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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

'CARA A CARA' com Marcos Falcon: o gestor da mudança na Portela

Por Guilherme Ayupp

No meio de sua corrida agenda há menos de duas semanas para o carnaval, o vice-presidente da Portela, Marcos Falcon, recebeu a reportagem do CARNAVALESCO para falar de Portela, Samba é Nosso, relação com Paulo Barros e carreira política. Irredutível, o dirigente que vem recolocando a azul e branca no lugar de destaque nos desfiles, afirma que não é candidato a presidente portelense nas eleições de maio. - Não vou concorrer, isso está definido e também não pretendo apoiar ninguém - disparou Falcon. Confira abaixo como foi a conversa com Marcos Falcon:

- Antes de vivenciar o dia a dia de uma escola de confiança o que você pensava sobre a função de gestão e hoje dentro da escola o que você pensa?

Marcos Falcon: "Venho de fora do samba, tenho formação na área de segurança pública. Uma disciplina muito rígida, comprometimento direcionado. Esses fatores são decisivos para o sucesso das missões. A oportunidade de participar do carnaval fugia totalmente da minha formação. Todo grupo necessita de um líder, mas ninguém faz nada, nem vence sozinho. É necessária uma equipe competente. Estou na Portela desde os 12 anos, com alguns afastamentos devido a minha carreira profissional, mas há cerca de 11 anos retornei. O samba é um universo fantástico que me instrui em todos os aspectos, seja gestão ou como humano. Eu tive vários ensinamentos. Cito como exemplo a linha dura por onde sempre passei e passei a lidar com as pessoas do carnaval, onde existem diversos homossexuais. Esses caras me deram uma lição de respeito, caráter, dignidade, força de vontade. Exemplos admiráveis. Até eu criticava certos comportamentos, mas vi no carnaval o quanto são gente. Pode contar com em qualquer momento. Tenho aprendido o quanto a criação e a capacidade fazem o carnaval ser o que é. O quanto uma equipe é importante neste processo. Só é possível fazer a diferença quando se trabalha em equipe. Conheci pessoas abnegadas que abrem mão de suas vidas em prol de uma agremiação. Choram ao ver o símbolo de sua escola. Tenho aprendido demais com essas pessoas".

- Como é gerir uma escola de samba, que envolve paixão, ao contrário de uma empresa?

Marcos Falcon: "Gerir uma escola de samba é verdadeiramente como uma empresa qualquer. Se você não atuar na gestão com olhar empresarial, você tem a volta ao passado que fez com que a Portela e outras amargassem tantas dívidas. Principalmente no aspecto burocrático. Envolve conhecimentos administrativos. Existem contas, prestação, responsabilidade fiscal, uma série de obrigações, onde um deslize compromete a instituição, o nome do próprio espetáculo, denigre o universo considerado o maior espetáculo da terra. Neste sentido, a Liesa deveria ser a base de atuação de muitos órgãos públicos. O Jorge Castanheira é referência de gestão. E toda a equipe dele, o seu Heron, o Nelson, o Elmo, o Edson Marcos. Todos eles transformaram a Liesa ao lado de seus grandes beneméritos no que ela é hoje".

- A política é forte dentro da Portela. Hoje, os portelenses reconhecem o seu trabalho. Mas durante a eleição e já no mandato problemas aparecem. Qual foi o maior desafio até hoje?

Marcos Falcon: "Meu maior desafio foi ao assumir a Portela com uma equipe de jovens, desconhecida pelo mundo do samba, encontrar R$ 16 milhões em dívida, com um barracão abandonado em condições sub-humanas. A luz cortada por inadimplência, água no mesmo caso. R$ 526 mil de dívidas na quadra, R$ 1 milhão de IPTU. Inclusive, o imposto estava no nome do sobrinho do ex-presidente. Pagar mais de R$ 700 mil ao Babado da Folia, por alas comerciais que pertenciam aos familiares do ex-presidente. Desafio foi trazer de volta a credibilidade na ala de compositores, quando qualquer concurso já tinha um samba indicado. Desafio foi resgatar a auto estima de nossa velha guarda, tradicional, respeitada, mas vivia cabisbaixa e esquecida. Trazer de volta a alegria de baluartes como Monarco, Surica e Noca, que havia inclusive se afastado. Desafio foi revitalizar uma quadra que, apesar de reformada, vivia mal cuidada. Pagar inúmeras ações trabalhistas e fazer carnaval competitivo. Através da credibilidade recuperada, conseguir reunir empresas e gerar empregos".

- Último ano do prefeito. Ele vai sair com o título? O que falta para a Portela ser campeã?

Marcos Falcon: ""O prefeito está concluindo seu mandato neste ano. Foram oito anos e escola não foi campeã. A Portela precisa voltar a ganhar o carnaval mas não pelo Eduardo Paes, mas pela família portelense, da qual ele faz parte, mas que é imensa. Óbvio que queremos vencer, buscamos isso de maneira incessante. Perdemos o medo de vencer. Ocorre que existe um julgamento. Peçamos a Deus que os julgadores se sintam conquistados pelo nosso desfile. No dia do desfile diversas variáveis podem interferir. Tem de aguardar a jiboia esticar. É uma grande competição. Temos total consciência da dificuldade que é. Estamos com vontade e espírito à flor da pele".

- O seu nome foi ventilado para presidência da Liesa. O que sentiu? Gostaria um dia de comandar a Liesa?

Marcos Falcon: "Se houve essa indicação, ou ventilação, é uma honra. Mas não me vejo em condições de ser o presidente da Liga. Sou vice-presidente da Portela, não poderia participar de uma disputa. A outra é que não tenho experiência suficiente para exercer uma função que coordena o maior espetáculo da terra. Existem pessoas muito mais qualificadas que eu. É óbvio que a indicação me deixa envaidecido. Se no futuro houver uma indicação daquelas verdadeiras autoridades do carnaval, eu teria que me preparar e me aconselhar muito com eles. Ao meu lado, me respaldando. Nesse momento preciso me dedicar à Portela".

- O que você mudaria no regulamento e manual de julgador?

Marcos Falcon: "Acrescentaria o quesito emoção".

- A disputa pelo comando do Acesso foi conturbada. Valeu a pena?

Marcos Falcon: "Não consigo compreender como pessoas que destruíram uma instituição matriarca, como a AESCRJ, conseguem ter espaço no carnaval. Destruíram e desmoralizaram as escolas. Que não cruzem meu caminho, pois não terei complacência em agir com eles na forma da lei".

- Que balanço você pode fazer hoje da gestão Portela Verdade?

Marcos Falcon: "Administrativamente vejo como magnífico o resultado até aqui. Pegamos uma escola com R$ 16 milhões de dívida e hoje estamos em R$ 1,8 milhão, pagando contas, salários. E colocando carnaval competitivo, respeitando a escola. Claro que falta o título, mas estamos nos empenhando muito".

- A eleição ocorre em maio do ano que vem. O portelense quer saber: o Falcon vem candidato a presidente?

Marcos Falcon: "Não sou candidato à presidente. Ainda não me sentei com o presidente Serginho Procópio para conversar, mas eu garanto que não irei concorrer nem apoiar ninguém na eleição da Portela. Tenho amor pela escola, mas essa pretensão eu não tenho. Preciso dedicar um tempo maior à minha família, acompanhar a educação de meus filhos".

- O que você mais sonha em fazer para o futuro da Portela?

Marcos Falcon: "Falta o título. Para isso é preciso estruturar toda a instituição. Não se pode pensar em ganhar sem suporte administrativo, respaldo. Temos que nos preparar internamente. A engrenagem precisa funcionar bem. Uma picuinha dentro da equipe atrapalha todo um projeto. A bem da verdade é que a administração possui longo, médio e curto prazo. O que seria fazer em 10 anos, nossa gestão fez em dois e meio. Fruto de uma equipe aguerrida e consciente".

- E a eleição para vereador em 2016, quais são os projetos do Falcon? Falta liderança política nas Câmaras?

Marcos Falcon: "Apesar de receber apoio e estímulo de diversos segmentos, ainda não tenho uma definição referente à isso. Temos o Chiquinho da Mangueira, o Farid Abraão David. Mas é pouco. O carnaval precisa de mais representatividade nas casas legislativas".

- A crise está forte no país e o Paulo Barros já reclamou. Qual é a saída para Portela e todas escolas enfrentarem essa crise?

Marcos Falcon: "Você tem de se adequar ao momento. Com planejamento orçamentário você desenvolve o teu carnaval dentro daquele volume. Isso faz com que as dificuldades sejam minimizadas. Não pode se exceder. A Portela está fazendo um enredo sem patrocínio. O projeto está sendo desenvolvido com o pé no chão, dentro da maior realidade possível, através das criatividades e soluções criadas pelo Paulo Barros, sem perder qualidade. A diferença do artista do carnaval. Dentro de nossas limitações estamos chegando a um número de R$ 9 a 10 milhões de custo. E como pagamos? Shows, eventos corporativos, venda de produtos licenciados, programa de Sócio Torcedor. O principal: o dinheiro da Portela é da Portela".

- Você é um dos dirigentes mais atuantes no carnaval. Você gostaria que o poder público tivesse mais interesse nas escolas?

Marcos Falcon: "Falta muita sensibilidade da classe política com o carnaval, essa é a grande realidade. Se o carnaval carioca é o maior espetáculo da terra, diante dessa defasagem e morosidade em repasses, as escolas proporcionam espetáculos expressivos. Muitas vezes recebendo recurso no apagar das luzes. Se o cronograma de repasses for antecipado o espetáculo só tem a ganhar. Pega o preço dos produtos mais baratos, tem tempo hábil para negociar com fornecedores e empreiteiros. Não custa nada".

- Como foi a busca pelo Paulo Barros? A ideia foi sua?

Marcos Falcon: "Tomei conhecimento da saída do Paulo da Mocidade, uma agremiação à qual tenho máximo respeito. Tentei contato diversas vezes, por uma questão ética, com a diretoria da escola, para demonstrar meu interesse. Não houve retorno, então resolvi partir em direção ao Paulo. Conversei com Monarco, Surica, Noca e Wilma. Me aconselhei junto aos baluartes e alguns dirigentes da Portela. Todos se demonstraram favoráveis. Convidei o Monarco e o Noca, fomos ao apartamento do Paulo Barros e sequer falamos em valores neste primeiro contato. Foi muito bacana e marcante. Apertamos a mão e Paulo começou a pensar no desenvolvimento do carnaval".

- Verdade que houve uma conversa do prefeito para ajudar a convencer o Paulo?

Marcos Falcon: "Desconheço totalmente a participação do prefeito. Garanto, inclusive, que isso não é verdade"

- Vocês tem ou teve algum tipo de problema de relacionamento com o Paulo Barros?

Marcos Falcon: "Fico entristecido quando leio coisas de pessoas que sequer tem conhecimento de nossa rotina. Gente que não sabem o que se passa dentro de um barracão ou uma quadra. Nunca tive nenhum embate com Paulo Barros. É uma aposta minha que inicialmente tinha-se uma grande interrogação, que foi se apagando, através da postura e da capacidade dele. Falavam que as sinopses de Paulo Barros não permitiam bons sambas. Aqui isso caiu por terra, depois de uma grande sinopse. Nos brindou com um dos melhores sambas do carnaval. São palavras ao vento, não podemos levar em consideração. Tenho ótima relação com o Paulo".

- Você sempre pensa em algo impactante para o desfile. Já tivemos drone, homens voando e em 2016? Terá algo?

Marcos Falcon: "Ainda não parei para pensar no que vamos proporcionar ao público. Isso é uma forma de demonstrar que respeitamos as pessoas que estão neste espetáculo".

- Qual o tamanho de sua frustração com as falhas no desfile da Portela em 2015?

Marcos Falcon: "Nos preparamos para vencer. Quando você entra em uma disputa, intercorrências acontecem. Já vi escolas também belíssimas que deixaram escapar o carnaval por falhas técnicas. Infelizmente aconteceu conosco. Um samba belíssimo, fantasias e alegorias muito bonitas. Uma energia positiva. Lamentavelmente perdemos ali a possibilidade de disputar o título. O resultado foi justo e o título ficou muito bem entregue à Beija-Flor. O desfile da Mocidade eu assisto sempre, bonito plasticamente, diferente".

- Você acredita que ainda exista sabotagem no carnaval de hoje?

Marcos Falcon: "Coração dos outros é terra que ninguém anda. É possível? É. Como um pai pode estuprar a própria filha? Um filho agredir a própria mãe? Não há como responder de maneira precisa um horror desses. Óbvio que se alguém for pego fazendo uma covardia dessa, merece um corretivo".

- A decisão de manter a Ghislaine depois de notas baixas foi difícil? Como é a parceria dela com Sandrini e Roberta?

Marcos Falcon: "A Ghislaine tem a minha total confiança, é uma profissional consagrada, qualificada, tem um histórica de vitórias invejável. Não houve nenhuma dificuldade em formar a equipe com ela, Sandrini e Roberta. São altamente competentes. Visões diferentes que se completam. O projeto da comissão de frente da Portela é algo que jamais foi visto em um desfile de escola de samba".

- Seus quesitos piores avaliados em 2015 foram Alegorias, Comissão de Frente e Evolução. Você considera que eles foram reforçados para 2016?

Marcos Falcon: "Nos baseamos nas justificativas e buscamos o aprimoramento e a melhora de cada falha apontada pelos jurados. Com esse cruzamento e comparação, trabalhamos para diminuir ou extinguir as falhas cometidas. As notas de alegorias foi uma infeliz falha técnica, que somadas à algumas outras nos penalizou".

- O projeto Portela Dá Trabalho é um sucesso e já ofereceu milhares de postos de trabalho. Fale deste e de outros projetos sociais da gestão na Portela?

Marcos Falcon: "O Portela Dá Trabalho é um projeto fantástico que iniciamos em abril e paralisamos em razão das festas de final de ano. Foram dezenas de empresas envolvidas, onde mais de 10 mil pessoas estão com carteira assinada. É a Portela na contramão de toda essa instabilidade financeira. Gostaria de citar também o projeto 'Crack: tire essa pedra de seu caminho', e o 'Sou carioca, sou de Madureira, sou doador de sangue', onde tivemos 150 pessoas e 95% da doação foi aproveitada. O 'Portela Esportiva', com um grupo de atletas campeões cariocas, brasileiros e mundiais em lutas marciais".

- Te decepcionou a postura do Wander Pires em sua saída da escola?

Marcos Falcon: "De maneira alguma. O Wander cumpriu todos os compromissos com a escola e deixou saudades. Meu afilhado, tenho um grande carinho por ele. É um ícone do samba".

- O que o Gilsinho representa para o portelense?

Marcos Falcon: "Gilsinho representa a voz da Portela. Vem colecionando prêmios desde sua chegada à escola. Nunca me esqueço de sua atuação na avenida em 2012".

- Como foi costurada a vinda do Samir Trindade? E como você lidou com as pessoas que o acusam de não ser Portela?

Marcos Falcon: "Como já disse, qualquer tipo de comentário é preciso ser filtrado. Membros do departamento cultural o apresentaram. Muita gente torceu o nariz por seu histórico de Beija-Flor. O samba de sua autoria, junto com Wanderlei Monteiro. Porquê não foram negativos quando de sua apresentação à ala? Tivemos uma grande confraternização. Ele foi efusivamente aplaudido. Determinadas situações aposto que são inverídicas. O Samir é um grande portelense".

- O que o portelense pode esperar para sua quarta-feira de cinzas?

Marcos Falcon: "Que tenha a convicção de que a Portela desfilará sem medo de vencer, com o sentimento de responsabilidade para com aquele que está no Oiapoque, Chuí, São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outro canto do planeta. Está em dia com seu sentimento, seu querer e suas responsabilidades. A Portela está mordida".


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