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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Estreando na Portela, Paulo Barros afirma: ‘Encontrei minha alma gêmea’

Por Redação

“Paulo Barros é o cara!”. Desde que chegou ao Grupo Especial, em 2004, o artista mais bem pago da festa já leu e ouviu de muita gente tal elogio, que foi ganhando força com o passar do tempo, que foi pra lá de generoso com o carnavalesco: em pouco mais de uma década na elite do Carnaval, foram três títulos de campeão (2010, 2012 e 2014, na Unidos da Tijuca), além de três vice-campeonatos pela mesma escola.

No entanto, por mais orgulhoso que seja dos feitos alcançados, Paulo não se acha tanto assim. Em seu primeiro ano na Portela, em vez de estufar o peito para se vangloriar do recente passado de glórias, pede a fala para apresentar quem, na opinião dele, é o verdadeiro “cara”: Moisés Carvalho.

Quem frequenta os bastidores do Carnaval já pode ter ouvido falar do diretor de barracão da azul e branco de Madureira. Mas, certamente, nunca ouviu falar tão bem. É para ele que Paulo Barros distribui as honrarias para celebrar, a uma semana do desfile, o ano em que conseguiu ver bem executado 100% de seu projeto sem que precisasse se “descabelar” para tocar o barco. A parceria ajudou a marcar o trabalho menos centralizador do estreante na chamada “família portelense”.

– Encontrei minha alma gêmea – derrete-se o carnavalesco.

“Ele entende de tudo, tira as minhas dúvidas”, elogia Paulo Barros

Perfeccionista toda vida, Paulo pela primeira vez se intitula dependente de alguém na hora de fazer acontecer o que pensou para levar para a Sapucaí. Domingo, feriado, de manhã cedo ou na madrugada, é a Moisés que ele recorre.

– Ligo pro Moisés pra tudo, a qualquer hora. Eu ligo pra ele quando tenho alguma dúvida. Muitas vezes, quando ligo pra pedir algo ele me vem com um ‘já foi feito’. Sei que vai resolver, ou que já resolveu. Nunca conheci alguém com tantos conhecimentos técnicos. Ao longo da minha carreira, desenvolvi um processo de execução do carnaval, principalmente de carro alegórico, que é de dentro pra fora. Tem uma técnica específica. Às vezes, necessito que o carro tenha um detalhamento de centímetros do posicionamento de alguma peça, de alguma ferragem, de alguma engrenagem, que tem que ser seguido. E isso tem um manual de instrução. Comecei a construir esse processo a partir da minha experiência, e, desde então, tenho que descer pros carros alegóricos pra acompanhar esse processo. Nunca consegui ninguém que olhasse essas coisas pra mim. Eu tenho que ir debaixo do carro, tenho que ir em cima do carro, tenho que ir do lado do carro. Criou-se até a piadinha ‘ah, ele tá em cima do carro porque gosta de aparecer’. Não, eu não gosto de aparecer, não. Eu quero ver se foi feito o que eu pedi. Eu sei que se aquilo não tiver sido feito, vai dar merda no carro, aquilo não vai acontecer, aquilo não vai funcionar. E ele entende de tudo, tira as minhas dúvidas. O que não consigo dar solução, ele dá. Nos completamos – afirma.

Quero levar ele comigo, pra onde eu for. Procuro uma pessoa dessa há mais de uma década.

“Sou centralizador”, admite Paulo Barros

Desde que passou a ter Moisés como seu braço-direito, Paulo aprendeu a dominar muitas técnicas e a dividir melhor seu tempo e, claro, as responsabilidades.

– A maioria das pessoas se preocupa com o quê? Com o que vai colocar em cima do carro, qual é o acabamento, qual a cor da escultura, qual é a pluma, qual é a placa, qual é o galão, qual é o tecido, qual é o enfeite do bolo…eu não estou preocupado com isso. Tenho carro que vai pra Avenida que abre a porta e fecha a porta. Essa merda tem que abrir e tem que fechar, entendeu? E eu sempre sofro com isso porque tenho que ir aos carros pra verificar se isso está sendo feito, senão, não vai funcionar. E várias vezes eu chegava naquela curva (de entrada das alegorias na Marquês de Sapucaí) e as pessoas falavam assim: ‘Nossa, mas ele dá uma sorte, né? Os carros acontecem direitinho, é tudo muito certinho. Tudo vira, tudo abre, tudo fecha, tudo sobe, tudo desce…’. Sorte é o cacete. Isso é acompanhamento técnico do carro, de uma construção der um manual que tem que ser seguido, e eu precisaria ter uns cinco irmãos gêmeos pra fazer essa parte. Aí, cheguei no barracão da Portela e me deparei com uma pessoa que eu não conhecia, só de nome no carnaval. Não sabia das habilidades do Moisés, e eu tinha boas referências dele, e resolvi apostar nisso. Ao longo desse processo todo, hoje posso dizer que encontrei a pessoa certa pra fazer esse trabalho pra mim. Isso me desafoga, eu consigo respirar. Eu consigo fazer outras coisas e agilizar o meu trabalho porque sei que tem alguém que tá olhando coisas que têm que ser vistas e que são mais importantes do que qualquer outra. Está sempre atento a tudo. Sou centralizador, mas sempre fui porque nunca tive quem se antecipasse ao problema e resolvesse as coisas. O Moisés é essa pessoa. Ele é mais do que um diretor de barracão, diretor de produção. Ele é técnico de produção – define.

Moisés se adaptou fácil ao estilo exigente do carnavalesco

Surpreso com as declarações elogiosas do célebre carnavalesco, Moisés Carvalho também faz uso do espaço pra rasgar sua seda. Com 40 anos de vida e três de Portela, o diretor de barracão diz que, assim como o chefe, soube usufruir da convivência quase diária no barracão e acumulou conhecimentos. E que a incessante busca pela perfeição de Paulo Barros teve grande serventia.

– O Paulo é um cara que quer que tudo funcione, ele briga pra dar certo. E está coberto de razão, é nome dele, o nome da escola e dos profissionais. Se der certo, dá certo pra todo mundo. Ele quer perfeição. Desde o inicio do processo até os ensaios, a gente procura deixar tudo pronto pra não ter nenhum estresse na hora “H”. Sabendo que ele é assim, procuro me planejar e fazer bem mais do que eu fazia anteriormente. Reviso a mesma coisa umas 10, 15 vezes. Procuro andar na frente dele. Quando ele vem me procurar, já tá resolvido. Claro que nem sempre dá, não consigo estar nos quatro andares ao mesmo tempo. Mas procuro me antecipar – explica Moisés.

“Muito mais do que um chefe, tenho um amigo”, destaca o diretor

Gratidão também é uma boa palavra para definir a boa relação de amizade que foi estabelecida entre os dois. É que Paulo chegou à Portela num momento em que Moisés estava praticamente fora da escola:

– Me sinto honradíssimo por saber que o Paulo me vê dessa forma. Quando entrei na Portela, não sabia se continuaria. Ele foi o cara que confiou, apostou e queria trabalhar comigo. E eu disse a ele que ele não iria se decepcionar. Falo pra ele, se tiver que me ligar 30, 40 vezes, domingo, feriado, vou atender e fazer o que ele precisar. Se estiver dentro da minha alçada, vou fazer. Evito falar não. Deixa eu tentar fazer primeiro. Tento fazer tudo pra fazer o projeto dele dar certo. Ele quer que tudo dê certo, é detalhista, e é fácil de trabalhar. Se não tem um produto na casa, ele usa outro. Ele quer a perfeição. Ele sempre diz que o carnaval tem que se profissionalizar, se organizar mais, ele sempre fala isso, e está certo. Muito mais do que um chefe, tenho um amigo. Ele me respeitou profissionalmente, então passei a admirar ainda mais. Conquistei um amigo. Sou um cara meio fechado, mas ele é um grande parceiro.

Se a bem-sucedida parceria vai render, além dos elogios mútuos, o campeonato à Portela, só saberemos na Quarta-feira de Cinzas. Mas, no que depender de Paulo, independentemente do resultado, o trabalho em dupla não terá prazo de validade.

– Quero levar ele comigo sempre, pra onde eu for. Procuro uma pessoa dessa há mais de uma década. A ideia é que eu tenha essa pessoa, independentemente da escola. Preciso disso. Aprendi com ele questões técnicas que desconhecia até aqui. Coisa de mecânica, engrenagens, mecânicas de direção, de barra de direção – conclui Paulo Barros.

A Portela será a quarta a desfilar na Segunda-feira de Carnaval, pelo Grupo Especial, com o enredo “No voo da águia, uma viagem sem fim…”.


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