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quarta-feira, 29 de julho de 2015

A realidade do pagamento de cargos nas escolas de samba

Redação SRZD

Os admiradores do Carnaval e frequentadores de quadras de escolas de samba sabem que o número de mulheres talentosas e com samba no pé nas comunidades não é baixo.
Muitas meninas praticamente nascem e se criam dentro das quadras e, ao longo do tempo, vão se aperfeiçoando na arte de sambar e de lidar com os frequentes flashes. A maioria se torna passista, porém, não consegue realizar o sonho de desfilar em posições com mais glamour. O motivo? Os cargos, na maioria das agremiações, são pagos. Quem fez a afirmação ao SRZD foram algumas personalidades do mundo do samba, há anos no Carnaval carioca, que já passaram ou presenciaram tal situação. Os nomes delas serão preservados.
O fato não é novo no ramo do Carnaval, mas pouco é comentado ou discutido. Normalmente, a diretoria das escolas pede que as musas e rainhas não toquem, em público, no assunto "pagamento de cargos", que ainda é tratado como tabu.

Uma das musas ouvidas pelo SRZD afirmou que o fato acontece tanto em escolas do Grupo Especial, quanto na Série A. "O Grupo Especial virou um comércio e um teatro", disse. Ela é contra o pagamento dos cargos por não dar oportunidades para que novos talentos sejam revelados, como as jovens que crescem e brilham nas quadras. "Às vezes, a pessoa tem dedicação, tem amor, mas só desfila nestes cargos se tiver como patrocinar e ajudar a escola financeiramente. As que pagam para desfilar muitas vezes não sabem nem cantar o samba, são pessoas que você percebe de longe que não frequentam os ensaios".
Embora se posicione contra, a musa diz que não condena as rainhas e musas que tenham condições de contribuir, de alguma forma, com a escola. "Eu não tenho condições de pagar, mas tento sempre ajudar de outras formas. Quero que a escola apareça, tenha mídia", afirmou.
Segundo ela, os presidentes deveriam rever o assunto e levar em consideração as "sambistas de verdade" que não conseguem um cargo mais alto porque "não têm como pagar". "Algumas meninas não têm dinheiro nem para comprar uma sandália para usar nos ensaios. Eles deveriam olhar mais para o povo da comunidade, porque é ele que faz a escola", concluiu.
Uma ex-rainha de bateria também disse ao SRZD que o pagamento de cargos nas escolas é comum, e ela mesma pagou mais de uma vez para conseguir um lugar de maior destaque no desfile. "No final das contas, quase todas pagam. Mas ainda há exceções. O valor varia quando se trata de Grupo Especial e Acesso, e musa e rainha. Tem preços absurdos, tipo R$ 350 mil um cargo rainha de bateria no Grupo Especial, e R$ 60 mil de musa", revelou.
Segundo ela, "a realidade é pagar". "Isso torna o Carnaval um comércio. Qualquer pessoa que pagar mais, mesmo que não saiba sambar, vai conseguir desfilar", disse.
Desanimada, a ex-rainha acredita que o fato não vai mudar e vai continuar a ser corriqueiro nas agremiações. "Vai piorar. Isso tomou uma proporção tão grande que não tem como reverter. Mas, pega a gente pelo coração. E acabamos pagando caro por isso".
Ainda segundo ela, o mínimo que deveria acontecer por parte da diretoria das escolas é oferecer os cargos às mulheres que têm talento e samba no pé, já que elas ainda precisam bancar fantasias e todos os custos que os cargos acarretam. "Por isso surgem cada vez mais nomes desconhecidos no Carnaval".
Outra musa também afirmou ao SRZD que há pagamentos de cargos nas escolas. E ela reforça a posição contrária sobre a prática. "Acho que a prioridade é dar oportunidade a quem tem talento e manter essas crias", disse, se referindo às jovens que crescem frequentando as quadras e têm reais condições de ocupar cargos de mais destaque, representando com dignidade a escola de coração.
Por outro lado, ela também concorda que musas e rainhas que têm a oportunidade de contribuir com a agremiação, o façam, mas sem serem obrigadas a pagar para desfilar. "Não deveria ter este tipo de imposição".


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