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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Deixem o samba para os sambistas

Redação SRZD

Se existe um mantra no mundo do samba é: Deixem o samba para os sambistas.

Mas para qual sambista? Esta é a pergunta que tenho me feito nos últimos tempos. O sambista que anda aborrecido com as escolhas de enredo do grupo de elite do carnaval ou o sambista que está ansioso para mais um show de pirotecnia na Avenida?

O que temos visto, caros sambistas (e escrevo aqui para todos) é um espetáculo de proporções que se agigantam a cada ano. Cifras incalculáveis, alegorias inimagináveis, comissões de frente inacreditáveis. Enfim, o "maior espetáculo a céu aberto da terra" nunca fez tanto jus ao nome que lhe deram. Entretanto ser superlativo tem seu preço. Umas das queixas que mais tenho escutado nos últimos três ou quatro pré-carnavais diz respeito a escolha do enredo por parte das agremiações do grupo de elite do carnaval carioca. E aí reside a questão: bom enredo e carnaval gigante parecem não convergir. Mas você me dirá que já tivemos grandes enredos e grandes carnavais. E eu lhe afirmarei com toda a certeza do mundo - e com um lamento do tamanho do meu amor pelo samba - que o casamento enredo maravilhoso + carnaval grandioso está cada vez mais escasso no domingo e segunda de carnaval.


Não sei responder como o carnaval se deixou levar a este ponto. O que digo é que muito do que vem acontecendo é responsabilidade do sambista. Do sambista que esquece que o que acontece na Marquês de Sapucaí é Desfile de Escola de Samba e não desfile de alegoria com led. Vivenciamos um pré-carnaval 2015 marcado por uma ansiedade sem medidas pelo melhor ângulo dos carros em fase de acabamento na Cidade do Samba. Profissionais foram julgados com base em chassi e madeira. Agremiações foram sacramentadas campeãs um mês antes do desfile pelo que se via em imagens desfocadas nas redes sociais.

Evidente que a responsabilidade dos enredos é da diretoria de cada escola. O que precisa ser analisado é até que ponto a pressão por algo cada vez maior (e óbvio, cada vez mais caro) não leva a escolhas equivocadas. Até o momento poucas escolas do Grupo Especial divulgaram seus projetos para 2016. Contudo, podemos perceber que a tendência é que se repita o que vem ocorrendo, ou seja, muito possivelmente teremos melhores enredos nas agremiações das séries A e B do que no grupo de elite.

É longe da Marquês, é lá na Intendente que tem acontecido o carnaval tal qual queremos. Não vou aqui entrar nas questões políticas e de disputa. Também não vou aqui tecer comentários sobre a qualidade do material usado, se tem led ou não. Mas que naquelas bandas os enredos e os sambas são bons, isso não podemos negar. E na Passarela do Samba? Na Avenida onde é sonho de todo sambista brilhar? Lá o fervo é na sexta e sábado, onde o carnaval e carnavalizado e enredo é contado. Afinal foram nesses dias que temos visto muita coisa boa passando. Teve luxo, criatividade. Teve também gigantismo. Porém todos abaixo da estrela principal chamada carnaval. Quanto ao mantra, aquele que me referi lá em cima: deixemos o samba para os sambistas. E vamos torcer para que eles saibam o que querem.

*Cristiane Lourenço - Colaboradora do SRZD


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