeia), inédita.
  • Não é bem assim (com Candeia), inédita.
  • O molho é samba.
  • Por que não vens? (com Candeia), inédita.
  • Rio, azul da cor do mar (com Marquinhos PQD e Fernando Cabelo), inédita.
  • Riquezas do Brasil (Brasil poderoso) (com Candeia).
  • São Paulo Quatrocentão.
  • Sem razão (com Candeia), inédita.
  • Seus lábios ardentes (com Candeia), inédita.
  • Vem amenizar a minha dor (com Candeia).

BIBLIOGRAFIA CRÍTICA
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Edição Instituto Antônio Houaiss; Instituto Cultural Cravo Albin; Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2. ed. Esteio Editora, 2010; 3. ed. EAS Editora, 2014.
ARAÚJO, Hiram. Carnaval: seis milênios de história. Rio de Janeiro. Editora Gryphus, 2000.
VÍDEOS
DISCOGRAFIA

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