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terça-feira, 11 de julho de 2017

Jornalistas especializados criticam possibilidade de cancelamento dos ensaios técnicos

Por Daniela Lima Safadi

A crise que assola o carnaval Carioca ganhou mais um capítulo nesta segunda-feira. Por enquanto, os ensaios técnicos no Sambódromo estão suspensos por conta do corte na verba repassada pela prefeitura às escolas de samba. A notícia foi confirmada pelo presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) Jorge Castanheira. O dirigente revelou que é difícil viabilizar os ensaios na Marquês de Sapucaí porque os gastos são altos, em torno de R$ 4 milhões.

A decisão da Liga sofreu duras críticas, principalmente, dos formadores de opinião, entre eles, o colunista Leonardo Bruno, que em sua página pessoal do Facebook propôs: ‘Cancelem os desfiles, mas não cancelem os ensaios técnicos’, em que lista dez motivos pelos quais os ensaios devem continuar. “O carnaval não é feito pelo povo e para o povo? Pois é só nos ensaios técnicos que isso se configura pra valer. Apenas no pré-carnaval o povão carioca pode frequentar a Avenida. Durante os dias oficiais, os preços dos ingressos impedem a população de assistir à festa”, escreveu o jornalista na rede social.

Ainda na opinião do colunista, ao invés de decidir pelo cancelamento dos ensaios, as escolas de samba deveriam dobrar a quantidade de treinos na Sapucaí para mostrar a todos sua importância.

– Ao invés de cancelar, tem que dobrar, se mostrar importante, promover ensaios de agosto a janeiro. Será que não está na hora de diminuir gastos altíssimos com carnavalescos, com comissões milionárias, comprando tecnologia lá de fora, que nada tem a ver com a gente… Será que não é esse investimento que tem que cortar? Qual a prioridade de investimento das escolas, investir em R$ 1 milhão num carnavalesco, por exemplo, ou investir fazendo a escola estar mais próxima da população? É uma questão de rever qual a prioridade de investimento das escolas – frisou.

Eugênio Leal diz que as escolas de samba estão tento uma postura de regressão, quando deveriam pensar em estratégias para manter os treinos gratuitos na Sapucaí.

– A crise é o momento pra que surjam novas ideias, proposições, que você reenvente o que você faz… Lamentavelmente, o que a gente está vendo nas escolas de samba, em geral, é uma postura contrária, de regredir, de encolher de pensar menor, de não conseguir ‘pensar fora da casinha’, como se diz. O ensaio técnico é fundamental para o carnaval. É tão importante quanto o desfile, é o único lugar onde existe a relação do povo com o carnaval, com as escolas de samba. Ele não pode acabar de jeito algum – argumenta.

Eugênio aponta ainda que os ensaios técnicos são eventos que atraem público e mídia, que por isso, deveriam ser mais bem aproveitados, podendo até gerar receita para as escolas.

– É preciso que se use a criatividade para encontrar fórmulas que ajudem a custear a realização do ensaio técnico. Aliás faz tempo que essas fórumulas são necessárias. Já se tornou um evento que poderia estar arrecadando não com venda de ingressos, mas arrecadando pras escolas há algum tempo, evento que atrai público, mídia e que deveria ser melhor aproveitado – sugere.

Os ensaios técnicos que começaram a serem realizados na década de 2000, atraem não só cariocas, mas turistas de todo o país e do exterior, conforme lembra o jornalista Aydano André Motta.

– O que o Rio de Janeiro precisa é de mais carnaval e não menos. A Liga está tendo uma postura de avestruz e não vê o que tem em volta. Ultimamente, a Liga só diz não. Corta-se a verba e diz que não vai ter desfile, depois que não vai ter ensaio técnico. Ao dizer não para o ensaio ela está perdendo até mesmo a parcela minoritária da população que os apoia. Essa é uma postura errada para além do carnaval. O ensaio técnico é um grande evento turístico do Rio de Janeiro. Acabar com o ensaio técnico é um crime contra o Rio de Janeiro e o samba – frisa o jornalista.

Aydano aponta ainda que “já passou da hora” das escolas de samba caminharem com suas próprias pernas para não ficarem reféns apenas da subvenção oferecida pela prefeitura. O jornalista fez questão de frisar que o samba desde sua criação sempre enfrentou o poder público.

– Sempre foi assim, o samba sempre teve que lutar parar sobreviver, o samba sempre enfrentou o poder público. Está na hora da Liesa comprar essa briga e apoiar e não ficar com chantagem boba de que não terá desfile, ensaio técnico… – sugere Aydano.

O comentarista Fábio Fabato também é contra o fim dos ensaios técnicos. Ele frisa que é importante que o samba não se afaste ainda mais do povo.

– Uma decisão absolutamente equivocada, que demonstra um dado bastante preocupante: as lideranças do carnaval pensam o show, mas não a base de sustentação deste. A força do carnaval está nos seus aspectos formadores. Por isso chegou ao atual status. E esta base é popular, representada justamente pela beleza dos ensaios técnicos, onde ainda encontramos o povão. Urge repensar a decisão, sob o risco de a mensagem do fabuloso enredo da Mangueira ser mera ficção para – literalmente – inglês ver.


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