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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

CARA A CARA com Paulo Barros: 'O Grupo de Acesso é a grande universidade do carnaval'

Por Tatiana Perrota

Chegou a hora de conversar com o carnavalesco Paulo Barros. Atualmente na Portela, ele já cravou seu nome na história do carnaval. Com títulos em 2010, 2012 e 2014, todos pela Unidos da Tijuca, o artista bateu um papo com nossa equipe e falou o que pensa dos rumos da folia.

- Após mais de 11 anos do desfile de 2004 da Tijuca. Que filme passa na sua cabeça?

Paulo Barros: "Não digo que passa um filme na minha cabeça, mas posso dizer que passa uma história de aprendizado. Eu me tornei uma pessoa mais exigente, continuo sendo chato, mas uma pessoa mais adulta. Sou que nem Gabriela, eu nasci assim, cresci assim, vou morrer assim (risos). Está no meu DNA, isso vem desde o tempo que eu trabalhava na Varig. Fui criado desse jeito, sempre fui uma pessoa meticulosa, detalhista. Alguns anos atrás eu sofria muito por conta disso, hoje tenho mais maturidade, mas continuo com as mesmas manias, questionamentos e a mesma chatice de querer realizar um trabalho que seja perfeito".

- Você brilhou no Acesso e ganhou prêmios. Acha que é lá que o carnavalesco faz a faculdade para chegar maduro no Especial? É lá que o carnavalesco testa sua criatividade?

Paulo Barros: "Não me lembro de ter trabalhado no acesso, só lembro de 2004 para cá (muitos risos). Falando sério agora, pra mim o Acesso é a grande universidade do carnaval. Ele é uma escola. Vivencio até hoje alguns momentos que passei no Acesso e que me trouxeram o conhecimento que tenho hoje. Lembro da primeira vez que o ferreiro chegou e perguntou que tipo de ferro usaria no carro alegórico, e eu não sabia nem o que responder para ele. Hoje, daqui de cima do barracão, eu olho para o carro alegórico e já sei se o ferro está colocado certou ou errado. Então o Acesso foi minha grande universidade. Só não quero fazer é universidade de novo".

- Na vida do carnavalesco, qual é o maior desafio?

Paulo Barros: "Acho que o grande desafio, não só na vida do carnavalesco, mas como para qualquer outro profissional, é o desafio próprio. Você conseguir concretizar aquilo que você imaginou, é o maior desafio e o maior sofrimento também. Você ver aquilo que imaginou ali na tua frente acontecendo".

- O público que gosta de carnaval e não é fanático voltou a assistir aos desfiles por sua causa. Isso mexe com você? Vale mais que um título ou uma premiação?

Paulo Barros: "Vou ser bem franco. Para mim a melhor fala que eu ouço é essa. Ouvir de algumas pessoas que não assistiam mais e que voltaram a ver por conta do meu trabalho, é que nem Mastercard, não tem preço".

- Dentro de um desfile, o que você mudaria e ainda não conseguiu implementar?

Paulo Barros: "Mudaria algumas coisas com relação ao regulamento. Acho que tem uns pontos que ainda nos amarram. São questões tão particulares de desenvolvimento de criação, de projeto e que o regulamento às vezes nos coloca em ciladas, e por vezes até inibe a gente de fazer alguma coisa. O regulamento é bem vindo, têm que haver uma regulação, existe as regras, elas são necessárias, mas em alguns pontos desse regulamento eu questiono. Já me atrapalharam e eu burlei, achei a solução e passei por cima deles. Em 2010, fiz uma comissão de frente em que eu usava cerca de 30 a 40 pessoas. Eu mudava as meninas para fazer a troca de roupa, e a maioria delas ficavam escondidas e nós trocávamos o elenco. O regulamento dizia que eu podia ter 15 componentes durante a apresentação, mas não os mesmos 15. Peguei o regulamento exatamente aí, e a partir desse ano muita gente começou a viajar nessa onda e eu achei muito legal".

- Com você o quesito comissão de frente ganhou outro ar. O de grande abertura. Causa o frisson. Qual sua análise hoje do quesito e o que imagina que ele será no futuro?

Paulo Barros: "Concordo em partes, acho que a comissão de frente começou a ganhar outros ares não comigo. Isso vem de um trabalho, que eu lembro nitidamente com a Rosa Magalhaes. A Rosa começou um processo de comissão de frente diferenciado, na verdade, acredito que eu tenha embarcado na visão dela e dei uma pirada, uma modificada pro lado do espetáculo. Pra mim, a comissão de frente hoje virou um problema, e pro futuro não sei como será".

- Qual o desfile marcante que você viu e fala esse eu gostaria de ter feito?

Paulo Barros: "Todos os desfiles que eu vejo eu gostaria de ter feito. Porque tenho uma análise critica, minha visão artística, e cada um deles eu faria do meu jeito".

- Você em uma entrevista antiga falou que gostaria de ter feito o enredo do Iogurte. Todo o enredo é carnavalizável?

Paulo Barros: "Verdade. Adoraria tirar leite de pedra. Olha, acho que o enredo depende da solução, qualquer enredo que é apresentado, logicamente te traz dificuldades, outros facilidades. Nem todo tema é fácil de ser resolvido, mas todo tema é capaz de ser realizado".

- Você gostaria que você criado o quesito surpresa, inovação ou criatividade? Mudaria ou daria um peso maior para outros quesitos que já existem?

Paulo Barros: "Não. Tiraria até alguns. Acho que uma escola não pode ser julgada por um quesito onde o julgador olha para uma ala e diz que 10, 15, 20 pessoas não estão cantando. Isso pra mim é um absurdo".

- Para fechar: nós fizemos um entrevistão com o presidente Fernando Horta. Ele disse que é seu amigo, que te considera um grande artista do carnaval e que um dia você pode voltar para Tijuca. Essa relação de amor do tijucano com você te emociona? Um dia você volta?

Paulo Barros: "Qual a minha relação com a Unidos da Tijuca? Toda vez que vou à quadra da Tijuca, ou se tiver que ir ao barracão, ou a qualquer lugar que envolva a Tijuca, eu sempre estarei me sentindo em casa. Foi uma relação de começo, meu primeiro passo no Grupo Especial foi na Unidos da Tijuca. Então vou dizer para você que sou um torcedor da Tijuca? Sou e não sou! Hoje sou um torcedor da Portela, mas que tenho uma relação íntima de carinho, proximidade, afeição, amizade com a Unidos da Tijuca sem dúvida nenhuma".


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