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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Entrevista com Jorge Anselmo, Presidente de honra e fundador da Torcida Portelamor

Jorge Anselmo nasceu no Rio de Janeiro, em 1963. É Presidente de Honra da Torcida Portelamor, fundada por ele em 2011.
Portelamor: Jorge, muito obrigado por essa entrevista e por esse encontro. Em primeiro lugar, eu gostaria de saber quando e como começou seu caso de amor com a Portela.
Jorge: Eu que agradeço por essa oportunidade. Meu caso de amor com a Portela começou através da minha tia Adinyr. Portelense de coração, um dia ela levou para casa um chaveiro e a revista do enredo “O Homem do Pacoval” (enredo da Portela, de 1976) . A partir daquele ano comecei a torcer pela Portela, acompanhá-la, ansiosamente, todos os anos, pela televisão. A partir de 2003, comecei a vê-la na Sapucaí.
Portelamor: Sua família era portelense?
Jorge: Apenas essa tia.
Portelamor: O que mais te atrai na Portela?
Jorge: A sua tradição. A sua rica história. A sua contribuição para os desfiles, que hoje o mundo inteiro conhece.
Portelamor: Como vê o atual momento da escola, sua gestão, os projetos de carnaval, o trabalho das novas diretorias?
Jorge: A Portela ficou estagnada pela longa permanência do Carlinhos Maracanã (ex-Presidente da Portela) e depois pelo desleixo da gestão do Nilo Figueiredo . Com a vitória da Chapa Portela Verdade , nossa esperança se agigantou e, com dois anos da gestão de Serginho Procópio e Marcos Falcon, já constatamos o progresso que a escola teve. Pagamento de dívidas anteriores, contratação de carnavalescos top de linha, abertura do quadro de sócios, melhorias na quadra, que já tinha sido reinaugurada em 2012, o Projeto Sócio-Torcedor, o Projeto Portela dá Emprego, entre outros. Acredito que ainda há por fazer, dois anos é muito pouco para colocar nos trilhos todos os detalhes que as más gestões anteriores deixaram como herança.
Portelamor: O que falta para a Portela ganhar um título, na sua opinião como torcedor e líder de uma torcida?
Jorge: Para ganhar um título é necessário um conjunto de fatores, mas na minha opinião o “calcanhar de Aquiles” da Portela são os carros alegóricos e a Comissão de Frente. São pontos que ainda precisam se ajustar, e muito. Mas estamos perto.
Portelamor: Você tem muita experiência em torcidas. Você foi um dos criadores e fundadores da Torcida Guerreiros da Águia. O que o motivou, à época, a participar da criação e fundação da primeira torcida organizada do samba carioca?
Jorge: Quando mais jovem (risos) eu fazia parte da Raça Rubro-Negra (torcida organizada do time de futebol rubro-negro carioca, o Flamengo) e acompanhava todo o movimento da torcida: bandeiras, faixas, bolas, papel picado. Isso sempre me fascinou. E como portelense fervoroso, eu sonhava um dia ter uma torcida organizada da Portela. Em 1999 eu e um grupo levamos para a concentração uma faixa escrita “Avante Portela”. Em 2003, conheci o Marcelo Moura e, conversando, decidimos fundar uma torcida para a Majestade do Samba, a Guerreiros da Águia. Foi um movimento pioneiro, depois estendido as outras escolas coirmãs.
Portelamor: Como você avalia aquela experiência?
Jorge: Pra mim foi maravilhoso participar do movimento de criação de uma torcida organizada da escola do meu coração. Dá aquela sensação de que você efetivamente fez algo pela sua escola. Pensar em todos os detalhes, criar faixas, bandeiras, slogans, logos, sites, blogs, enfim, tudo o que se refere ao movimento. Foi muito gratificante, prazeroso, e me orgulho de ter feito parte desse processo.
Portelamor: Por que você saiu da Guerreiros da Águia e fundou uma nova torcida?
Jorge: Não gosto muito de falar sobre esse assunto. Mas, já que é inevitável... Saí por ver os sentidos norteadores da torcida se desfazerem. Tínhamos um pacto de nunca nos envolvermos com a escola, a não ser como torcedores, isto é, torcendo. Isso foi se desfazendo, até chegar ao fatídico 2011, com o incêndio que atingiu o barracão da Portela . Tínhamos tomado uma decisão, que na verdade não foi minha, mas apoiei integralmente, de não participar do ensaio técnico na Sapucaí. Depois, voltou-se atrás, por pressão dos diretores da escola, creio. Isso pra mim foi a gota d’água. Lembrei de um dito popular que diz: os incomodados, que se mudem. E foi o que eu fiz. Com muito pesar, saí da torcida. Para mim, torcer é um prazer, uma reunião de amigos e uma grande brincadeira e se isso não acontece não tem por que continuar. Foi assim na Guerreiros e será assim na Portelamor. A coisa está ficando muito séria, para o meu gosto. Estão tentando fazer com esses grupos organizados do samba (que em nada tem há ver com os grupos organizados de futebol, nossa visão e foco são completamente diferentes) o que fizeram com os desfiles das escolas de samba. Corremos o risco de perder a espontaneidade. Acho, sim, que devam existir algumas regras básicas para o bom convívio com o público nas arquibancadas (o que pode ou não pode fazer, e ponto). Mas já ouvi dizer que estão querendo criar uma liga das torcidas organizadas. Completamente sem sentido, a meu ver.
Portelamor: Como avalia, até o momento, o trabalho da Portelamor?
Jorge: O trabalho da torcida é prioritariamente torcer, agregar novos amigos e divulgar (essa é a razão de tudo) a Portela. Isso nós temos feito, e bem. Temos um grupo muito bom, cada um com suas responsabilidades e o trabalho é muito satisfatório.
Portelamor: Vocês têm uma atuação muito grande na mídia, mas pouca nos eventos de quadra e em outras atividades. Por quê?
Jorge: A torcida foi criada para prestigiar a Portela nos ensaios técnicos na Sapucaí e, consequentemente, divulgar a escola e o trabalho das diretorias nas mídias. Na quadra e em outros eventos, vamos quando temos tempo disponível. Sei que muita gente cobra a presença da torcida, mas cada um com sua filosofia.
Portelamor: Como surgiu a ideia para o mascote da torcida?
Jorge: Novamente, a inspiração veio do futebol e especialmente do Raposão, mascote do Esporte Clube Cruzeiro, de Belo Horizonte. Primeiro, criamos o desenho e depois houve uma eleição entre os membros da torcida para a escolha do nome, sendo vitorioso Portelino. Em seguida, veio a ideia de materializar o mascote, criando assim a roupa.
Portelamor: O que a Portelamor espera fazer para ajudar ainda mais a divulgar e promover a Majestade do Samba?
Jorge: Continuar a fazer o seu trabalho e sempre “tentando” inserir algo novo.
Portelamor: Que recados você daria à Torcida Portelamor?
Jorge: Vamos continuar fazendo o de sempre, torcendo pela Majestade do Samba conforme nossa ideologia.
Portelamor: E para os torcedores que estão fora do Rio de Janeiro, que recado mandaria para eles?
Jorge: Que continuem com esse amor pela Majestade do Samba. Não importa onde estejamos fisicamente e sim o que sentimos.
Portelamor: É difícil criar e manter uma torcida? Por quê?
Jorge: É sempre mais difícil manter do que criar. Na criação, você está com todo o gás, ânimo nas alturas, milhares de ideias, mas nem tudo é possível colocar em prática. Para quem não conhece, temos um trabalho grande em manter nossas mídias sempre atualizadas e são muitas: site, blog, Facebook (2 perfis e grupos), twitter, Google+, Flogão, Instagram, Flickr, YouTube, além do Núcleo de Ação Social, que faz campanhas beneficentes, e o Mundo Mirim, voltado para as crianças. Isso requer tempo, paciência e determinação.
Portelamor: Se a Portela fosse campeã este ano, o que o Jorge Anselmo diria para os torcedores de todas as torcidas?
Jorge: É campeã, porra!!!
Portelamor: Você agora mora longe, em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos. Essa distância atrapalha?
Jorge: Não.
Portelamor: Para o desfile da Portela em 2016, o que está esperando?
Jorge: Espero uma Portela diferente e ousada, como jamais vista. A tradição está na sua história, nos seus baluartes e na sua importância para a construção dos desfiles. A Portela sempre foi inovadora em outrora e não pode deixar de ser agora. Não sou nostálgico. Tudo na vida muda e não foi diferente com os desfiles das escolas de samba. Ouço muita gente reclamar da “mesmice” dos desfiles, por isso sou a favor da ousadia, mesmo com a possibilidade dos erros.
Portelamor: Qual desfile da Portela que você viu ou assistiu pela TV que foi inesquecível para você?
Jorge: Sem dúvida nenhuma, 1995 com o enredo “Gosto que me enrosco”. Inesquecível. Uma pena que o título não veio.
Portelamor: E qual o mais desastroso, em sua opinião?
Jorge: Nossa, alguns. Mas destaco 1988, com o enredo “Na lenda carioca, os sonhos do vice-rei”. Saí da Presidente Vargas arrasado, Em termos de alegoria, estava um desastre. Mas o desfile até que não foi tão ruim assim, a escola ficando em 5º lugar. Em 2010, com o enredo “Derrubando fronteiras, conquistando a liberdade, um Rio de paz em estado de graça”, é para esquecer. Em 2012, com o enredo “Madureira... Onde o meu coração se deixou levar”, xinguei muito, ao ver uma Portela muito pobre.
Portelamor: Como vê o trabalho da nova diretoria da escola?
Jorge: Acho que a Portela encontrou o caminho, e agora é uma questão de tempo para colocar tudo 100% nos trilhos. A prova de que o trabalho está sendo bom é ver a Portela cotada nos fóruns de samba. Daí, temos a noção de como mudou a Portela, antes chacota, agora cotada entre as primeiras.
Portelamor: E Paulo Barros? O que achou da contratação dele?
Jorge: Apesar de muitos torcerem o nariz, eu gostei muito, pelas razões já citadas aqui. A Portela precisa mudar, ousar e arriscar. Foi assim no passado e precisa voltar a ser assim. Tenho algumas restrições, mas achei super válida, a contração do carnavalesco.
Portelamor: Defina o amor pela Portela. É diferente de amar um time de futebol?
Jorge: Na verdade é complicado definir o amor, faltariam palavras. Prefiro não ser clichê e apenas senti-lo. Só sei dizer que às vezes dói muito (risos). A diferença é que o desfile acontece apenas uma vez por ano e os jogos são muitos.
Portelamor: Jorge, quais são suas grandes paixões, além da Portela?
Jorge: O Flamengo e o Cruzeiro. Aliás, foi a partir dessas paixões que veio a maioria das minhas inspirações para a criação da Guerreiros da Águia e da Portelamor.
Portelamor: Jorge Anselmo por Jorge Anselmo.
Jorge: Determinado, sincero (isso me trouxe muitos problemas, rsrsrsrs) e amigo. A cada dia aprendendo e/ou tentando aprender com a vida. Valorizando o SER, em vez do TER. Tentando corrigir minhas imperfeições e, principalmente, conviver da melhor forma possível com o próximo (como é difícil, mas tentando). Flamenguista, Cruzeirense e Portelense de coração.
Portelamor: Fique à vontade, agora, para falar qualquer coisa que queira.
Jorge: Que as pessoas não compliquem o que é simples. Muito Amor para todos.

Notas:Segundo a Wikepedia, “no desfile de 1976, a escola apresentou o enredo “O Homem do Pacoval”, contando as histórias e mistérios da Ilha de Marajó, e acabou ficando em quarto lugar, embora tenha faturado o Estandarte de Ouro de melhor escola”. Acesso em 10 de janeiro de 2016.

Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã, comandou a Portela de 1972 a 1994. No entanto, sua influência e mando na Portela eram notórios, o que levou muitos a chamar o período 1972-2004 de “Era Carlinhos Maracanã”; Época marcada por carnavais irregulares, encerrou-se com a entrada de Nilo Figueiredo no comando da Escola, em 2005.

Nilo Figueiredo assumiu a Portela em 2005 com grande expectativa, o que não se concretizou. Nesse período, a escola amargou uma administração desastrosa. Em contrapartida a grandes sambas e grandes trabalhos da comunidade, nos desfiles, o que se via era uma Portela financeiramente desorganizada, amargando sucessivas e frustradas derrotas. Nilo Figueiredo perdeu as eleições para a chapa Portela Verdade, deixando a Portela em 2013.

Chapa vitoriosa que sucede a gestão Nilo Figueiredo, em 2013, e está no comando da Portela até o momento. Conta com Monarco como Presidente de Honra, Serginho Procópio como Presidente, tendo Marcos Falcon na Vice-Presidência.
Houve um incêndio, em 2011, que atingiu o barracão da Portela e de outras duas escolas, como a Grande Rio e a União da Ilha.
Entrevista concedida em 08 de dezembro de 2016.
foto original: Leo Cordeiro - Foto enviada por Daniele Nascimento.

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