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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Se Chico Santana se fosse vivo, amanhã completaria 107 anos


Francisco Felisberto Santana, ou simplesmente Chico Santana, veio a mundo no dia 22 de setembro de 1911. Chico Santana nasceu em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um dos grandes nomes da arte portelense, ele teve “a sensibilidade de transformar em música o jeito portelense de ser, traduzindo em belas canções seu amor pelas cores de sua escola de coração”, conforme lemos no site da Portelaweb. Chico Santana faleceu no dia 26 de março de 1988, aos 76 anos. Seu nome está para sempre marcado na história dos grandes sambistas portelenses, sendo considerado por muitos o compositor símbolo da gloriosa Águia de Madureira.

Chico Santana também ficou conhecido como Chico Traidor (aquele que foi traído e não traiu jamais). Esse apelido se deve ao “Samba da traição”, subtítulo para “Existe um traidor entre nós”:

Quem vê cara não vê coração
Um sorriso também pode ser uma traição
Cristo também foi traído
Por Judas fingindo seu amigo
Com tanta ternura um beijo na testa lhe deu
E por trinta dinheiros lhe vendeu

Com um sorriso Cristo recebeu o beijo de ironia
Dando a impressão que nada sabia
Judas estremeceu ao ouvir sua voz:
“Existe um traidor entre nós”

Seus versos são exaltados por conta de serem diretos e eloquentes, com uma clareza que se percebe em composições magistrais, como “Lenço”, em parceria com Monarco, e um de seus maiores sucessos:

Se o teu amor
Fosse um amor de verdade
Eu não queria e
Nem podia ter maior felicidade
Com os olhos rasos d'agua me chamou
Implorando meu perdão, mas eu não dou
Pega esse lenço, vai enxugar teu pranto
Já enxuguei o meu
O nosso amor morreu.

Seguirei a ordem do meu coração
Não me fale de amor
Nem tão pouco me peça perdão
Eu não vejo honestidade em teu semblante
Falsidade isso sim, eu vi bastante
Pega esse lenço e não chora,
Enxugue o pranto, diga adeus e vá embora

Chico Santana formou parcerias, além de Monarco, com Mijinha, Argemiro Patrocínio, Alvaiade e Manaceia. O Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira registra as seguintes composições de Santana:

Adeus, eu vou partir (com Mijinha)
De Paulo da Portela a Paulinho da Viola (com Monarco)
Dizem que o amor (com Argemiro Patrocínio)
Existe um traidor entre nós
Hino da Velha Guarda da Portela
Lenço (com Monarco)
Minha querida (com/ Manaceia)
Muito embora abandonado (com Mijinha)
Noite em que tudo esconde (com Alvaiade)
Passado de glória (com Monarco)
Pranto
Saco de feijão
Vaidade de um sambista
Vida fidalga (com Alvaiade)

Segundo a Portelaweb, quando deixou a Zona Oeste e mudou-se para Oswaldo Cruz, ainda muito jovem, Chico não demorou a se aproximar dos grandes nomes da Portela. A identificação com o samba tinha sido imediata. Contudo, da mesma forma que os demais sambistas de Oswaldo Cruz, Chico precisava trabalhar para sobreviver, e a vocação para a música teve que ficar, inevitavelmente, para um segundo plano. Assim como outros portelenses famosos, Chico era lustrador. Trabalhava como ajudante em uma fábrica de móveis, lustrando e dando os retoques finais às peças que sofriam algum tipo de avaria durante o transporte. Teve quatro filhos em seus dois primeiros casamentos. Ainda de acordo com a Portelaweb, Chico Santana deixou sua voz em trabalhos do amigo Candeia. Contudo, era com seus amigos da Velha Guarda da Portela que Chico tinha lugar de destaque. Participou do primeiro LP do grupo, em 1970, e permaneceu até seus últimos dias entre seus amigos. Muito querido por todos, Chico foi o autor do Hino da Velha Guarda, mostrando em forma de poesia que idade não é problema quando se tem talento e força de vontade:

A velha-guarda da Portela vem saudar
Com esse samba para a mocidade brincar
Estamos aí, como vocês estão vendo
Estamos velhos, mas ainda não morremos
Enquanto há vida há esperança
Diz o velho ditado, quem espera sempre alcança
Nosso teor, não é humilhar a ninguém
Nós só queremos mostrar o que a Velha-Guarda tem

Chico Santana também se notabilizou pelos hinos de exaltação da Portela. Ele cantou a escola, suas glórias, conquistas e orgulho do portelense por seu pavilhão, conforme a bela composição do hino oficial da Portela:

Portela suas cores têm
Na bandeira do Brasil
E no céu também
Avante portelense para a vitória
Não vê que o teu passado é cheio de glória
Eu sinto saudade
Desperta oh! grande mocidade
As suas cores são lindas
Seus valores não têm fim
Portela querida
És tudo na vida pra mim.

Em outra obra sobre a Portela, Chico demonstrava a vaidade que todo portelense tem de sua história. Em “Vaidade de um sambista”, Chico Santana mostrava que a Portela era uma escola especial e que os portelenses nutriam um sentimento único em relação à escola. Um amor e um carinho peculiares, capazes de tornar a própria vitória, objetivo máximo de uma agremiação, em banalidade, perto da grandiosidade desse amor.

Chico criou alguns sucessos que marcaram a música popular brasileira. Dentre eles, destaca-se “Saco de Feijão”, gravado por Beth Carvalho, que em pouco tempo estourou nas paradas de sucesso, levando a poesia de Oswaldo Cruz para o topo das paradas de sucesso por vários meses. Chico Santana é considerado por muitos o compositor símbolo da escola, e seus sucessos ganharam, na voz de grandes intérpretes, as paradas de sucesso.

O azul da Portela está na bandeira do Brasil, está no céu também. Chico fincou sua obra na história de Oswaldo Cruz, entrando para a galeria dos grandes artistas desse bairro que exala notas musicais, ao lado de Manaceia, Candeia, Paulo da Portela e muitos outros mestres. Chico nos ensinou a olhar nosso passado de glórias, mostrando aos jovens que o futuro pode ser ainda mais bonito. Chico nos ensinou que os jovens não precisam temer os desafios. Mostrou que, inspirado em nossas conquistas, podemos escrever um futuro ainda mais vitorioso. Desperta, oh mocidade portelense!

Chico Santana mostrou que nossos valores não têm fim. Cantou a sua Portela querida, a Portela que foi tudo em sua vida, e até hoje suas notas musicais são ouvidas no Portelão.





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