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sexta-feira, 26 de junho de 2015

Carnaval da Intendente domina debate sobre escolas de samba na UERJ

Por Guilherme Ayupp

Aconteceu nesta quinta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) o segundo dia do ciclo de debates 'Sonhar Não Custa Nada ou Quase Nada? Horizontes do Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro'. A primeira mesa teve como tema "Reflexões sobre o Espetáculo e os Sonhos". Integraram o debate o mediador, Milton Cunha, além de Edson Farias, pesquisador do CNPq, Felipe Ferreira, coordenador do Centro de Referência do Carnaval e Nilton santos, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). A proposta do encontro foi debater e escutar diferentes vozes da academia sobre o status de espetáculo popular ostentado pelo Desfile das Escolas de Samba, em suas implicações estéticas, econômicas e sociopolíticas.

Entretanto, o rumo da conversa seguiu para Zona Norte, ficando bem longe do Sambódromo, e desembarcou na Estrada Intendente Magalhães, em virtude da crise que atravessam as agremiações dos grupos de acesso. O mediador do encontro, Milton Cunha, diretor cultural do "Samba é Nosso", entidade que pleiteia a organização dos grupos de acesso, enfatizou que o debate é importante e só tende a fazer bem ao carnaval. - Estou emprestando meu conhecimento adquirido nesses anos de experiência a essa entidade, pois acredito nela. É muito importante a gente trazer essas escolas para o centro do debate. Elas são a base fundamental do carnaval - contou Milton, que garantiu um debate apenas com esse tema em um futuro próximo.

O pesquisador Felipe Ferreira, concordou com Milton e pediu maior organização em uma eventual Liga que coordene a folia longe das fronteiras do Sambódromo. - A cada ano desfilam em um dia, não existe uma regra bem definida. A organização também passa pelas próprias escolas - opinou.

Nilton Santos: 'Os carnavalescos representam a ponte entre o erudito e o popular'

O professor Nilton Santos enfatizou em seu depoimento que os carnavalescos trouxeram para os desfiles um ar acadêmico que eles não tinham. - Foi a partir dos anos 60, quando Pamplona introduziu toda a turma da Escola Nacional de Belas artes e os enredos passaram a ser muito mais bem elaborados e o espetáculo se tornou visualmente mais atraente - explicou.

Nilton disse também que o lado nem tão positivo desta grandiosidade foi o fato de que algumas tradições serem esquecidas. - A competição passou a gritar dentro das agremiações, quando escolas não tão tradicionais à época passaram a vencer. E até hoje esse duelo luxo x tradição faz parte dos desfiles, principalmente no Grupo Especial - finalizou.

Felipe Ferreira: 'Falta pensar mais no componente'

Em sua explanação, Felipe Ferreira fez um importante alerta, principalmente às grandes escolas de samba. - Sabemos da importância de se pensar a profissionalização, de dar estrutura, tudo isso eu concordo, mas e o componente? O cara que está ali cantando e brincando, nós não vamos pensar nele? - questionou.

Felipe ponderou que nem sempre as alas comerciais são vilãs da harmonia em um desfile de escola de samba. - Às vezes essas alas são compostas por pessoas que não têm condições, nem disponibilidade de comparecer a todos os ensaios, mas que quando podem frequentam a escola. Criou-se um mito negativo sobre essas alas que não considero justo. Existem grupos de pessoas que saem sempre na mesma ala, promovem encontros, churrascos - disse.

Milton Cunha: 'O Rio não vende o samba como poderia'

De acordo com o carnavalesco e hoje comentarista de TV, Milton Cunha, o grande problema do mundo do samba hoje é uma certa timidez em anunciar o seu produto. - Você vai a Buenos Aires e são 30 show de tango, você na Brodway e são diversos de sapateado. E aqui no Rio, a terra do samba, não temos quase nada com o samba como protagonista. Só no período do carnaval - afirmou Milton.

O pesquisador Edson Farias jogou luz ao debate, questionando o público que acompanha os desfiles e o modelo de transmissão. - O cara que gosta de carnaval não está na arquibancada pois não tem dinheiro e vendo pela TV não se tem a exata percepção do que está acontecendo, pois o modelo de transmissão é equivocado. Tudo isso enfraquece o produto a meu ver - declarou. 


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