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sábado, 25 de junho de 2016

Compositores pedem reforma do modelo de disputa de samba-enredo e maior divulgação do gênero

Por Geissa Evaristo

A mesa de debates " 100 anos de samba" realizada durante o segundo dia da Carnavália-Sambacon foi marcada pelo desejo de reformulação. André Diniz, compositor da Vila Isabel, Noca e Luiz Carlos Máximo, compositores da Portela, defenderam uma reforma urgente no modelo de disputa de samba-enredo e uma maior divulgação dos sambas-enredo nos meios de comunicação.

André Diniz, compositor, professor de história e integrante da comissão de carnaval da Vila Isabel, em seu discurso emocionado durante a mesa de debates, pediu ao presidente da Liga a criação de um fórum de discussão sobre o tema e sobre o futuro do gênero.

- É necessário ser discutida a divulgação do samba-enredo. O samba não é tocado, as pessoas não conhecem. Eu chego na sala de aula e nem o refrão do samba da escola campeã os alunos sabem cantar. Na minha época se eu chegasse na escola e não soubesse cantar o samba da Unidos da Ponte, por exemplo, era vergonhoso. Quando o LP ficava pronto eu ia para o quarto com o meu pai e ouvia todos os sambas. A gente na primeira audição achava os sambas ruins, na segunda já achava melhor, na terceira mais ainda, até achar todos excelentes. Acredito que falta isso: divulgação e também memória afetiva. Se a pessoa não ouve ela não gosta e não conhece. Se queremos ser espetáculo, temos que fazer um espetáculo e isso engloba a transmissão do desfile. Não há emoção. O samba precisa ser transmitido por quem gosta de samba, por quem entenda o que está fazendo. Precisamos ser mais atraentes para o grande público senão o espetáculo enquanto espetáculo entrará em declínio. Hoje o BBB é mais interessante para o público do que o desfile da Vila Isabel. Vamos mudar isso? - indaga Diniz.

Noca da Portela completa o discurso de André Diniz. Para ele passar "20 segundos" num comercial de TV não vai fazer nunca o samba da agremiação tornar-se conhecido e ser interessante para o público. Muti vencedor na Portela, sua escola do coração, Noca afirma que não há como entrar numa disputa de samba sem dinheiro e credita essa circunstância ao fato do jovem hoje se interessar mais pelo funk do que pelo carnaval. Noca falou ainda sobre a relação compositor x carnavalesco no que se refere à sinopse.

- Sinto certa dificuldade atualmente de saber o que o carnavalesco quer, é confuso, contém coisas loucas que ficamos sem entender. Aí temos que pra ele ver se é isso que ele quer. Tenho respeito aos carnavalescos que são pessoas com cabeças privilegiadas, mas sinto essa dificuldade. Antigamente havia maior liberdade de criação - confessa.

Tema polêmico durante a mesa, o modelo atual da disputa de samba-enredo foi debatido calorosamente. Luiz Carlos Máximo discursou também sobre as transformações do gênero.

- Em 2012 fizemos história com o "Madureira sobe o Pelô". A mudança pra nós se fazia necessária. Vinhamos de um fraco samba em 2011 e durante um debate no CCBB ouvi de André Diniz que o gênero estava na mesmice, que era necessário mudar e por que não a mudança vir da gente? Fizemos o samba 'sem manual' e deu certo só que quase não foi para a disputa porque não tínhamos patrocinador. O samba teve futuro porque estourou na internet e as torcidas da Portela apoiaram de forma voluntária. Mas se não tivesse patrocinador? O que precisa mudar agora é a disputa de samba-enredo. Eu mesmo não sei se terei condições de disputar samba neste ano.

Batendo na tecla da mudança da disputa há alguns anos, André Diniz deu quórum ao tema:

Eu não gosto dessa parafernália que temos que fazer, eu faço porque é regra do jogo, mas eu acho que está demasiado. A disputa de samba tem que ser mais curta, Nem as escolas lucram mais com isso. Quanto custa abrir uma quadra imensa? As eliminatórias não dão mais público. Antigamente mandava quatro ônibus para uma comunidade e os quatro vinham lotados. Agora mandamos um e esse um volta com 10 pessoas. As pessoas estão perdendo o atrativo pelo samba. Eu acho também absurdo o horário. O Rio de Janeiro não é mais o mesmo do que 30, 40 anos atrás. Esse negócio de madrugada também já deu. O horário de terminar uma disputa de samba, 5 horas ou 6 horas da manhã, toda a semana você fica lá. Essa coisa de horário, a Unidos da Tijuca e a São Clemente marcaram um golaço de colocar a disputa de samba mais cedo, é melhor pra todo mundo, quem bebe cerveja, bebe um pouco mais cedo, quem arruma uma mulher ou alguém para sair, 1 hora da manhã você sai melhor do que 4h, 5h da manhã. Essa tradição está legal de cair porque o Rio de Janeiro não é o de outra época. E as contas não fecham no final. O palco custava R$ 50. Agora é R$ 1.500 e o valor que se ganha com direitos autorais continua sendo o mesmo - finalizou.


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