Translate

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Marcos Falcon

Se Marcos Falcon fosse vivo, completaria amanhã 55 anos.

Marcos Vieira de Souza, mais conhecido como Marcos Falcon, ou simplesmente Falcon foi, sem dúvida, uma das personalidades mais importantes da história recente do G.R.E.S. Portela. Sua breve passagem na condução da Majestade do Samba, como Vice-presidente e, depois, como Presidente da escola, marcou o renascimento da agremiação e abriu caminhos para o tão aguardado título de Campeã, legítima, de 2017. Personagem forte, controvertida e aclamada, Marcos Falcon é lembrado aqui como um de nossos baluartes por sua incansável dedicação à escola e por tê-la guiado por caminho exitoso que continua sendo até o momento trilhado com êxito.

Desde Natal, nenhum outro dirigente influenciou tanto, e para o bem, a escola de Oswaldo Cruz e Madureira. Marcos Falcon nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de fevereiro de 1964 e morreu em 26 de setembro de 2016, assassinado, no bairro de Madureira.

De sua vida pessoal, destacamos os filhos, três homens – Marcos Vinícius, Marcos Falconi e Daniel – e quatro filhas – Marcele, Gabriele, Aline e Michele. Além dos filhos, foi notória a sua união com a famosa Porta-Bandeira da Escola de Samba Beija-flor, Selminha Sorriso (Selma de Mattos Rocha), sua viúva.

Falcon foi policial militar antes de se tornar dirigente de carnaval. Durante as décadas de 1990 e 2000, em Oswaldo Cruz, Falcon ganhou fama de justiceiro, mas nada se comprovou a esse respeito. Seu envolvimento com o carnaval foi gradual, desde os tempos em que se tornou patrono da escola Rosas de Ouro, de Oswaldo Cruz, até assumir o cargo de diretor de carnaval da Portela, em 2011. Destaque-se que, em 2009, a Rosas de Ouro havia desfilado na Estrada Intendente Magalhães com o enredo “Não há limite para o sonho. Quem ousa vence”. A frase “Quem ousa vence” acabou sendo um dos lemas de Falcon.

Falcon já era Sargento da Polícia Militar, em 2011, quando assumiu o cargo de gerente de carnaval da Portela. Era a época da gestão Nilo Figueiredo. Perdeu seu cargo na escola quando foi preso, acusado de ligações com a milícia, sendo absolvido em 2013, após nada ser provado, em uma investigação realizada pela chamada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das milícias. 2013 foi o ano que marcaria definitivamente sua vida e inscreveria sua história nas páginas belas da Azul e Branco de Oswaldo Cruz Madureira. Foi neste ano que começaram as articulações para a criação da já lendária chapa Portela Verdade. Essa chapa, além do que se conhece, registra uma bela história, ainda a ser contada por todos os que participaram daquela aventura séria que deu origem a uma escola renovada e potente.

Para nos dar conta de um desses relatos, a portelense Lucia Boudrini nos relembrou alguns fatos mais conhecidos do público e nos contou outros, ainda não revelados e que nos ajudam a compreender um pouco aquele momento especial, da Portela e da vida de Falcon. Lucia Boudrini participou ativamente das articulações iniciais da virada promovida por Falcon e sua equipe. Daquele embrião, destacamos as famosas “feijoadas do Campo do Falcon”, que se tornaram cenário inesquecível de um período de esperança que ali se iniciava. Lucia participou da primeira feijoada que, inclusive, contou com a presença da então Torcida Portelamor (hoje Grupo Portelamor). Naquele dia se decidiu realizar mensalmente um encontro com feijoada. A partir desse primeiro encontro, houve participações expressivas das torcidas e do público, em geral, para um evento mensal que era aguardado pelos portelenses insatisfeitos com os rumos dados à escola por Nilo Figueiredo.

Aqueles encontros bailam na memória de quem deles se participou, tanto pelo sucesso indiscutível de público quanto pelo círculo de amizade que lá se formou em torno de uma Portela grande, cuja semente estava sendo plantada. A primeira feijoada, vale destacar, foi anterior à oficial, e celebrava o aniversário de Rogério Rodrigues, hoje um dos responsáveis pela área cultural da Portela.
Falcon sentiu a necessidade de unir as pessoas em um momento em que a quadra da Portela já dava sinais de desgaste por conta da má administração. A feijoada do Falcon, uma espécie de “feijoada B”, cresceu de forma gradual, até se transformar em um importante evento mensal, atraindo grande público a Campinho. Todo esse processo foi fundamental para a construção de um projeto de recuperação para a Portela e que se transformou em símbolo de resistência e esperança visando ao resgate do orgulho portelense, bandeira levantada por Falcon.

Muitas foram as pessoas determinantes naquele momento: Rogério Rodrigues, Almir Barbio, Felipe Guimarães, Paulo Renato – as quatro figuras mais decisivas, à época –, além de Vanderson Lopes, Fábio Pavão, Marcelo Moura, dentre outros nomes, como a própria Lucia Boudrini. Pedimos perdão aos que aqui não foram citados, mas que certamente deixaram sua marca naquele momento especial.

Falcon encabeçou a criação da chapa Portela Verdade, que já contava com expressivo apoio dos nomes supracitados e foi ganhando paulatinamente o apoio dos portelenses, em geral. Mas o começo não foi fácil. A princípio, o grupo era malvisto dentro da agremiação. Mas a vitória veio, embora por uma pequena margem de votos, o grupo se elegeu e substituiu a desastrosa gestão Nilo Figueiredo. O cantor, compositor e membro da Velha Guarda da Portela, Serginho Procópio, encabeçou a chapa Portela Verdade e se tornou o Presidente da nova Portela, que teve Marcos Falcon como Vice-presidente e Mestre Monarco como Presidente de Honra. Eleita a chapa, o desafio era recuperar a escola.

Ainda de acordo com Lucia Boudrini, a situação era de terra devastada. Cada um teve que levar seus notebooks e materiais de trabalho; não havia mesas, cadeiras, materiais de consumo. Uma limpeza geral foi feita, na quadra e no barracão na Cidade do Samba, que se tornara um depósito de lixo.

Cada companheiro levou sua experiência pessoal e profissional para a Portela. Falcon gerenciou uma equipe de idealistas que, embora com o melhor dos propósitos, ainda não tinha experiência efetiva na condução de uma escola de samba. Marcos Falcon foi uma espécie de maestro. Conseguiu agregar aquele conhecimento bruto em prol de uma administração competente, cujos resultados vieram no primeiro desfile comandado pela equipe, em 2014. Segundo Marcelo Hargreaves, “logo em seu primeiro carnaval, a nova administração surpreendeu trazendo uma Portela altiva e que fez um desfile competitivo, como não apresentava desde 2009. Contou a história do primeiro porto de escravos do Rio e encantou o público. Num ano de desfiles fracos, poderia ter encerrado o jejum ali. Mas era preciso convencer antes os jurados…”.

Além da Portela, Falcon também participou ativamente no carnaval da Estrada Intendente Magalhães, defendendo mudanças na organização dos desfiles lá realizados. Em 2015, fundou a Associação Cultural Samba é Nosso, que passou a organizar o carnaval dos grupos C, D e E, naquele local.

No ano de 2015 a Portela conquistou um quinto lugar com sabor de terceiro e nos deu uma das imagens mais belas do carnaval, de todos os tempos: A Águia Redentora mereceu da colunista do jornal O Globo, Rosiska Darcy de Oliveira, as seguintes palavras: “Cariocas devem agradecer à Portela esse momento que entra para a história da cidade como uma das mais belas evocações do Rio”. E arrematava: “Este ano, do fundo da Sapucaí surgiu uma águia branca, redentora, um Cristo alado pousado no asfalto, que atravessou a avenida fundindo no simbolismo o carnaval e o próprio Rio. Águia com vocação de pomba da paz, abrindo e fechando as asas em movimento protetor. Águia branca redentora, livrai-nos da ganância que prostitui o carnaval”.
Sob o comando do carnavalesco Alexandre Louzada, 2015 repetia o excelente desfile de 2014, mas falhas técnicas impediram novamente a vitória. Na avenida, homens voadores desciam de paraquedas, repetindo o feito de 2014, que de tão impactante, voltou em 2015.

A Portela trazia ainda um drone em forma de águia, outra inovação da administração Falcon, além de apresentar alegorias que se se transformavam ao longo do desfile, em diálogo com o enredo.

Em 2016, a grande novidade foi a contratação de Paulo Barros. Foi o ano da aclamação de Falcon como Presidente da Portela, após Serginho Procópio ter decidido não se candidatar à reeleição. Com belíssimo desfile, Paulo Barros não conquistou de imediato os jurados, mas deu à escola um terceiro lugar com sabor de vitória. O grande momento se deu em 2017, mas a vitória tão aguardada teve sabor amargo. A alegria se misturou à dor de uma ausência.
Após a eleição de Falcon, em 2016, já com enredo definido e durante as eliminatórias do samba-enredo, Falcon anunciou que seria candidato a vereador pela cidade do Rio de Janeiro, pelo PP – Partido Progressista. Faltando menos de uma semana para a eleição, Marcos Falcon foi assassinado em Madureira, próximo a seu comitê de campanha, crime até hoje sem solução. Sua morte foi uma tragédia que abalou os alicerces dos portelenses, mas, segundo seu filho Falconi, “ele não era só um líder, mas também um bom gestor”, o que permitiu à Portela seguir organizada, unida, rumo à vitória de 2017.

Não queremos fechar essa homenagem com a nota triste de uma morte que, embora brutal, não apagou a passagem de Falcon pela Águia Altaneira. Lembrando as palavras de Lucia Boudrini, Falcon era homem de grande vitalidade, incansável, desde os primórdios de 2011. Era sua característica marcante, além da capacidade de captar o melhor das pessoas e situações, revertendo-as em favor da escola. Lucia destaca em Falcon a qualidade de ouvir, de estimular seus auxiliares. Foi parceiro e foi firme em suas ações. Para Lucia, todos aprenderam muito com Falcon e ele também aprendeu muito com as pessoas que o cercaram, homens e mulheres talentosos e que, embora neófitos, levaram a escola ao ansiado pódio com sua competência.

Da quadra sem luz e água, do barracão abandonado, dos péssimos carnavais apresentados na avenida, a Portela se tornou referência de competência administrativa. Projetos como os de Sócio Torcedor foram pioneiros, além da intensa atividade cultural que lá se desenvolveu, dentro e fora da escola.



Em princípio malquistos, a equipe liderada por Falcon mostrou capacidade e determinação para reconduzir a Portela ao lugar de onde jamais deveria ter saído: o panteão das campeãs: campeã da superação, da amizade, do encontro, do amor à escola e do amor a Falcon, no dizer de Lucia Boudrini.

Dentre as muitas homenagens, em 2016, também durante uma feijoada, a diretoria da Portela anunciou que Falcon teria seu nome eternizado no barracão das alegorias do G.R.E.S Portela, na Cidade do Samba. O espaço se chama hoje Fábrica de Sonhos Presidente Marcos Falcon. Além disso, um busto de Falcon foi inaugurado em 19 de outubro de 2017, no Portelão. Para Luis Carlos Magalhães, “tudo de bom que está acontecendo na Portela hoje tem nome e sobrenome: Marcos Falcon”.

Para encerrar, ficamos com as palavras de Boudrini para Marcos Falcon, caso ele pudesse ouvi-las, hoje. Elas resumem essa homenagem: “Se eu pudesse encontrar o Falcon hoje, eu falaria para ele o seguinte: irmão, você foi cedo, mas você deixou um legado bonito”.

Gratidão, Marcos Falcon.



Avante, Portela!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário