Hoje Dona Dodô completaria 96 anos. Maria das Dores Rodrigues nasceu no dia 03 de janeiro de 1920, em Barra Mansa, interior do Rio de Janeiro, de onde veio para viver no Morro da Providência até sua morte, em 06 de janeiro de 2015. Quem ouviu Dona Dodô contar sua história, pode supor um conto de fadas. A adolescente, empacotadeira de uma fábrica de objetos de papelão, foi levada à Portela aos 14 anos pelas mãos de Dora, à época Rainha da escola que para sempre viveria no coração da menina Dodô. Na Portela, Dodô tornou-se a primeira Porta-bandeira a empunhar o pavilhão da azul e branco no primeiro desfile oficial, em 1935, quando a escola obteve seu primeiro título. Somente isso já colocaria Dona Dodô em destaque na história cultural do Rio, mas ela fez muito mais. Dos vinte e um títulos da Portela, Dodô esteve presente, como Porta-Bandeira, em 18. É a única Porta-Bandeira hexacampeã da história e deve permanecer assim por muito tempo. Jamais abandonou a escola, nem empunhou outro pavilhão. Sua fidelidade à Portela foi sua marca registrada no mundo azul e branco.
Adolescentes negras e pobres vivendo hoje, em 2016, já devem ter experimentado o preconceito racial e social, mas será que imaginam como seria a vida de uma menina negra e pobre em 1935? Dodô foi uma pioneira, mas jamais se vitimizou. Como caímos sempre na tentação de romantizar e mitificar nossos ídolos, é preciso enfatizar a humanidade de Dodô, com suas virtudes, seus defeitos, afetos e desafetos. Foi uma mulher forte e doce, alegre e tempestuosa, como qualquer um de nós pode ser. Sua grandeza reside na história que construiu, com dignidade, muita luta e amor pelo ofício e pela escola que a adotou e que ela amou até o fim. Essa mulher humana, terrena, de carne e osso nos deixou há um ano e é a história que nos legou que ecoa em nossa memória. Queremos lembrar de Dodô como uma desbravadora, uma pioneira, como tantas outras mulheres, famosas ou anônimas, que escreveram e escrevem as tantas páginas belas de nossa escola do coração.
Quis o destino que as datas de nascimento e morte de Dodô fossem próximas, para nos confundir, já que não sabemos se celebramos a alegria do nascimento desta mulher imemorial, ou pranteamos sua partida. Para ser fiel a Dona Dodô, optaremos por seu nascimento, e quando lembrarmos o primeiro ano de sua morte, que a imagem do sorriso de Dodô apazigúe a tristeza . A maior homenagem que podemos prestar a ela é lembrar sua trajetória, apelar para que os responsáveis por seu patrimônio cultural, representado em cada um dos objetos que ela conservou ao longo de suas oito décadas de dedicação à Portela, tenham a sensibilidade de resguardar o passado de glória que ela construiu, salvando-o da pilhagem e do esquecimento a que nossa cultura esteve sempre submetida. Que sua casa-museu sobreviva e que a história de Dodô seja contada pelos pais a seus filhos e estes a contem aos de menor idade.
Para a Portelamor, Dodô é única, eterna. Por tudo o que fez e pela fidelidade que professou, Dodô era, antes de tudo, Portela e amor. Nós somos Portelamor, portanto, também somos Dodô. Descanse em paz, minha senhora, no céu azul e branco onde mora também aquele que te entregou a primeira bandeira campeã, Paulo da Portela.
Os anjos devem estar cantando e bailando, hoje.
Avante, Portela!!!
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