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sábado, 1 de outubro de 2016

Carnavalescos revelam fórmulas para superar crise financeira

Por Rodrigo Trindade

Dada a crise financeira que afeta alguns setores da economia brasileira, dentre eles, o Carnaval, alguns carnavalescos que atuam na Série A do Rio de Janeiro revelaram ao SRZD os artifícios que usam para driblar o problema da falta de recursos, e consequentemente, a falta de material para trabalhar. Todos eles tocaram num mesmo ponto comum: a criatividade. Confira:

Cid Carvalho

'É um momento delicado, talvez o mais grave desta crise'


"A crise nas escolas até se agravou agora pelo momento da economia do país. Mas isso não é tão novo assim. Os problemas financeiros de algumas escolas vêm de algum tempo. Sempre venho falando disso e sofrendo muito esses problemas. Não só o da falta de estrutura de se construir, de montar um Carnaval, mas também com a falta de pagamento de profissionais que confeccionam, se dedicam para colocar o Carnaval na rua. Então, são dois momentos distintos: um é montar um desfile sem dinheiro, com substituição de materiais, ir para o alternativo, buscar coisas mais baratas. Usamos vários truques que a gente aprende ao longo dos anos. Reciclar acima de tudo, buscar o mais barato. Uso de plumas, por exemplo, é quase que proibido, pois o custo está muito alto, é cotado em dólar. O outro momento é a relação entre os artistas e dirigentes das escolas de samba. A gente sempre tenta buscar um diálogo, uma negociação, facilitar o pagamento, mas nem sempre conseguimos uma resposta. Se não houver diálogo, papo aberto e franco, isso só pode piorar. Também devemos cobrar transparência em relação a algumas escolas. Devem ser transparentes perante suas realidades. Mas de fato, é um momento delicado, talvez o mais grave desta crise.", afirma Cid Carvalho, ex-carnavalesco da Cubango e que atua em Vitória, pela Mocidade Unida da Glória, e ainda na Leão de Nova Iguaçu, que desfila pela Série B do Rio.

Jaime Cezário

'Quando é que Carnaval não foi de crise para o acesso?'

"Acho engraçado este termo: 'este ano vai ser o Carnaval da crise'. Mas quando é que o Carnaval não foi de crise para o acesso? Sempre tivemos problemas financeiros, mas com muita criatividade, conseguimos dar a volta por cima reciclando, reutilizando materiais e driblando os problemas financeiros. Foi assim, por exemplo, em 2016 com a Porto da Pedra", conta Jaime Cezário, carnavalesco da Porto da Pedra.

Jorge Silveira

'Fazer Carnaval é criar soluções a partir de poucos recursos'


"Fazer Carnaval no Grupo de Acesso é lidar constantemente com a necessidade de encontrar alternativas. O recurso tem suas limitações. Não é novidade alguma: fazer Carnaval é necessariamente criar soluções a partir de poucos recursos. A tônica esse ano mais do que nunca é criatividade. É parte do desafio", opina Jorge Silveira, carnavalesco da Viradouro.

Wladimir Morellembaumm

'A alternativa é usar sensibilidade e criatividade'

"A crise financeira é muito séria. Chegou e realmente invadiu o projeto de várias escolas, tanto no Acesso quanto no Grupo Especial. Mas nós da Santa Cruz pensamos num Carnaval leve, fácil, volumoso, mas que logo de cara, não tivesse, por exemplo, plumas e esplendores. Calcule comigo: temos cerca de 3 mil componentes, 3 mil fantasias. Se usássemos plumas, e multiplicássemos isso, colocássemos isso em valores, daria uma quantia absurdamente cara. Sendo assim, a alternativa é usar sensiblidade e criatividade. Usamos elementos simples, barato e que com iluminação, se transformam e dão um grande efeito. Há materiais que são fáceis de transformar. Aquela beleza que as plumas proporcionam serão substituídas por materiais mais em conta. Vamos usar muita teatralização também. Nós teremos fantasias belíssimas, com muito brilho, mas dentro da realidade atual. Conseguimos colocar nos figurinos uma leitura bacana, inteligente e de fácil assimilação. O caminho é esse, criatividade para driblar a crise econômica", revela Wladimir Morellembaumm, membro da comissão de Carnaval da Acadêmicos de Santa Cruz, ao lado de Lane Santana e Munir Nicolau.

Bill Oliveira

'Quem sabe a crise não vença o vício de faisão e strass'

"Estou na estrada há 14 anos e o que recomendo é usar a criatividade nestes momentos. Pois toda crise é uma chance para sermos criativos. Seja em que área da vida for. A crise acaba ajudando se você souber olhar para ela. Afinal tudo tem uma lição. No Carnaval, por exemplo, temos materiais riquíssimos e belos. Não era assim na década de 70, 80 e 90. Quem sabe a crise não vença o vício de faisão e strass e os criadores possam ir por outros caminhos?", recomenda Bill Oliveira, artista plástico e carnavalesco. Desenha para o Carnaval do Rio, Vitória e também fez trabalhos na Argentina.

Vitor Mourão

'Nosso trabalho está sendo de transformação de materiais'

"A crise realmente atacou o país e não dá para fecharmos os olhos. Nosso trabalho na Curicica está sendo de transformação, tanto na questão das fantasias quanto nos carros alegóricos. Estamos reciclando muitos materiais e usando outros alternativos e que dão um efeito interessante. Também vamos levar muitas coisas novas para o Carnaval e que vai fazer a diferença nos próximos anos, ajudando e servindo de exemplo até mesmo para outras escolas. Vamos mostrar que, mesmo com pouquíssimo dinheiro, vai ser possível fazer um belo Carnaval", aposta Vitor Mourão, carnavalesco da União do Parque Curicica, ao lado de seu irmão Leandro Mourão.

João Vitor Araújo

'É reciclar, transformar materiais e usar outros alternativos'

"A solução para se colocar um Carnaval na rua, nos períodos de crise, é recorrendo à reciclagem. Claro que todos gostariam de criar um Carnaval do zero, com tudo novo, com esculturas lindas, mas isso não é possível, a não ser que seja uma escola milionária. Mesmo assim, até mesmo as mais ricas estão em crise e apertando o freio em relação a gastos. Na Rocinha, por exemplo, temos poucos recursos. É subvenção e alguns parceiros. É reciclar, transformar materiais e usar outros alternativos, que dão impacto e efeito. Provavelmente, isso vai permanecer por bom tempo. Se me perguntar como posso resumir meu Carnaval em uma palavra, eu diria: reciclagem. Assim estou fazendo e não é de hoje. É assim o Carnaval da Série A. Outro segredo, como havia comentando ao SRZD em outra oportunidade, é começar os serviços cedo", diz João Vitor Araújo, carnavalesco da Acadêmicos da Rocinha.

Marco Antônio Falleiros

'Procuro sempre reciclar, principalmente esculturas'

"Em épocas de crise temos que trabalhar com mais cautela, e dentro de orçamentos bem mais restritos, só que nós artistas sempre arrumamos um jeitinho de superar tudo isso e colocar o Carnaval na rua. Sempre procuro manter um diálogo aberto com a direção da escola para poder desenvolver o projeto dentro das condições financeiras e realizar tudo de forma correta. Procuro sempre reciclar, principalmente esculturas, para baratear o custo, assim podemos dar uma roupagem nova com um acabamento bom e apresentar algo diferenciado. Uma boa reciclagem com dosagem de materiais alternativos ajuda a diminuir os custos", considera Marco Antônio Falleiros, carnavalesco da Alegria da Zona Sul.


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