Translate

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Em debate na UERJ, pesquisadores demonstram preocupação com bases das escolas de samba

Por Guilherme Ayupp

A última mesa de debates do seminário "Sonhar Não Custa Nada ou Quase Nada? Horizontes do Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro" trouxe o tema "Fazendo Sonhos, Tecendo Mundos Artísticos", que debateu diálogos existentes entre o carnaval das escolas de samba e outros domínios artísticos. A intenção foi contextualizar as mudanças pelas quais vêm passando os desfiles e as escolas de samba. Estiveram na mesa de debate o mediador, Luiz Anselmo Bezerra, doutorando em História Social e Mestre em História Contemporânea pela UFF, e os debatedores, André Porfiro, professor do Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Jair Miranda, um dos idealizadores do Portal do Carnaval e Luiz Antonio Simas, historiador, professor e escritor.

'As escolas de samba estão deixando secar a raiz', ataca Simas

Para o historiador Luiz Antonio Simas, o carnaval vem tomando um rumo preocupante no tocante à preservação de suas origens. - O samba é como uma árvore, e a raiz precisa ser regada, senão seca e morre. Vejo com extrema preocupação a não valorização das matrizes fundamentais das escolas de samba e um exacerbado foco nos resultados - disparou.

Simas está preparando um livro, baseado em uma pesquisa realizada com Nei Lopes, chamado "Dicionário da História Social do Samba". - Até os anos 20 e 30 nenhuma escola de samba teve seu processo de fundação dissociado da chamada diáspora africana, com as matrizes da macumba carioca. É absolutamente impossível separar uma coisa da outra. Prova disso são os toques para alguns orixás das principais baterias, como Portela, Salgueiro e Mocidade - explicou Simas.

'O samba é maior que o carnaval', destaca Jair

Em sua fala o professor Jair Miranda deu um importante esclarecimento na relação entre samba e carnaval. - O carnaval é mais antigo, antes do samba havia o entrudo e outras formas de manifestação. O surgimento do samba tem 100 anos e a partir dele se desenvolveu o desfile das escolas, mas existiam e ainda existem outras formas de manifestação carnavalesca no mundo todo - salientou.

Jair Miranda desenvolveu um trabalho em que demonstra as diferentes manifestações do samba e do carnaval ao redor do mundo. - No Japão participei de uma roda de samba em um lugar chamado Praça XI e havia uma imagem de São Jorge no centro da mesa. Japoneses cultuando Ogum, não há nada mais globalizado que isso - avalia um dos idealizadores do Portal do Carnaval.

André Porfiro contou um curioso caso em que o processo colaborativo, onde as pessoas podem interferir no projeto do carnaval, foi decisivo no carnaval de 1993 da Beija-Flor de Nilópolis. - Havia uma fantasia de um pião, e ela seria colorida, como um arco-íris. Depois da escolha do samba, que tinha um refrão marcante ("Gira meu mundo pião, de listras brancas e azuis"), Maria Augusta decidiu mudar o protótipo - lembrou.


Nenhum comentário:

Postar um comentário