Cerca de 50 sambistas de várias escolas japonesas se reuniram no dia 10 de outubro, no Salão de Festas Sahã, que fica no Bairro de Chiyoda, em Tokyo, para homenagear a Portela. O evento, que ocorre todo mês, é conhecido como "Enredo Karaokê" e esta foi a primeira edição da festa após o Asakusa Samba Carnival, desfile de escolas de samba de Tokyo realizado no final de agosto. Durante as três horas e meia em que os sambistas se reuniram, foram cantados vários sambas da agremiação azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira.
Apesar do nome Karaokê, os sambas são cantados ao vivo pelos participantes e com bateria de verdade. Cada um leva seu próprio instrumento e as passistas animam a festa, que mais se parece um ensaio. No salão, o diretor de bateria comanda os instrumentos dando a deixa para os puxadores começarem a cantar. Todos vestem as cores da escola homegeada ou criam seus própiros figurinos, dos arranjos de cabeça e chapéus panamás até as sandálias das passistas.
Os ritmistas também imitam a batida da Tabajara do Samba, com o surdo de terceira 4 por 3, e a levada da caixa portelense com o rufo. Mestre Nilo Sergio já esteve no Japão fazendo workshops e ensinou os segredos da bateria da Portela para os ritmistas japoneses. Ninguém esqueceu! As bossas e paradinhas, os desenhos de tamborins e agogôs também são imitados. As vezes alguém erra. Mas ninguém repara. O que importa é homenagear a escola do coração.
Os japoneses conhecem vários sambas de enredo, sambas de terreiro e sambas exaltação das escolas cariocas, alguns das décadas de 50 e 60. Segundo Yohei Inoue, um dos organizadores do Enkara (honomatopéia de Enredo Karaokê), os sambas portelenses mais conhecidos pelos japoneses e cantados durante a homenagem foram Lendas e Mistérios da Amazônia (1970), Ilu-Ayê (1972), O Mundo Melhor de Pixinguinha (1974), Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite (1981), Contos de Areia (1984), Gosto que me errosco (1995), Nós podemos, oito ideias para mudar o mundo (2005), Reconstruindo a natureza, recriando a vida: o sonho vira realidade (2008), E por falar em amor... onde anda você? (2009), Derrubando fronteiras, conquistando a liberdade, um Rio de paz em estado de graça (2010), Um Rio de mar a mar: do Valongo a glória de São Sebastião (2014) e ImaginaRio, 450 anos de uma cidade surreal ( 2015). Foi um Rio que passou em minha vida, Hino da Portela e Portela na Avenida também são os mais preferidos pelos japoneses.
Através de e-mail, Facebook e telefone, os participantes definem quem vai cantar os sambas. Um ou mais sambistas escolhem de dois a cinco sambas para interpretar, seguindo uma sequencia. Os puxadores se revezam conforme o combinado. Alguns vão apenas para tocar, outros apenas para sambar. Não importa se a pessoa consegue pronunciar perfeitamente as palavras em português ao cantar o samba ou se não sabe tocar ou dançar bem. Quem sabe um pouco mais ensina aos que sabem menos. O importante é a confraternização regada a chopp e drinks diversos.
Apesar da homenagem à Portela outros sambas também foram cantados no dia como Os Sertões (Em Cima da Hora, 1976), Heróis da Liberdade (Império Serrano, 1969), Aquarela Brasileira (Império Serrano, 1964) e É Hoje (União da Ilha, 1982).
O Enredo Karaokê existe desde 2012 e já está na vigésima oitava edição. Sambistas de outros estados também vem a Tokyo para participar da festa. O evento é uma oportunidade dos ritmistas e passistas de várias escolas se encontrarem, trocarem experiências e uma prova de que a boa relação entre as co-irmãs, no Japão, imita a amizade e o bom humor carioca.
*Marcello Sudoh - Colaborador do SRZD
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