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terça-feira, 7 de junho de 2016

Ruins da cabeça ou doentes do pé? Maioria dos cariocas nunca foi ao Sambódromo

Por Guilherme Ayupp

Um dado alarmante para os sambistas foi divulgado pela coluna "Informe do Dia". Segundo levantamento do Datafolha, 56% dos cariocas jamais pisaram no Sambódromo. Isso representa a maioria dos moradores da cidade que se intitula a capital do carnaval no mundo. O maior espetáculo da terra não seduz os cariocas. O site CARNAVALESCO ouviu autoridades e sambistas sobre os motivos que têm afastado o carioca do equipamento inaugurado em 1984 e que ganhou uma grande reforma em 2012. A pesquisa foi encomendada pelo secretário municipal de Cultura, Junior Perim. O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, foi sucinto ao comentar os dados e afirmou que essa é uma agenda do poder público e não da entidade que organiza o espetáculo.

- Eu prefiro deixar para os órgãos competentes essa questão, pois a função da Liga é preparar o espetáculo para que ele aconteça dentro do planejado. Acredito que muita gente viaja no carnaval, período em que o Sambódromo é de fato utilizado. No Sábado das Campeãs o índice de cariocas cresce, pois a cidade já está com as pessoas que costumam sair de volta ao Rio - resumiu Castanheira.

O secretário municipal de Turismo Antônio Pedro Figueira de Mello é o responsável pela pasta desde que o prefeito Eduardo Paes iniciou seu mandato em 2009. Antônio Pedro afirma à reportagem do CARNAVALESCO que o Sambódromo é um equipamento que o carioca pode se orgulhar.

- O Sambódromo é um grande ícone internacional da cidade – e agora terá também a marca olímpica em sua trajetória. O local recebe diversos eventos ao longo do ano, sejam esportivos, como a mega-rampa de Skate e corridas de rua, ou culturais - grandes nomes da música nacional e internacional já se apresentaram em palcos montados na Praça da Apoteose ao longo dos mais de 30 anos de existência deste equipamento. Os ensaios técnicos também ganharam mais visibilidade e, consequentemente, mais público nos últimos tempos, com casa cada vez mais cheia a cada ano, ampliando a agenda de carnaval. Nossa gestão também ampliou o tempo de festa: hoje são quatro noites de desfiles, sendo as duas primeiras com preços mais acessíveis, o que resultou num Grupo de Acesso mais forte e que hoje conta com a transmissão de seus desfiles ao vivo pela TV. No mais, ao longo do ano, a visita ao Sambódromo em dias sem evento é gratuita e fácil de ser feita, devido a proximidade do Metrô e da Central. Com tudo isso, nos resta imaginar que o número de cariocas que nunca esteve na Passarela do Samba deveria ser bem maior há alguns anos, e que vamos seguir trabalhando para manter o espaço cada vez mais acessível e com programações interessantes para cariocas e turistas - explicou.

Selminha Sorriso tem no Sambódromo quase um segundo lar, uma vez que ela já passou por ali diversas vezes levando a sua arte. Na opinião da consagrada porta-bandeira da Beija-Flor, quem não conhece o Sambódromo está perdendo tempo.

- Esses dados são uma surpresa para mim. Morar aqui e não prestigiar o nosso carnaval. Acredito que é uma falta de interesse das pessoas com os próprios pontos turísticos da cidade. Acho que vale a pena pelo menos em um ano ao invés de viajar ir conhecer o mair espetáculo da terra. São momentos que compensam. As pessoas vão e voltam. É impressionante e dinâmico - opina Selminha.

Um dos intérpretes do Salgueiro, Leonardo Bessa, toca mais no aspecto turístico e confessa que, mesmo nascido e criado no Rio, não conhece o maior ponto turístico da cidade, o Cristo Redentor.

- Acredito que deva ser falta de oportunidade mesmo, pois eu, por exemplo, tenho 40 anos e nunca fui no Corcovado. Talvez alguma promoção aos moldes do Carioquinha que desse algum tipo de benefício ou desconto para os moradores da cidade do Rio de Janeiro. Mas a cidade também oferece várias opções de entretenimento durante o carnaval além da Sapucaí - lembra Bessa.

Colega de microfone de Bessa no Salgueiro, Serginho dfo Porto também toca no aspecto financeiro, uma vez que considera salgado o preço dos ingressos para que os cariocas prestigiem a Passarela do Samba.

- Os ingressos poderiam ser mais baratos e além disso algumas promoções e sorteios poderiam acontecer. Dessa forma geraria um interesse maior do povo carioca em ver o desfile ao vivo, acredito eu. Hoje o Sambódromo é para turistas - defende.

Para o carnavalesco campeão do carnaval pela Estação Primeira de Mangueira, Leandro Vieira, é preciso saber se os dados trazidos pela pesquisa levam em conta a classe social dos entrevistados, uma vez que segundo ele o espetáculo das escolas de samba não é barato para o bolso dos cariocas.

- Os 44% que já foram eu gostaria de saber em que classe social estão inseridos. Se são classe média ou alta está explicado. O ingresso é caro. Não sei se há desinteresse desses 56% ou se é falta de acesso financeiro. É obvio que o carnaval de rua cresce muito, com números espantosos. A população tem interesse e talvez a maneira que é cobrado deveria ser vista. É caro para o carioca - ressalta o artista.

Para o mestre de bateria da Grande Rio, Thiago Diogo, há um certo desinteresse de uma parcela da população por questões de gosto e religião, além do desejo de aproveitar o carnaval para descansar.

- Eu compreendo esses números. Algumas pessoas não curtem o carnaval. A festa é aqui e eu conheço pessoas que não se veem passando o carnaval no Rio. Sobre popularizar o acesso eu acredito que os setores populares atendem a demanda. O excesso de informação também afasta um pouco. Não culpo a administração do espetáculo. Algumas pessoas demonstram um desinteresse e acredito que os ensaios técnicos tem resolvido essa questão - opina Thiago.

Diogo Jesus, mestre-sala da Mocidade Independente de Padre Miguel, revela que o trabalho realizado pelo marketing das escolas é importante, principalmente no aspecto de divulgação dos eventos realizados nas quadras.

- O mais importante é esse trabalho que as escolas de samba vem fazendo, é evitar com que a agenda de eventos morra. Só com uma divulgação mais constante na mente do carioca esses números mudarão. As pessoas de outros estados ficam loucas e o carioca não curte. O Salgueiro faz isso muito bem. Começa em junho e só para depois do carnaval. Quanto mais divulgação o carioca estará mais próximo do evento que é daqui. Eu como sambista gosto de pensar nessas coisas, na valorização dos profissionais, quanto mais pessoas souberem desse marketing positivo é melhor - declara o dançarino.

O carnavalesco e comentarista da TV Globo, Milton Cunha, acha que a saída para trazer o carioca para o Sambódromo é a massificação da divulgação dos ensaios técnicos, um evento totalmente gratuito que vem como substituto do espetáculo maior que é o desfile das escolas de samba durante os dias de carnaval.

- Achei que com o advento dos ensaios técnicos isso tivesse sido dissipado e achei que teríamos uma presença maciça pelo menos uma vez na vida. Esse número que nunca foi é preocupante. 56% são ruins da cabeça ou doentes do pé? Oportunidades têm e é de graça. Precisa haver uma divulgação mais maciça do ensaio técnico, talvez haja medo com relação a valores e é importante salientar que é totalmente gratuito - resume.


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