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terça-feira, 9 de junho de 2015

A revolução das comissões de frente e dos casais de mestre-sala e porta-bandeira

Redação SRZD

Ao praticar um velho hábito (ou seria um vício?) de rever desfiles antigos, venho observado que algumas coisas muito comuns nos desfiles vem desaparecendo, outras retornando, e outras que surgiram como modismo se solidificaram. Por se tratar de um tema extenso, vou dividir minhas observações em duas partes. A primeira compartilho com você agora e a segunda parte trataremos em breve. Como recorte temporal, vamos pensar nos últimos 15 Carnavais.

Creio que o quesito que sofreu maior modificação visível tenha sido a comissão de frente com a inserção de novos elementos. Se antes o papel da comissão era apresentar a agremiação, estimulando o público a reverenciar a escola que adentrava na Avenida, hoje não temos mais a comissão de frente seguida pelo abre-alas e o primeiro setor da escola. Temos atualmente o primeiro setor composto pela comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, algumas vezes alas e depois o primeiro carro.

Nestes últimos tempos, tivemos inúmeras comissões de frente inesquecíveis. Cada um de nós vai lembrar de ao menos três que foram sensacionais. Posso destacar, em 2015, a comissão de frente do Salgueiro. Tivemos, também, a do Império da Tijuca em 2013, a da Vila Isabel em 2012, Unidos da Tijuca em 2010, entre outras. Entretanto, minha memória afetiva de comissões de frente marcantes nos últimos tempos é um pouco mais antiga, e me remete a uma única agremiação: Mangueira.

As comissões de 1999, 2002 e 2003 são as primeiras que vêm a minha cabeça quando penso nesta questão. Vejo 1999 como o marco desta mudança, foi ali, que o quesito se transformou. Foi a partir daquele ano que as comissões de frente passaram a ser um dos momentos, senão o momento mais aguardado pelo público que assiste o desfile.

Novos materiais e tecnologias e especialmente a inserção dos tripés trouxeram um dinamismo às comissões. Sobre o tripé, percebo que algumas agremiações ainda não encontraram a medida certa para sua utilização. Na série A, o tripé foi abolido e o público não sentiu falta dele nos últimos Carnavais.

No grupo especial existem algumas críticas ao tamanho do "elemento cenográfico". Será um elemento em extinção? Ou ainda há espaço para ele nas comissões de frente? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Outra mudança significativa diz respeito aos casais de mestre-sala e porta-bandeira que passaram a integrar o primeiro setor da escola. Os defensores do pavilhão vêm normalmente entre a comissão de frente e o carro abre-alas. A maioria das agremiações utiliza o recurso de guardiões para que o casal possa bailar com maior tranquilidade e tenha o espaço necessário para a sua evolução.

Alguns diretores afirmam que trazer os casais na cabeça da escola faz com que a escola ganhe alguns minutos a mais no tempo de desfile, o que contribui para a evolução da agremiação. Confesso que esta mudança não me agrada. Vejo que em alguns casos os casais e principalmente o pavilhão não têm o destaque que merecem. Já vi nas arquibancadas da Sapucaí pessoas que simplesmente "perderam" a apresentação do casal porque a Comissão de Frente absorveu toda a atenção. Falo aqui como sambista e apreciadora da festa. Gostaria muito de ouvir os casais, saber a preferência deles. O que posso dizer que em 2015 meus olhos brilharam de alegria ao ver o excelente casal da São Clemente, Denadir e Fabrício à frente da bateria, reinando absolutos. Espero sinceramente que em 2016 tenhamos mais momentos assim.

A mudança no bailado dos casais também se tornou mais visível, especialmente nos últimos três anos. O que temos visto é uma dança mais dinâmica, coreografias mais elaboradas, uma busca por maior interação com o público. Entendo que a dança do casal, como qualquer modalidade de dança, sofre evoluções e influências ao longo do tempo. Natural que seja assim. A questão principal é que a essência, o objetivo do bailado não se perca. Há ainda a utilização de indumentárias - especialmente das portas bandeiras - com luzes, um formato diferenciado, enfim com algo que chame atenção de público e julgadores.

Podem me chamar de antiquada, mas para mim uma roupa bem confeccionada não precisa de iluminação. Basta caprichar nas plumas e nas cores. Finalizo esta primeira parte do nosso bate-papo, caro sambista, com um questionamento:

É possível comissões de frente e casais coabitarem o mesmo espaço, o mesmo setor sem que um se destaque mais que o outro? Ou para melhor apreciarmos das arquibancadas, seria ideal que viessem separados? Assim, poderíamos saborear o melhor de ambos?

Cada agremiação certamente tem a sua preferência, sua logística, sua metodologia na hora de montar um desfile. Neste debate tenho apenas uma certeza: é o pavilhão que tem que brilhar! E o resto deixe com nossos casais, eles sabem nos encantar como ninguém!

*Cristiane Lourenço, colaboradora do SRZD-Carnaval


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