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domingo, 17 de janeiro de 2016

Portela futurista e hollywoodiana

Com Paulo Barros como carnavalesco, azul e branca promete uma estética moderna para honrar a tradição de inovar na Avenida
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Uma espiadinha no barracão da Portela elimina qualquer dúvida: com Paulo Barros como carnavalesco, o próximo desfile da azul e branca terá uma estética que pouco lembrará as folias passadas. Na escola que se orgulha de ter a velha guarda como sentinela, o estilo arrojado do artista vai se impor. Não faltarão surpresas para o público e referências a Hollywood. Mas tanto portelenses quanto Paulo Barros fazem questão de dizer: não há contradição alguma nessa mistura de modernidade com os fundamentos do samba que a escola sempre prezou. Afinal de contas, lembram, faz parte também da tradição da Portela ousar, inovar e se transformar.
Águia será mantida
Algumas marcas da agremiação de Oswaldo Cruz e Madureira, claro, seguirão intocáveis. O símbolo da escola, a águia, estará lá, dessa vez conduzindo o enredo sobre as grandes viagens da história da humanidade. A velha guarda — que quando foi barrada na Avenida em 2005 causou uma das maiores comoções que a Sapucaí já viu — será a primeira ala do desfile, enquanto a Velha Guarda Show encerrará a apresentação. Tudo num contexto visual bem contemporâneo.
— Trarei meu estilo e agregarei às coisas da Portela. Vou respeitar a escola. Mas a Portela me pede um desfile competitivo. É o que farei. Estou preparando uma apresentação nos moldes a que estou acostumado. Ou seja, para tirar o cara da cadeira — diz o carnavalesco.
Num dos carros, aparecerá uma azul e branca futurista, de robôs e ETs. A inspiração é na série de TV americana “Perdidos no espaço”, da década de 1960, em que uma família viajava pelo universo a bordo de uma aeronave. Paulo Barros, fã do seriado, explica: vai representar as “viagens extremas”, só de ida. O mesmo que será mostrado numa ala que lembrará a missão programada para Marte, com o objetivo de criar uma colônia humana no planeta vermelho.


Dinossauros no estilo Spielberg
O gigante Gulliver, personagem do romance de Jonathan Swift adaptado para o cinema, também aparecerá na Avenida. E, em outra alegoria, a jornada será para o passado, ao tempo dos dinossauros. Mas com esculturas à la “Jurassic Park”, de Steven Spielberg, de reprodução tão realista quanto a do sucesso de bilheteria das telonas.
— Vamos lembrar os malucos que vão atrás desses fósseis, que procuram esses vestígios, a fim de entender o passado e explicar a nossa própria história — observa o carnavalesco.
Temática e estilo que, afirma Rogério Rodrigues, integrante da escola e pesquisador sobre cultura popular, não vão de encontro à história portelense, como muitos têm dito desde que Paulo Barros foi anunciado como carnavalesco da escola. Ele lembra que, desde os tempos do fundador Paulo da Portela, nos idos das décadas de 1920 e 1930, a agremiação foi pioneira e deu novos rumos aos desfiles.
Na lista de inovações da azul e branca, recorda ele, estão o uso de apito na bateria, a criação da comissão de frente, a introdução das alas uniformizadas de acordo com o enredo, a primeira alegoria, a utilização de espelhos nos carros e até o uso de plumas na confecção de fantasias e adereços.
— A Portela ajudou a formatar o desfile das escolas de samba por meio dessas inovações — diz Rogério.
Paulo Barros também dispara contra quem pensa na agremiação calçada apenas na tradição. Ele lembra que, nos últimos anos, a escola já vem fazendo tentativas de chegar ao campeonato com ousadias, algumas delas, diz ele, bastante modernas. E ele dá o recado.
— Contesto até a última hora da minha vida (que a Portela seja uma escola tradicional). Isso não é verdade. As pessoas de fora criaram isso, até como uma defesa para justificar que não ganhar por tanto tempo (desde 1984) não importa tanto. Tudo balela. A Portela quer, sim, vencer — diz Paulo Barros, comentando a receptividade que teve da velha guarda da escola. — Quando vim para cá, achei que eu fosse enfrentar tudo o que as pessoas falam lá fora. Mas, ao chegar, percebi que não é nada disso. A Portela está ávida por se modernizar e crescer. A velha guarda, por exemplo, é liberada desse sentimento fedorento, antigo, com cheiro de mofo. Eles são muito jovens, pensam para frente.
É justamente com esse espírito, apontando para o futuro, que o desfile da agremiação vai terminar. O enredo vai encerrar com as distâncias encurtadas pela internet, “veículo”, diz o carnavalesco, que pode levar a qualquer lugar. Será um convite, afirma, para embarcar na viagem dos sonhos de cada um. No caso de Paulo Barros e certamente de muito portelense, com destino ao título.
— Está sendo a grande viagem da minha vida. Eu cresci vendo Portela. Hoje, ser carnavalesco da escola é um pouco inacreditável. É a realização de um sonho que eu acho que sequer nunca sonhei. Mas que se realizou por conta do trabalho, da minha dedicação e da minha história. O enredo fala do que as pessoas buscam ao viajar. E isso engloba tudo, inclusive o campeonato — conclui.
Fonte: O Globo
fotos.: Ana branco - Ag. O Globo



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