Translate

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Pelas curvas da saudade, Portela caminha sem Marcos Falcon e demonstra solidez de equipe montada por ele

Por Guilherme Ayupp

Há cinco meses a Portela foi atingida por uma bomba de proporções devastadoras. Às vésperas de escolher o samba que iria embalar mais um carnaval a escola recebeu a notícia de que o seu líder maior estava morto. Marcos Falcon, recém eleito presidente, foi assassinado no dia 26 de setembro de 2016 e deixava toda uma nação azul e branca sem chão.

Passado o período de luto inicial ficou o questionamento na cabeça de todos. Como a Portela seguiria sem seu maior líder surgido desde a morte de Natal nos anos 70? O sentimento de incredulidade aos poucos daria lugar à desconfiança. Entretanto o símbolo da Portela é águia, ave altaneira e aguerrida que se recupera rápido das agruras. A Portela segue sólida, estruturada e mais forte que nunca.

Para entender de onde veio a força e a solidez que fez com que a escola seguisse no prumo o site CARNAVALESCO ouviu personagens fundamentais que eram braços direitos de Falcon e são peças chave na engrenagem que fez com que a escola a partir de 2014 passasse a buscar as posições de destaque nos desfiles. Claudinho Portela, Fábio Pavão e Felipe Guimarães tinha um contato diário com o saudoso presidente.

A morte, o choque e a dor

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2016. O presidente Marcos Falcon está morto e a Portela ferida. Sem tempo para choro ou desespero Fábio Pavão, presidente do Conselho Deliberativo, convoca uma reunião emergencial para definir os primeiros passos. Ele recorda do fatídico dia em entrevista à reportagem do site CARNAVALESCO.

– Foi um baque assustador. Eu como presidente do Conselho Deliberativo tive de ir para a quadra correndo, pois o Luis Carlos estava viajando. A escola precisava ter um comando. Fizemos uma reunião muito difícil, eu, Luis Carlos e Wanderson Lopes, presidente do Conselho Fiscal. Para se ter uma ideia precisava definir um nome para representar a escola junto ao TRE pois haveriam eleições. Até a gente encontrar um caminho foi complicado – recorda.

O diretor financeiro da Portela, Felipe Guimarães, estava com Marcos Falcon no momento que ele foi brutalmente assassinado e chegou a ser ferido no crime. Ele conta que o trabalho no barracão foi fundamental para superar o choque nos primeiros dias.

– Eu passei a ter um convívio diário com ele, com exceção das atividades políticas. O trabalho no barracão, a necessidade de dar continuidade, foi uma terapia para eu superar esse choque. A escola toda ficou muito traumatizada. Aprendi com o Falcon em vários aspectos. A imagem dele morto foi muito difícil para mim – conta.

Claudinho Portela ainda chora a perda do amigo, uma vez que a relação deles veio bem antes de existir o grupo Portela Verdade. Tanto que o filho de Claudinho possui o nome de Falcon.

– Pra mim sempre vai ser muito difícil porque eu perdi um irmão. Em homenagem a ele o meu filho de seis anos tem o nome do Falcon. Caminhamos juntos antes da Portela Verdade. Desde antes da ideia, os sonhos e possibilidades eu acompanhei. A presença dele faz falta, sem contar sua visão das coisas, um cara que pensava e já executava – lamenta.

Portela Verdade evitou o esfacelamento da escola

Criado em 2011 para buscar uma nova forma de administrar a Portela e assim tentar tirar a escola da pior escassez de títulos de sua história, o grupo Portela Verdade foi fundamental na manutenção da estrutura montada por Marcos Falcon desde que eles venceram a disputa eleitoral em 2013 e reeleitos em 2016. Claudinho explica que uma das maiores qualidades de Falcon era compreender o perfil de cada pessoa para determinada função.

– O Falcon conhecia as características de cada um que formou esse time. Ele tinha a capacidade de observar a alma. Foi montada uma grande equipe, por isso mesmo sentindo a sua ausência conseguimos caminhar do jeito que seria se ele estivesse aqui. E nunca será diferente, pois ele escolheu a dedo. Incluindo o nosso presidente Luis Carlos Magalhães – elogia.

Um dos artífices da Portela Verdade foi Fábio Pavão. O portelense foi um dos criadores do site Portela Web, que foi o embrião do grupo que viria a controlar a escola a partir de 2013. Pavão recorda que a montagem da equipe foi lenta, gradual e cirúrgica.

– Começamos antes da campanha de 2013. O site Portela Web era um site não oficial voltado para a escola. Antes de 2011 buscamos no Falcon alternativas para a agremiação. Nesse período fomos incorporando outras pessoas e começamos a pensar como fazer diferente. Quando ganhamos já havíamos todos os postos definidos, com aquelas pessoas – relata.

Homem forte de Marcos Falcon para a área financeira, Felipe Guimarães trouxe a experiência acumulada no ramo automobilístico, onde conheceu o falecido presidente e iniciou as conversas para integrar o grupo Portyela Verdade anos depois.

– Eu o conheci quando trabalhava para um grupo de concessionárias do Campinho. Fomos apresentados e começamos a conversar na própria concessionária, isso na época que ele ainda trabalhava na gestão anterior. Com o surgimento da Portela Verdade e com nossa entrada na escola ele indicou meu nome para cuidar das finanças – conta.

Conciliador, Luis Carlos Magalhães rapidamente estanca hemorragias

Foi na sabatina do site CARNAVALESCO antes das eleições da Portela que Marcos Falcon anunciou o nome de seu vice-presidente na nova gestão. Seria Luis Carlos Magalhães, o advogado apaixonado por samba que ganhou o respeito de todos os sambistas com uma trajetória como comentarista do próprio site. Falcon não escondia de ninguém que Luis Carlos era uma das pessoas em quem ele mais confiava.

Felipe Guimarães diz que o destino lhe apresentou uma figura humana rara e que nenhuma tomada de decisão dentro da Portela acontece sem um conjunto de pessoas participando.

– O presidente Luis Carlos me orienta bastante, ele tem uma forma conciliatória e tomamos as decisões em conjunto. É como se fosse um colegiado, nenhuma decisão é tomada sozinha, temos o respaldo a validação do presidente para tudo – ressalta.

Fábio Pavão recorda que a forma com que o novo presidente encarou a perda de Falcon e sua sensibilidade para passar a tomar decisões permitiu com que a escola sofresse menos.

– O presidente Luis Carlos Magalhães teve a noção que desde o início o Falcon era uma pessoa insubstituível. Ele construiu sua forma própria de administrar, de maneira compartilhada. O Falcon pavimentou a estrada e nós vamos atravessar essa estrada e encontrar o sonho de todo portelense que é a vitória – finaliza.



Nenhum comentário:

Postar um comentário